Onda de greves inglesa põe Brown numa armadilha
As greves selvagens contra o emprego de mão-de-obra estrangeira, que atingiam uma dúzia de centrais elétricas britânicas, se expandiram ainda mais na segunda-feira. Cerca de 3 mil trabalhadores, na maioria terceirizados, abandonaram o trabalho para pro
Publicado 03/02/2009 15:04
Tudo começou na Total na central de Lindsey (Lincolnshire), na quarta-feira (28), quando o grupo francês tinha acabado de anunciar que uma empresa italiana seria incumbida de um projeto de expansão no valor de 200 milhões de libras. Uma centena de trabalhadores italianos e portugueses, alojados em barcaças em Grimsby, tinha sido contratados. Cerca de 300 outros deveriam se juntar a eles dentro de um mês.
Em todo o país, os grevistas têm lembrado ao primeiro ministro Gordon Brown sua promessa, na campanha para as eleições previstas para meados de 2010: “UK jobs for British Workers” (“Empregos britânicos para trabalhadores britânicos”).
O slogan, reivindicado pelo Partido Nacional Britânico (BNP), da extrema-direita, tem sido frequentemente utilizado pelo primeiro ministro. Este foi especialmente o caso em 24 de Setembro de 2007, por ocasião da conferência do Partido Trabalhista, três meses depois que ele substituiu Tony Blair em Downing Street (sede do governo britânico).
Na época, a economia do Reino Unido funcionava a todo vapor, o desemprego não era uma preocupação. Hoje, os economistas prevêem 3 milhões de desempregados dentro de um ano (contra 1,92 milhões no final de novembro e 1,61 milhões no final de 2007), apesar da partida de centenas de milhares de pololeneses.
Segunda-feira, retornando de Davos, onde fez campanha contra o proteccionismo, Brown disse: “Eu reconheço que as pessoas estão preocupadas com seus empregos e quero que elas sejam tratadas de forma justa, tal como os seus colegas estrangeiros”, ao mesmo tempo em que julgava as greves “improdutivas”.
A Total a priori não fez nada ilegal, assinalou Peter Mandelson, o ministro do comércio. Uma diretiva européia de 1996 sobre o destacamento de trabalhadores, transoportada para a legislação britânica em 1999, permite que empresas estrangeiras tragam os seus empregados, desde que respeitem a legislação trabalhista local (salário mínimo) e que esta é uma tarefa temporária. Nada a obriga a oferecer as mesmas condições de trabalho dos britânicos, conforme exigem os sindicatos.
Desde sus posse, o primeiro ministro tem procurado defender o emprego gritânico, enquanto os conservadores o atacam em matéria de imigração. Se não era possível restringir o acesso dos europeus ao mercado de trabalho, Brown conclamou as empresas que oferecem vagas a colocar anúncios por duas semanas antes de apelar para a imigração. O governo também fechou a torneira da imigração não-européia, introduzindo um sistema de pontos que limitou o uso de trabalhadores estrangeiros a alguns raros setores. Mas a diretiva de 1996 não entrou em pauta em nenhum destes casos.
Alan Johnson, ministro da Saúde, disse que o governo iria batalhar em Bruxelas para proteger melhor os trabalhadores britânicos. Peter Mandelson descreveu a intervenção como um “enorme erro”. David Cameron, líder dos Conservadores, opoinou que o primeiro ministro nunca deveria ter usado o slogan do BNP: “Ele fez as pessoas de bobas e isso se volta contra ele. ”
Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros Português, Luís Amado, considerou “inaceitáveis” as greves britânicas e afirmou sua preocupação com “uma deriva protecionista, nacionalista, xenófoba”. O seu homólogo italiano, Franco Frattini, qualificou de “indefensável” o movimento social.
* Fonte: Le Monde