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Luis Nassif: Folha é apenas um retrato na parede

Curiosa a coluna do Clóvis Rossi (de 31 de dezembro) sobre Paulo Lacerda. Diz que o Brasil é o único caso em que Eliot Ness é exilado e Al Capone continua solto.


 


Por Luis Nassif

Rossi, que pratica diuturnamente o exercício da indignação, desta vez é contido. Não solta o que traz na garganta. O que levou à saída de Lacerda? Um grampo provavelmente falso, uma armação que envolveu uma revista de circulação nacional e o presidente do Supremo Tribunal Federal; uma campanha implacável de mídia, cega e surda às reclamações dos leitores.



Sua coluna não menciona o nome de Daniel Dantas, assim como outros colunistas não o fazem.Virou tabu no jornal. Dantas só aparece em algumas reportagens, o mínimo imprescindível para tentar demonstrar que o jornal é isento.



Na mesma página, o editorial da Folha diz:



“A revelação de que nem o presidente do Supremo Tribunal Federal escapou da febre de grampos, a pretexto da chamada Operação Satiagraha, selou o destino de Lacerda. Foi afastado da Abin em setembro e, agora, exonerado”.



O jornal participou diretamente da armação para derrubar Paulo Lacerda, fazendo eco a uma possível fraude, mesmo agora, quando nenhum observador minimamente informado acredita mais no tal grampo. Alguma coisa séria, muito além da falta de sensibilidade jornalística, fez o jornal perder o pulso do leitor.



Não surpreende que, ultimamente, os grandes desempenhos de jornalistas da Folha só ocorram em eventos fora do controle jornal – nas entrevistas na televisão.



Esse é o preço de se ter quebrado a espinha dorsal da redação, ter permitido que outros temas se imiscuíssem na cobertura jornalística a ponto de abandonar o lema que, nos anos 80 e 90, transformou-a no jornal mais influente do país.



Sem a visão editorial do seu Frias, restou o enquadramento da redação, para poupar Otavinho do duro exercício do discernimento. Estão todos enquadrados, cessou a pluralidade, não há mais surpresas.



A velha-jovem e provocativa Folha, também já não há. É apenas um retrato na parede.


 


Fonte: Blog de Luis Nassif