O poder da mídia e de Chávez nas eleições de El Salvador
A eleição presidencial de El Salvador acontece neste domingo (15). A campanha eleitoral de apenas alguns dias teve o horário nobre da televisão lotado de campanhas políticas com jingles incisivos, demonstrações de apoio ardentes —
Publicado 15/03/2009 17:52
Após 20 anos no poder, a Aliança Republicana Nacionalista, conhecida como Arena, enfrenta seu primeiro verdadeiro desafio para se manter no poder, disputando com Mauricio Funes, ex-apresentador de um programa de entrevistas que é candidato do partido de esquerda FMLN.
A campanha tem sido muito disputada. Funes é popular devido a seus anos como jornalista televisivo e, por essa razão, a Arena não o ataca diretamente. Em vez disso, a aliança tem associado a FMLN, partido de ex-guerilheiros de El Salvador, a líderes latino-americanos socialistas.
Imagens de Chávez aparecem durante quase todo intervalo comercial em montagens com clipes granulados que mostram cenas de caos nas ruas e soldados camuflados. A mensagem não é sútil: se elegerem Funes como presidente, a FMLN irá ''entregar'' o país ao campo socialista.
Memória da guerra civil
O veneno, dizem analistas, se origina da Guerra Civil de 12 anos em El Salvador, quando os dois partidos estiveram em lados opostos do conflito. Durante a guerra, que terminou em 1992, os guerrilheiros da FMLN lutaram contra o Exército apoiado pelos EUA, enquanto a Arena defendia maior liberdade de ação para derrotá-los. Até hoje, o hino do partido afirma que a nação será ''o túmulo no qual os Vermelhos encontrarão seu fim''.
''A Arena e a FMLN nasceram em oposição uma à outra'', disse Alvaro Artiga, cientista político da Universidade Centro-americana. ''Essa é uma reedição do conflito''.
As propagandas de ataque parecem estar funcionando. Funes, o candidato da esquerda, começou a campanha com números de dois dígitos nas pesquisas, mas agora está em empate técnico na maioria delas com o candidato da Arena, Rodrigo Avila, ex-chefe da polícia nacional do país.
Funes afirma que a Arena está se preparando para cometer fraude no dia da eleição, neste domingo (15), transportando eleitores de países vizinhos com títulos eleitorais falsos.
Arena e a mídia
Jose Antonio de Gabriel, vice-chefe da missão da União Européia de observação da eleição, disse que o sistema eleitoral do país possuía proteções suficientes contra qualquer tentativa de fraude em grande escala. Mas o amplo apoio da Arena na mídia, seu orçamento maior e a campanha negativa contribuíram para o que ele chamou de ''ausência de um jogo equilibrado''.
Existe o medo de que a aproximação da eleição possa gerar agitação, embora ambos os partidos já tenham se submetido aos resultados das eleições nacionais e locais anteriormente.
''Se a margem for pequena, será difícil para a Frente admitir a derrota'', disse Roberto Rubio-Fabian, diretor-executivo da Funde, uma organização de pesquisa no país, se referindo à FMLN. ''Pode haver um grupo que irá dizer que isso é prova de que a democracia não funciona''.
FMLN cresce
Após o fim da guerra civil, os guerrilheiros se desmembraram e entraram na política. A FMLN – oficialmente Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional – venceu eleições municipais e ganhou assentos na Assembléia Legislativa, mas nunca a Presidência.
''Precisa ser alguém como Funes'', disse Leonel Gomez, analista político. ''Pela primeira vez, eles têm alguém que pode ser eleito. Ele não tem jeito de comandante''. A aposta em Funes tem sido ajudada pelo desgaste geral em relação às duas décadas da Arena no poder. O partido foi fundado em 1981 por Roberto d'Aubuisson, acusado de organizar esquadrões da morte durante a guerra civil.
O dinheiro dos empresários da Arena
A elite empresarial de El Savador tem sido a força e o dinheiro por trás da Arena, mas os programas sociais ajudaram o partido a ganhar quatro eleições presidenciais. Durante sua campanha, Avila entregou novas moradias, inaugurou creches e posou para fotos com candidatos em feiras de empregos.
Contudo, para um governo aliado ao empresariado, a Arena possui um desempenho medíocre. O crescimento médio anual desde 1999 ficou abaixo dos 3%, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, índice inferior aos da maioria dos países vizinhos. Mais da metade dos salvadorenhos vive em situação de pobreza, a maioria deles em bairros como La Chacra, a leste de San Salvador, com pequenas moradias de concreto, barracos de lata, violência de gangues e drogas.
Os críticos argumentam que a Arena é um partido que apóia o capitalismo e favorece os interesses de uma minoria de grandes empresários, não permitindo a concorrência. ''Os empresários usam o Estado para sua vantagem econômica'', disse Hector Dada, político de centro-esquerda conselheiro de Funes.
A cirse em El Salvador
Com a recessão mundial, restam poucas opções ao governo. Cerca de um quarto dos salvadorenhos vive nos Estados Unidos e o dinheiro enviado para sustentar suas famílias representa 18% do produto interno bruto do país.
Crimes violentos estão crescendo e o sistema legal do país é incapaz de detê-los. Ambos os candidatos prometem diversos programas de assistência aos pobres, e apesar de suas mútuas críticas pungentes, eles são muito parecidos quando o assunto é criação de empregos, previdência pública para idosos e assistência aos jovens.
Mas os críticos de Funes afirmam que ele não passa de um fantoche dos antigos guerrilheiros que ainda possuem poder na FMLN, observando que seu vice-presidente, Salvador Sanchez Ceren, costumava ser um comandante de guerrilha. Como evidência de que Chávez está enviando dinheiro para a campanha da FMLN, a oposição cita um programa no qual a Venezuela vende combustível subsidiado aos prefeitos do partido.
Tradução: Amy Traduções
Títulos do Vermelho.
Fonte: The New York Times