A opção de Barack Obama
Em seu artigo semanal para o Portal Imirante, o professora Allan Kardec destaca a importância do incentivo à pesquisa científica.
Publicado 11/03/2009 09:13 | Editado 04/03/2020 16:48
Fui surpreendido com a iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de liberar US$ 100 bilhões para atividades em pesquisa. É um indicador positivo. Muito positivo. O gasto é previsto para dois anos, mas a grande novidade é que o gasto previsto é o maior volume de dinheiro jamais investido em um país em pesquisa científica.
E o Brasil? O Brasil continua avançando. Nunca é tarde lembrar da época em que os professores lá pelos idos de 70 e 80 eram obrigados a terem granjas, barcos pesqueiros, plantar batata ou mesmo bananeira – como bem lembra Silvio Meira em post recente. E o cara era em geral de uma área completamente diferente daquela que “ganhava para sobreviver”. Química, elétrica ou computação. Época de sufoco, arrocho, arrepio.
Não é por isso que se deve parar. Ou devemos parar. Agora mesmo, o Luiz Fernandes da FINEP é capa de uma revista especializada porque aquela instituição investirá R$ 2 bilhões em pesquisa. A ANP está envolvida com a aplicação de mais de meio bilhão de reais em pesquisas de petróleo e gás. A coisa diversificou, e o professor-pesquisador, aluno-pesquisador, o pesquisador-pesquisador têm um leque maior de possibilidades.
Há uma área, no entanto, que gostaria de enfatizar. Quase metade dos US$ 100 bilhões do Obama é para área de energias renováveis. Mais precisamente 46,8%. São quase US$ 50 bilhões só nessa área. Quanto o Brasil já não investiu nesse tipo de energia nas últimas décadas? Outro dia estava em uma palestra e lembrei à audiência a revolução que nosso país fez em termos mundiais. Hoje, por exemplo, consumimos mais etanol do que gasolina! Isso significa menos CO2, por exemplo, na atmosfera. Menos efeito estufa. Ou seja, o país que é acusado de devastar a floresta amazônica, de derrubar árvores para plantar cana e soja, é aquele que contribui efetivamente para que a poluição seja menos, para que tenhamos um ar mais limpo. Enquanto as acusações são baseadas em especulações, os dados de consumo de etanol – e portanto de menos CO2 – são reais!
Silvio Meira lembra, com irreverência, que ainda na década de 80 propôs montar uma “casa de tolerância” que “seria chamada Zona Rural… pra pagar as contas… [e tomar veuve clicquot]. Hoje, há um mercado de conhecimento e a relevância pode muito bem pagar suas contas!…” E completa “a boa notícia é que dá – cada vez mais – pra ser relevante e importante ao mesmo tempo. E será cada vez mais assim. Dá pra ver um futuro, não muito distante, onde só poderá ser importante – puramente – quem estiver concentrado no avanço do estado da arte.”
Há um mercado de conhecimento no Brasil. Há competências. Há história desse mercado, ainda que limitada há poucos anos. Que inclui cientistas, professores e as mais diversas profissões. Faço coro aos que argumentam que a crise que hoje enfrentamos seja uma crise do sistema. Cujo argumento principal caducou: a da regulação do mercado por ele mesmo.
As saídas são várias e Obama decidiu que a dos EUA será com investimento pesado em ciência e tecnologia. Supõe-se que, com esse investimento, haverá redução de custos com previdência, saúde. E obviamente, com investimento em energias limpas, esses custos serão grandemente minimizados. É uma saída. Que teremos de ficar atentos e agir, porque o Brasil tem larga experiência em energia renovável e, obviamente, terá de reforçar esse trabalho.
Allan Kardec Duailibe Barros Filho( Diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis , professor da UFMA e membro do Comitê Estadual do PCdoB/MA)