Eleições na Turquia: governo castigado nas urnas
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) do primeiro-ministro Recep Erdogan perdeu oito por cento dos votos em relação às eleições legislativas de 2007. Para os comunistas, abriu-se a oportunidade de fazer recuar a direita aliada do imperialismo.
Publicado 05/04/2009 13:34
Apesar de ter vencido as eleições municipais com quase 39 por cento dos votos, para o AKP a votação de domingo passado teve um sabor de derrota.
Além de ter perdido oito por cento em relação às eleições legislativas de 2007, nas quais obteve 47 por cento, objetivo que o primeiro-ministro Erdogan havia definido como único admissível, o partido do governo recua nas urnas pela primeira vez desde a sua fundação, em 2001.
Nem o fato de ter conquistado mais de metade das capitais provinciais, incluindo as maiores metrópoles do país, Istambul e Ancara, serve de consolo à formação que lidera o executivo da Turquia há seis anos.
Na capital, por exemplo, o AKP perde cerca de 20 por cento dos votos em relação às últimas eleições locais. Em cidades como Izmir, Antalia e Mersion vence o Partido Republicano do Povo (CHP), que no total obteve 23,2 por cento.
Significativa foi a derrota do AKP na região Sudeste da Turquia, onde a maioria da população é curda. Ali, o Partido para uma Sociedade Democrática (DTP) – formação pró-curda que só regressou à legalidade nas últimas eleições legislativas após vários anos de afastamento imposto pelas autoridades – venceu a maioria dos municípios em disputa, incluindo a cidade de Diyarbakir, e recolheu cerca de 75 por cento dos votos, reafirmando, assim, a causa da autodeterminação contra a campanha suja praticada pelo AKP naquele território.
A estas, acrescem outras razões que reforçam o significado da perda de votos e percentagem do AKP.
Durante o período de campanha, o governo envolveu-se diretamente na promoção da sua sigla iniciando um projecto de “auxílio” às populações mais carentes do país que incluiu a distribuição de eletrodomésticos – geladeiras e televisões, por exemplo –, gêneros alimentícios, combustível e dinheiro.
Dias antes da abertura das assembleias de voto, dois opositores foram sentenciados a mais de 11 anos de prisão por terem participado nos protestos que receberam o primeiro-ministro Erdogan na cidade de Diyarbakýr, em Outubro de 2008, num claro gesto de intimidação procurando incutir entre a população o medo e o sentimento de impotência face à repressão.
Caminho aberto à luta
Reagindo aos resultados das eleições, o Partido Comunista da Turquia (TKP) considerou-os uma demonstração de que é possível forçar o AKP a recuar.
Num comunicado do seu birô politico, o TKP sublinha o fim da tendência de crescimento do Partido da Justiça e Desenvolvimento e, apesar da crescente influência social dos comunistas e das forças progressistas não se ter traduzido em votos, avalia como importante a abertura de uma oportunidade para resistir aos que amarram ainda mais a Turquia ao imperialismo, fazem recair sobre os trabalhadores as consequências da crise capitalista, executam políticas antipopulares e reprimem qualquer tipo de oposição.
O TKP alerta também para as falsas esperanças que partidos do sistema como o CHP representam – bem como os fascistas do MHP, que a nível nacional conquistaram 16,1 por cento dos votos e triunfaram na cidade de Adana – e apela à ampliação da luta contra o AKP num quadro de grande exigência que obriga os comunistas e os democratas a redobrados esforços.