Divulgação do PIB do 4º trimestre mostrará impactos da crise
Na próxima terça-feira, o Brasil saberá exatamente o tamanho da fatura que arcou com o a crise detonada em setembro do ano passado, com a quebra do banco americano Lehman Brohters. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o re
Publicado 08/03/2009 11:09
Qualquer que seja o tamanho da retração, porém, o Brasil terá encerrado o mais longo ciclo de expansão dos últimos 30 anos. E estará entrando na décima recessão em três décadas — além da queda nos últimos três meses do ano passado, o PIB deverá encolher no primeiro trimestre de 2009.
“O impacto da crise no Brasil foi rápido e profundo. A produção parou, o consumo despencou, os investimentos desapareceram e o desemprego deu um salto expressivo”, diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. “Do ponto de vista técnico, com dois trimestres seguidos de retração, o Brasil está em recessão”, acrescenta o Diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octávio de Barros.
Para ter uma ideia mais clara do tamanho do estrago que a crise provocou na economia brasileira, Barros anualizou a taxa de retração do PIB no último trimestre de 2008, seguindo o modelo usado em boa parte do planeta, e comparou o resultado — 9,6% de queda — com os desempenhos de 25 países. Resultado: o Brasil teve o oitavo pior desempenho, ficando atrás de seis países asiáticos — entre eles, a Tailândia, onde o PIB teve retração de 22,3%, e o Japão, com redução de 12,6% — e do México, que tombou 10,3%. Nos Estados Unidos, epicentro da crise, o PIB encolheu 6,2%. Na Zona do Euro, a economia recuou, em termos anualizados, 1,5%.
O pior é que as perspectivas não são boas. Apesar de todas as medidas adotadas pelo governo, como a redução de impostos para a compra de carros e a injeção de mais de R$ 100 bilhões no caixa dos bancos para incrementar o crédito, o nível de atividade continua no chão. Isso ficou claro na última sexta-feira, quando foram divulgados os resultados da produção industrial de janeiro. A aposta era de incremento entre 10% e 11% ante dezembro. Mas o saldo veio positivo em apenas 2,3%. Na comparação com janeiro do ano passado, o consenso era de queda de 11%. O tombo, porém, foi de 17,2%, o maior desde 1991.
“Ou seja, a reação da indústria foi decepcionante e não há sinais claros de retomada”, afirma o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero. Na avaliação de Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset Management, a economia brasileira só conseguirá sair do buraco quando houver uma melhora no quadro internacional. Essa avaliação é endossada pelo economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman. Ele ressalta que o setor industrial é mais dependente das exportações do que se imaginava. E se a demanda externa permanecer fraca, a produção levará muito mais tempo para se recuperar, ainda que o mercado doméstico mostre um certo fôlego.
Comércio menor
Para Octávio de Barros, a produção industrial fechará 2009 com retração de 3,5%, muito em função dos negócios que deixarão de ser fechados no comércio exterior. Nos seus cálculos, as exportações brasileiras vão encolher US$ 66,4 bilhões em relação a 2008 e as importações, US$ 55,6 bilhões — ou seja, a corrente de comércio do país com o mundo diminuirá US$ 122 bilhões. Os investimentos produtivos, por sua vez, vão encolher 3,4%. “Com as vendas em queda, suspendemos todos os nossos projetos de expansão em 2009”, avisa Oriovista Guimarães, presidente do Grupo Positivo, do setor de informática, bastante dependente de crédito.
Apesar do esperado aumento da renda, de 1,5%, o consumo vai capengar. Tanto que, nos dois primeiros meses deste ano, as vendas do comércio despencaram, na média, 6% segundo Luíza Helena Trajano, presidente da rede Magazine Luíza e do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). “O que vivemos é uma crise de confiança. O crédito precisa voltar rápido, as pessoas têm de retomar o consumo e as empresas, a investirem. O Brasil está em uma situação muito melhor do que a maioria do mundo. Só depende de nós”, diz.
A empresária ressalta que, apesar da parada brusca da economia, o saldo de 2008 foi muito positivo. Até setembro, o PIB crescia acima de 6% e o resultado final para o ano a ser mostrado pelo IBGE é de expansão entre 5% e 5,4% — números que não veremos de novo tão cedo.
Fonte: Correio Braziliense