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Mídia distorce a causa da Pedalada Pelada, diz ativista

A mídia errou na cobertura da Pedalada Pelada, realizada no último sábado (14) pela World Naked Bike Ride (WNBR). As matérias divulgadas em jornais e portais distorceram, sobretudo, a causa dos ciclistas que se manifestaram na Avenida Paulista e em out

Na tarde desta quinta-feira (19), Pedalante — pseudônimo de um sociólogo e professor universitário — visitou a Redação do Vermelho para explicar a trajetória e as motivações de seu grupo. Segundo ele, a nudez dos participantes da Pedalada Pelada era uma forma de chamar a atenção para a luta da WNBR.


 


“Tirar a roupa na Paulista foi uma forma de dizer: ‘Nós existimos’. Uma forma de atrair a atenção para as nossas bandeiras. O que não dá é só para falar disso e esquecer a causa que defendemos.”


 


As críticas de Pedalante não excluem o Vermelho, que no domingo (15) reproduziu uma matéria da Folha de S.Paulo sobre o ato. “Os jornalões tentam deturpar o sentido da WNBR. Por que o Vermelho vai se basear nessas fontes?”, questiona. “Os nossos dados estão tão disponíveis na internet quanto os da Folha — só que com muito mais precisão, mais detalhes, fotos. A matéria publicada no Vermelho reproduziu acriticamente a ‘ditabranda’ (Folha). É vergonhoso.”


 


Para o ativista, uma cidade como São Paulo — com 17 mil quilômetros de ruas e avenidas e menos de 15 quilômetros de ciclovias fora dos parques — é planejada de modo a atender os interesses dos proprietários de automóveis. Essa lógica contradiz a própria legislação nacional. O artigo 58 do Código de Trânsito Brasileiro chega a falar na “preferência” das bicicletas “sobre os veículos automotores”, na ausência ou interdição de ciclovia, ciclofaixa ou acostamento.


 


Pedalante condena também a falta de incentivos à produção, à venda e ao uso de bicicletas, num cenário em que montadoras não param de receber benefícios, como a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados). “Lançaram até PAC para carros, com redução de impostos e tudo. Um modelo mais simples de bicicleta custa R$ 200, e 48% do valor equivale a impostos.”


 


Um veículo do proletariado


 


A bicicleta pode ser definida, historicamente, como um veículo do proletariado. Segundo Pedalente, na segunda metade do século 19 houve a experiência dos “ciclistas vermelhos”, na Primeira Internacional dos Trabalhadores, bem como os avanços na área propostos pela Comuna de Paris — que pôs um milhão de bicicletas à disposição do povo. “Quem primeiro usou a bicicleta como meio de transporte foram os trabalhadores. Os ricos se locomoviam de automóveis”, afirma Pedalante. “A esquerda esqueceu essa causa.”


 


De esquerda, por exemplo, era Márcia Regina de Andrade Prado — a ciclista de 40 anos que morreu em 14 de janeiro, ao ser atropelada por um ônibus, na Avenida Paulista. A Pedalada Pelada de sábado prestou homenagem à sua mártir. “A Márcia usava capacete vermelho, e um dia perguntei para ela o porquê. Ela falou que era uma forma de identificar a ideologia dela.”


 


A tragédia de Márcia expôs os riscos a que estão submetidos os ciclistas em São Paulo. Segundo a Pesquisa Origem e Destino, divulgada em setembro pelo Metrô, foram feitas 345 mil viagens diárias de bicicleta na cidade em 2007 — mais que o dobro das 160 mil viagens de dez anos antes.


 


“Usamos a bicicleta não só por esporte mas também como meio de transporte”, frisa Pedalante, que também cita o uso da bicicleta como instrumento direto do trabalho — “caso de entregadores de água, de pizza, de documentos…”.


 


Diferenças sociais



 
As diferenças sociais também aparecem em outro argumento do ativista. “Circulam cerca de 4 milhões de veículos em São Paulo, agravando uma poluição que mata de 12 a 20 pessoas por dia. As principais vítimas são crianças e idosos pobres — gente sem plano de saúde para se tratar dos impactos dessa poluição.”


 


Outro impacto é o congestionamento no trânsito da cidade, que quebra sucessivos recordes. Pedalante se arrisca a estimar um engarrafamento de 300 quilômetros para o final de 2009. Se nada for feito, a previsão é mais sombria: 500 quilômetros para o final de 2012. Não há mais tempo para ignorar o caos.