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Extrema direita religiosa ganha força em Israel

O lendário ministro israelense das Relações Exteriores Abba Eban dizia que nos países democráticos os resultados eleitorais são conhecidos depois das eleições. E o diplomata Herzl Inbar, ex-embaixador na Espanha, acrescenta: “E em Israel nem depois se

A campanha eleitoral insípida esquenta nos últimos dias só porque a diferença entre o Likud e o Kadima, partido da chefe da diplomacia, Tzipi Livni, míngua ao compasso do sucesso de Yisrael Beiteinu, o partido xenófobo de Avigdor Lieberman, que se aproxima dos 20 assentos nas pesquisas. Os prognósticos situam o Likud à frente, mas a vantagem de meia dúzia de assentos que desfrutava há apenas uma semana se reduz agora para dois ou três. E o voto dos 20% de indecisos – muita gente tapa o nariz quando lhes perguntam em quem vão votar – ainda pode provocar surpresas. Mas já não surpreende mais que Israel caminhe aceleradamente para a formação de um Estado que aplica políticas militaristas, ocupacionistas, de extrema direita e de ódio racial contra os palestinos, ironicamente, um caminho semelhante ao que a Alemanha percorreu quando o nazismo se apoderou do estado alemão.



As pesquisas indicam que nenhum dos grupos conseguirá mais de 30 lugares em um legislativo de 120. Sendo assim, o principal não será que candidato colherá mais deputados, mas que bloco obterá mais apoio: o que defende a continuação das negociações com a Autoridade Palestina – um assunto fantasma durante a campanha – ou o que rejeita essa via. O Likud e o Yisrael Beiteinu, os partidos que agrupam os colonos e os ultraortodoxos do Shas e da Unidade pela Torá e o Judaísmo, formam o segundo grupo. Superam os 65 lugares. O Kadima, os trabalhistas e o esquerdista Meretz e os partidos árabes, o primeiro. Apenas beiram os 55 lugares.



Esse é o obstáculo que se prevê insondável para Livni. Mesmo que seu partido seja o mais votado e o presidente Shimon Peres a encarregue de formar governo, é impensável que Livni busque o apoio dos partidos árabes. Por isso evita qualquer ataque a Lieberman, do qual poderá necessitar muito. Sem ele o Kadima não governará. E mesmo contando com seu apoio a aliança seria de extrema fragilidade. Netanyahu está consciente da situação. E, apesar de Lieberman lhe roubar eleitores a marcha forçada, o aspirante do Likud o trata com grande respeito para aglutinar uma maioria de deputados que bloqueie qualquer iniciativa de Livni.



Os analistas não lembram de campanha mais anódina, com menor realização de comícios, dirigida em alguns casos através da Internet, com numerosos atos em bares e dominada pela guerra de Gaza, que anulou qualquer outro assunto econômico e social. Inclusive os abundantes casos de corrupção são notas de rodapé. É essa a dinâmica política deste país que gosta de se auto-intitular um exemplo de “democracia” da regiao.



A palavra-chave da campanha é “bitajón”, (“segurança” em hebraico). E a esse respeito todos batalham para cultivar a imagem de duro. Livni se postula como a promotora do ataque a Gaza –que mataram quase 1.500 palestinos, a maioria civis e entre estes centenas de crianças e mulheres– e adverte que se chegar à chefia do Executivo responderá imediata e contundentemente a qualquer ataque de Gaza. O líder trabalhista Ehud Barak se define como um grande especialista em termos de defesa. Netanyahu e Lieberman podem prescindir de apresentar credenciais. Suas propostas para submeter sem cerimônia o “inimigo” palestino e árabe e desbaratar o programa nuclear do Irã são amplamente conhecidas.



Em todo caso, seja quem for o sucessor de Ehud Barak, suas ameaças de campanha serão temperadas. Em Washington, Barack Obama não parece tão disposto quanto George Bush a dar carta branca para que Israel continue massacrando e oprimindo o povo palestino.


 


Com informações do jornal El Pais