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Tucanos ensaiam união: "dedo no olho é para tirar cisco"

A divisão interna do PSDB representa um grande obstáculo a ser superado pela legenda para a disputa presidencial de 2010. Esta semana, os dois pré-candidatos à Presidência, Aécio Neves, governador de Minas, e José Serra, de São Paulo, atendendo recomendação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ensaiaram um discurso de unidade.

O empenho da cúpula tucana em unir o Partido chegou à Câmara Federal. Também ali, a empreitada não será fácil. O líder do partido, José Aníbal (SP), a quem recaiu a atribuição de repassar o discurso de “unidade”, protagonizou uma disputa recente pela posição de líder na Casa.

A proposta do comando nacional da legenda é para que o PSDB deixe de expor as divergências para passar à população uma imagem de união e força e garantir sucesso no projeto de retornar ao Palácio do Planalto em 2010.

A demonstração de entendimento e unidade do PSDB nesta fase de preparação da campanha presidencial de 2010, manifestada no encontro da noite desta segunda-feira (16), em Recife, entre Aécio e Serra, não é real. Ainda persistem divergências entre os dois quanto ao momento certo para se apresentar ao eleitorado como o principal nome da oposição ao governo do presidente Lula.

A tentativa de união está baseada no fato de que os dois sabem que, um sem o outro põe abaixo as perspectivas de sucesso do projeto político dos tucanos para 2010. Serra será derrotado se não tiver Aécio e o eleitorado mineiro do lado dele, assim como Aécio perderá a eleição se não contar com o eleitorado paulista e não tiver Serra do lado dele.

Em Recife, Aécio demonstrou confiança em que haverá entre ele e Serra um acordo para garantir a unidade do partido durante o processo de definição do candidato da legenda. Serra confirmou, dizendo que se for flagrado "com o dedo no olho do Aécio" podem ter certeza de que não é uma briga "mas uma tentativa de tirar um cisco do olho dele".

A preocupação da cúpula dos tucanos é de evitar que Aécio, sendo preterido na escolha do candidato do PSDB à Presidência nas eleições prévias, rompa com o PSDB para cair nos braços de outra legenda que lhe dê a chance de disputar a Presidência da República.

O tucanato de alta plumagem sabe que a unidade do partido é instrumento fundamental para enfrentar a batalha. "A nossa unidade é o instrumento de maior vigor que temos para enfrentar uma batalha que não será fácil", declarou Aécio antes do embarque para o Recife.

O PSDB viveu os últimos meses envolvido em grandes disputas internas. Primeiro foi com a insistência de Aécio em realizar as prévias partidárias, a contragosto de José Serra, favorito nas pesquisas sobre a sucessão presidencial. A disputa agravou-se com o racha na bancada federal após a reeleição de José Aníbal ao posto de líder na Câmara dos Deputados.

Em fevereiro último, 19 deputados tucanos abriram dissidência na bancada por causa da recondução de Aníbal ao cargo de líder. Liderados pelo deputado Paulo Renato Souza (SP), que queria o cargo de líder para si, o grupo divulgou manifesto no plenário da Casa informando que não obedeceria às orientações do líder reeleito pela maioria.

É nesse ambiente que Aníbal tem a missão de unir a bancada. A tarefa não será fácil, mesmo porque há demonstrações explícitas de que as feridas ainda estão abertas. Mesmo após as recomendações de FHC para por fim a dissidência, o grupo continua se reunindo à revelia de Aníbal.

Na semana passada, antes de viajar para o exterior, Paulo Renato promoveu encontro dos dissidentes, no qual incumbiu o deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP) de orientar o grupo durante as votações na Câmara.

Para garantir sua reeleição ao cargo de líder, Aníbal promoveu mudanças nas regras do Estatuto do partido na véspera do pleito. O Estatuto proibia dois mandatos consecutivos pelo mesmo líder. Foi esse o motivo do racha na bancada do PSDB na Câmara

De Brasília
Márcia Xavier
Com agências