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Católicas pelo Direito a Decidir criticam padre pró-estupro

As Católicas pelo Direito a Decidir do México criticaram nesta quarta-feira (11) ''a falta de compaixão'' do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, que excomungou a mãe de uma menina de 9 anos que abortou após ficar grávida de gêmeos do

As ativistas católicas criticaram a decisão do religioso em um anúncio pago na imprensa mexicana. ''Como pode se erguer em estandarte da moral uma instituição que antepõe a proteção de criminosos, estupradores e pedófilos, à vida e à dignidade das meninas e mulheres?'', indica o comunicado.


 


A ONG mexicana defende a liberdade da mulher para decidir sobre questões sexuais e de reprodução, e, em geral, mantém uma posição crítica à hierarquia eclesiástica. Além de ter sido abusada pelo padrasto desde que tinha seis anos, a menor, segundo os médicos, corria risco de morrer caso a gravidez seguisse em frente.


 


A organização lembra que o caso cumpria as condições fixadas na lei brasileira para a prática do aborto, pois a legislação afirma que o ato pode ser praticado quando a mulher foi violentada e quando a vida da mãe corre risco.


 


Repúdio à Igreja no 8 de Março


 


Se fora do Brasil cresce o repúdio ao arcebispo, no país ele está consolidado. Durante a manifestação de mulheres realizada no domingo (8) em São Paulo, dezenas de palavras de ordem forma entoadas em prol do aborto e contra a decisão da Igreja.


 


Representantes do movimento feminista distribuíram folhetos com a foto do arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho, nos quais lembravam o tipo de aborto feito na menina foi legal e está previsto em lei, Os panfletos diziam ainda que o fato poderia ter tido um final diferente se o Estado brasileiro reconhecesse e legalizasse o aborto.


 


“Pregar sua doutrina no interior dos templos é um direito legítimo de todos os religiosos. Agora, quando um representante da Igreja Católica Apostólica Romana tenta interferir nas decisões da Justiça, ou faz essas declarações à imprensa, está claramente procurando exercer inapropriada influência pública sobre o Estado laico, construindo um discurso de intolerância e intransigência oposto à idéia de vida que alega defender”, ressalta o movimento.


 


1 milhão de abortos


 


A pesquisadora da Universidade de Campinas (Unicamp), Mariana Cestari, uma das coordenadoras da manifestação de hoje, explicou que a bandeira do movimento pela legalização do aborto expressa “uma questão de direito ao nosso corpo”.


 


“Hoje temos mais de 1 milhão de abortos provocados por ano no Brasil. É uma realidade. E criminalizar ou tratar como criminosas as mulheres que realizam abortos não significa diminuir esses números”, disse Mariana. Segundo ela, as mais prejudicadas com a criminalização do aborto são as mulheres negras e pobres, que realizam essas cirurgias de forma clandestina e em condições precárias, que podem levar à morte.


 


Na questão específica da garota de 9 anos que fez o aborto, Marina diz que é preciso refletir sobre qual a vida mais importante a se preservar: da própria menina ou dos filhos gêmeos que ela teria.


 


“Quando se defende a vida, de que vida se fala? Defende-se a vida de fetos ou de uma menina que está grávida, depois de estuprada pelo padrasto? A vida dela está pública, escancarada, excomungada. E por que o estupro não é excomungado pela Igreja? E não estamos nesse caso falando de um aborto ilegal. A posição de excomunhão foi lamentável”, afirmou.


 


Também a coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres, Rosina Conceição de Jesus, afirma que o aborto não pode ser criminalizado. “Não podemos conceber que a Igreja acabe achando que é um outro Estado e queira criminalizar nossas mulheres.”