Lula diz que ainda não conversou com Dilma sobre 2010
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta sexta-feira, durante café-da-manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, que nunca conversou com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre sua possível candidatura para s
Publicado 19/12/2008 14:36
Entretanto, o presidente ressaltou que é necessário que a ministra se “exponha” mais na mídia para ter maior visibilidade diante da população. “É preciso ter mais disposição de dar mais entrevistas. Assunto é o que não falta para ela falar, e conhecimento também não”, disse.
A última pesquisa CNT/Sensus, divulgada na semana passada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostrou que 50,4% da população conhecem ou já ouviram falar na ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ainda segundo a pesquisa, 43,9% votariam em Dilma Rousseff para presidente da República se ela tiver o apoio do presidente Lula. Outros 30,1% responderam que não votariam de forma alguma na ministra e 16,3% votariam se a conhecessem melhor.
Para o presidente a falta de conhecimento da população sobre a ministra Dilma não é um problema. “Ela [Dilma] é a mais preparada para ocupar o cargo. Dilma tem todo o tempo do mundo para ser conhecida aqui e lá fora. Com as inaugurações do PAC no ano que vem ela pode se tornar conhecida. Vou inaugurar 100 escolas técnicas”, completou.
Terceiro mandato descartado
O presidente também comentou sobre os boatos que circulam na mídia sobre uma eventual tentativa de buscar uma nova reeleição. Segundo Lula, não há hipótese de disputar um terceiro mandato presidencial em 2010 e também de voltar ao cargo em 2014. No início da semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou o parecer do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) recomendando o fim da reeleição para titulares dos Executivos federal, estadual e municipal. A comissão retirou do texto três PECs (propostas de emenda constitucional) que abriam brecha para reeleições sucessivas do chefe do Poder Executivo.
“Todo mundo quer ser presidente. Dizem que envelhece, é espinhoso, deixa o cabelo branco, mas todo mundo quer. E quem está aqui não quer sair. Não trabalho com a idéia absurda que alguns companheiros falam de voltar em 2014. Juscelino (ex-presidente Juscelino Kubitschek) achou que voltava e não voltou”, disse Lula. Segundo ele, ex-presidente não deve dar palpites. “Ex-presidente deve ficar calado. Só falar quando for chamado. Todo ex-presidente tem muito telhado de vidro”, afirmou.
Lula descartou ainda a possibilidade de se candidatar a senador da República. “O presidente tem que ter a noção exata do cargo que exerceu. Não pode ficar por aí disputando cargo. Não voltarei ao Parlamento”, disse.
Perguntado sobre as recentes pesquisas que apontam recorde de aprovação ao seu governo, o presidente disse que é “sensível”, mas que “não se deixa seduzir” pelos índices de popularidade que conquistou. “Sou uma pessoa sensível, mas não me deixo seduzir, porque quem sobe pode cair. Como não posso passar de 100%, a tendência será de cair. Mas eu não deixo o ego subir. Porque se eu deixar subir, quando cair pode bater o desespero”, disse.
Disputas na Câmara e Senado
O presidente também comentou sobre a disputa para as presidências do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Lula lamentou que ainda haja indefinição na sucessão da presidência das duas casas legislativas. “Pensei que o jogo estava definido com o companheiro Tião [Viana (PT-AC)] no Senado e o deputado Michel Temer (PMDB) na Câmara”, disse.
Na última semana, a bancada do PMDB no Senado lançou o nome do atual presidente, senador Garibaldi Alves (RN), à reeleição, a revelia da expectativa de que, tendo lançado Temer na Câmara, o comando do Senado ficaria com o PT.
Sobre a candidatura de Garibaldi, Lula afirmou ter dúvidas sobre a legalidade do processo. Isso porque a Constituição Federal impediria que o presidente assumisse a presidência em mandatos subseqüentes. “Conversei com vários juristas. Isso [a reeleição] não pode acontecer legalmente”, avaliou Lula.
Mesmo reconhecendo a indefinição, Lula ressaltou ser necessário que os eleitos tenham a ‘respeitabilidade’ e a ‘credibilidade’ de seus liderados e alertou para o cuidado necessário para resolver os impasses entre as maiores bancadas das duas Casas, para que não terminem com a eleição de “um novo Severino”. “Não podemos incorrer no erro do passado quando o resultado da falta de bom senso foi a eleição de Severino”, avaliou o presidente, se referindo a eleição do então deputado Severino Cavalcanti, em 2005, que sete meses depois renunciou à presidência e ao mandato. Eleito pelo chamado baixo clero, Severino era acusado de receber dinheiro de um dono de restaurante instalado na Casa para favorecer seus negócios.
América Latina
Ao comentar a relação do Brasil com as nações latino-americanas, o presidente disse aos jornalistas que o Brasil não pode “se estressar” com países vizinhos como Equador, Paraguai e Bolívia. Ao comentar a decisão anunciada, mês passado, do presidente equatoriano Rafael Correa de suspender pagamento de uma dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Lula disse que “mantém uma boa relação com ele” e que “o impasse já foi solucionado.
Lula disse esperar que, até o dia 29 deste mês, o Equador pague uma nova parcela da dívida. Ele disse ter “certeza” de que, tanto neste caso com o Equador quanto nas reclamações do governo paraguaio e o desejo de aumentar o valor da energia de Itaipu que o Paraguai tem direito e que repassa, o Brasil tem razão. O presidente relatou que encontrou nesta semana na Costa do Sauípe, na Bahia, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que disse que pretende manter boas relações com os Estados Unidos. “Espero que o (Barack) Obama tenha ouvidos”, disse.
Lula demonstrou que o trabalho do governo brasileiro de intermediar as relações entre países latino-americanos com os Estados Unidos está em “um momento de mais facilidade.” Ele disse, por exemplo, que ontem foi até surpreendido com a proposta apresentada pelo presidente cubano Raúl Castro, de trocar presos políticos em Havana por cinco agentes do serviço de inteligência de Cuba detidos em Miami há dez anos por espionagem. “Quem fez a pergunta arrancou uma novidade”, disse. “Obama vai ter um papel de ajudar a América Latina, até para evitar a imigração”, disse.
Lula afirmou que o Obama deve agir em três frentes rapidamente, “para não ser engolido pela máquina.” A primeira delas seria ajudar os países da América Latina, porque “se eles crescerem haverá mais emprego e com isso diminuirá a migração para os Estados Unidos.” Outra frente seria mudar a política com o Oriente Médio. Para o presidente, “do jeito que está, nunca haverá paz”. Isto porque, segundo ele, “o Hamas não senta na mesa de negociações, e por isso nunca vai obedecer o que for acordado.” A terceira frente seria apoiar o crescimento no mundo. Para Lula, os Estados Unidos deveriam ajudar todos a crescerem, “porque assim diminuirá a pressão contra eles.”
Questionado sobre em quem jogaria os sapatos, numa referência ao episódio em que um jornalista iraquiano atirou seus sapatos contra o presidente norte-americano, George W. Bush, Lula disse que “não daria sapatada em ninguém.” Ele acredita, porém, que a partir de agora haverá mais dificuldades para os repórteres, com a possível colocação de vidros entre os jornalistas e os entrevistados. Os seguranças, brincou, deverão exigir também sapatos mais “cheirosos e leves”, para não machucar ninguém. Lula brincou também ao dizer que acha que os entrevistados “têm direito de dar sapatada, também, em quem fizer pergunta tola.”
Da redação com agências