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Caso da brasileira atacada na Suiça está imerso em dúvidas

O pai da brasileira que diz ter sido vítima de agressões na Suíça mudou neste sábado (14) seu discurso em relação às provas da gravidez da filha que, na sexta-feira, garantiu ter. “Não sei nem onde procurar”, afirmou o pai, visivelmente abalado e dizen

O advogado abandonou pela primeira vez as críticas à polícia e afirmou hoje que sua filha está “em grave estado psicológico”. Por isso, Paula ainda não foi informada das conclusões da polícia. “Por ordens médicas, Paula ainda não sabe do laudo médico emitido pela polícia”, disse o pai. “Em qualquer circunstância, minha filha é vítima. Ou ela é vítima de graves distúrbios psicológicos, ou vítima da agressão que desde o início ela sustenta e eu não tenho motivos ainda para duvidar”, disse o pai.



Segundo o pai, Paula não sabe a versão da polícia sobre o caso por orientação médica. “Não vamos dizer nada enquanto ela estiver nesse estado”, disse. O hospital está mantendo uma enfermeira 24 horas dentro do quarto da brasileira diante de suas condições psicológicas.



A família amenizou as críticas à polícia e o pai da vítima mudou seu discurso. Ontem, Paulo Oliveira acusou a polícia de estar tentando desviar a atenção ao negar a gravidez da filha. Hoje, questionado sobre se acreditava que ela tinha sido alvo de ataques, ele disse que “minha situação de pai é cuidar da minha filha. Ela está chocada e eu também”.



Paula, de 26 anos, afirmou à polícia que havia sido vítima de um ataque na última segunda-feira (9) na periferia de Zurique. Sua versão era de que a agressão cometida por três skinheads teria lhe provocado um aborto. Na sexta-feira, a polícia apresentou seu laudo médico, concluindo que Paula não estava grávida e alertando que privilegiaria a suspeita de que teria mutilado a si própria.



Críticas e suspeitas



Depois que a polícia da Suíça emitiu laudo que desmente a gravidez da brasileira e coloca em dúvida sua versão, o consulado brasileiro na cidade suíça foi inundado por e-mails e fax de cidadãos suíços acusando autoridades, mídia e a sociedade de terem classificado o caso como ato de xenofobia.



As autoridades suíças insistiram com o governo brasileiro de que “vão até o fim” nas investigações, enquanto os jornais suíços destacaram a suposta farsa. Mas, para o Itamaraty, a decisão de pressionar os suíços por uma resposta era o que tinha de ser feito. “Os suíços querem limpar a imagem do país e nos disseram claramente que vão buscar uma solução ao caso, seja onde esteja a verdade”, afirmou a cônsul do Brasil em Zurique, Vitória Clever. Para o governo suíço, que teve seu embaixador no Brasil convocado pelo chanceler Celso Amorim, o esclarecimento do caso virou um ponto de honra.



Mas especialistas alertam que o esforço das autoridades suíças no caso também pode esconder uma situação de um mal-estar no país. Em apenas cinco anos, mais de 200 casos de ataques racistas foram registrados e Jean Ziegler, sociólogo e ex-deputado, confirma que partidos de extrema-direita estão usado o racismo como “instrumento político”.



Entre a população de Zurique, o sentimento é de que “houve uma generalização perigosa” da imagem da Suíça como um país racista. “Claro que existe racismo aqui e claro que os ataques ocorrem contra estrangeiros. Mas não se pode julgar as coisas antes dos fatos”, afirmou Hans Stumpfli, um morador de Zurique de 54 anos. “Se for confirmado que foi uma farsa, nossa imagem vai para o buraco”, afirmou Irene Zwetsh, do Conselho Brasileiro de Cultura na Suíça, entidade que promove a integração de brasileiros no país.



Alguns dos centenas de e-mails recebido pelo consulado tinham um tom agressivo. A cônsul do Brasil em Zurique, Vitória Clever, confirmou que está recebendo “toneladas” de mensagens atacando o Brasil. “Alguns nos acusam de ter dado um tratamento indevido ao caso”, afirmou. A passeata que a comunidade brasileira estava pensando em organizar para hoje foi desmobilizada.



O Brasil, porém, não é o único a passar por essa situação. Na França, uma menina judia mobilizou o país ao apresentar sinais de agressão. O incidente, mais tarde, foi desmentido por ela mesmo. Na Alemanha, uma mulher foi condenada por ter fingido em 2007 ser sido atacada por neonazistas. A cônsul Vitória Clever admite que a situação toda “é muito triste”. “Temos uma relação bilateral com a Suíça”, afirmou. Ela insiste, porém, que o Itamaraty agiu corretamente em sair em defesa da brasileira e exigir uma resposta da polícia. “Eles só deram uma resposta por causa de nossa atuação”, disse.



Com informações da Agência Estado