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Empresários: crise é pequena, mas serve para achacar trabalhadores

A revista IstoÉ desta semana publica reportagem na qual relata um recente encontro de grandes empresários brasileiros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No encontro, os empresários se mostraram muito otimistas com os dados econômicos

O movimento sindical já percebeu esta esperteza do patronato que, mesmo não tendo prejuízos, usa a crise como desculpa para atacar o bolso dos trabalhadores. Uma série de manifestações sindicais estão ocorrendo no Brasil exigindo que empregos e direitos trabalhistas sejam preservados.



Nesta sexta (13), o próprio presidente Lula denunciou a pressa de alguns empresários que estão jogando os custos da crise nas costas dos trabalhadores. O presidente disse, em Recife (PE), que alguns setores da economia exageraram nas demissões em novembro e dezembro. Citou em particular a indústria automobilística, área em que “quase todas as empresas estão muito capitalizadas.” “Todos ganharam muito dinheiro no ano de 2008. Então, não era possível que no primeiro mês depois da quebra dos bancos americanos mandassem trabalhadores embora”, afirmou Lula.



veja abaixo a íntegra da reportagem da IstoÉ:




Sinais de retomada
Governo ouve relato positivo dos maiores empresários do País e indicadores de janeiro afastam perigo de recessão da economia


 


O que antes era apenas intuição de uma corrente otimista de economistas e empresários começa a se transformar em certeza estatística. Levantamentos preliminares de entidades industriais e centros de pesquisa indicam que o desempenho da economia brasileira em janeiro será muito melhor do que se esperava. Confirma-se, aos poucos, que o País desfruta de condições especiais para enfrentar a crise. E a equipe econômica já está trabalhando com os números positivos. Ao sair de uma audiência com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na quinta-feira 12, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto, mostrou-se impressionado com os resultados da indústria automobilística nos primeiros 11 dias de fevereiro, comparados ao mesmo período de janeiro – quando a produção subiu 92,7%. Segundo ele, os dados preliminares apontam para a estabilização do setor. ''Nós vínhamos em queda livre até dezembro e o processo agora, ao que parece, se acomoda e acredito que possa dar margem a uma certa recuperação'', afirmou. Na mesma toada, o economista Francisco Pessoa, da consultoria LCA, descarta a possibilidade de a economia entrar em recessão no primeiro trimestre. ''Imaginar um primeiro trimestre de crescimento não é nenhum absurdo.''


 


As boas novas, por sinal, já chegaram ao Palácio do Planalto. No final da tarde da segunda-feira 9, o presidente Lula recebeu 22 empresários, reunidos pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, hoje presidente do Instituto Nacional de Altos Estudos. Estavam presentes nomes de peso, como Jorge Gerdau, Luiz Fernando Furlan, Sérgio Andrade e Emílio Odebrecht. Pelo governo, participaram, além de Lula, os ministros Guido Mantega, da Fazenda, Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Dilma Rousseff, da Casa Civil, e Sergio Rezende, da Ciência e Tecnologia. A reunião aconteceu das 18 horas às 21 horas, e os empresários fizeram relatos setoriais, em sua maioria positivos. Reis Velloso leu um documento que elaborou a partir das consultas que fez aos 50 principais empresários do País. Apresentou uma estratégia de defesa contra os efeitos da crise internacional e também uma estratégia de ataque, na qual apontou os procedimentos que vão permitir ao País sair bem da crise. O receituário incluiu investimentos públicos, redução dos gastos correntes, mais recursos para a exploração do pré-sal e a flexibilização das leis trabalhistas. O presidente gostou do que ouviu e informou que vai incorporar as sugestões do documento. Pediu aos ilustres convidados, porém, que mantivessem absoluta reserva sobre o teor da reunião.


 


Velloso manteve o voto de silêncio. E somente revelou à ISTOÉ que fizera contato com a Presidência sobre os estudos do Fórum Nacional, até que foi surpreendido com a audiência marcada com urgência na tarde da sexta-feira 6. Pôs todo seu pessoal de plantão no sábado para convocar os empresários, escolhidos a dedo. Mas a pressa do Planalto tem razão de ser. Afinal, diante da reviravolta nas expectativas empresariais, faz-se necessário acompanhar a economia com sintonia fina, e nada melhor, nesse sentido, do que o testemunho de quem está com a mão na massa. Não param de surgir dados positivos. Segundo o Sinalizador da Produção Industrial (SPI), elaborado pela Fundação Getulio Vargas, a indústria paulista teve crescimento de 5,7% em janeiro comparado a dezembro, depois de três meses seguidos de queda. O SPI antecipa em um mês os dados do IBGE. O resultado deveu-se à reposição de estoques e ao estímulo do governo ao setor automotivo, de acordo com o economista Paulo Pichetti, coordenador da pesquisa da FGV.


 


A retomada da indústria é coerente com a fornada de informações sobre novos investimentos de grandes empresas. Os exemplos vêm dos mais variados setores. A OGX, de Eike Batista, comunicou que vai antecipar para junho a exploração na Bacia de Santos, no bloco BM-S-29, pois pretende iniciar a produção no fim de 2011. Com um caixa de R$ 7,5 bilhões, a OGX destacou US$ 2 bilhões para a exploração e mais US$ 1 bilhão para a produção. Em outra frente, confiante no poder de consumo da classe C, a Coca-Cola Brasil anunciou na quinta-feira 12 que investirá R$ 1,75 bilhão neste ano, 16,6% a mais do que em 2008. Em 2008, as vendas subiram 7% e o faturamento chegou a R$ 15 bilhões, alta de 25% sobre 2007. O presidente da Coca- Cola, Xiemar Zarazúa, acredita que o mercado brasileiro vai subir para a segunda posição no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Terceira maior empresa de telefonia móvel do País, a TIM Brasil também divulgou a compra da Intelig, um negócio de R$ 1,5 bilhão. A empresa já está investindo R$ 2,3 bilhões na construção de redes de fibra óptica.


 


Também está mudando o humor dos consumidores. O Índice de Confiança do Consumidor, elaborado pela Fecomercio-SP, mostrou alta de 6,8% em fevereiro, em relação a janeiro. Na opinião do economista Altamiro Carvalho, responsável pela pesquisa, ''os reflexos da crise devem estar menores do que se imaginava no bolso do consumidor''. Uma coisa é certa: seja nos investimentos, seja no consumo, ganham corpo os sinais de retomada da economia. E os empresários que resistem aos ventos a favor podem perder excelente oportunidade. Quem alerta é o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao criticar o ajuste exagerado de estoques: ''Atitudes excessivamente agressivas, do ponto de vista de sermos defensivos, podem exacerbar problemas desnecessariamente.'' Em palavras mais simples, para vencer a crise, a melhor defesa é o ataque.