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Fidel: não tememos dialogar com os Estados Unidos

O ex-presidente cubano Fidel Castro utilizou, mais uma vez, um de seus artigos para falar sobre o bloqueio dos Estados Unidos à Ilha. Em texto divulgado ontem, ele afirmou que o seu país não teme o diálogo com os Estados Unidos e elogiou o senador norte-a

Para Fidel, Lugar “caminha com os pés sobre a terra” e não teme ser chamado de “mole ou pró- socialista”. Ele afirmou ainda que “as medidas dos Estados Unidos contra Cuba, ao longo de quase meio século, constituem um fracasso total”.

“Não é necessário enfatizar o que sempre Cuba disse: não tememos dialogar com os Estados Unidos. Não precisamos tampouco do confronto para existir, como pensam alguns tontos”, escreveu Fidel, que está com 82 anos. Apesar de ter renunciado, no ano passado, ao cargo de presidente, ele mantém enorme influência na ilha que governou por 49 anos e hoje está sob comando de seu irmão caçula, Raúl.

O diálogo, segundo Fidel, “é a única forma de procurar a amizade e a paz entre os povos”. Lugar, líder republicano na comissão de Relações Exteriores do Senado, conclamou, na semana passada, o presidente Barack Obama a “reconsiderar uma política que não só não promoveu os direitos humanos e a democracia como também afeta nossos interesses políticos e de segurança”.

O senador defendeu a nomeação de um enviado especial da Casa Branca para começar conversas diretas com Havana sobre temas de interesse comum.

Leia abaixo a íntegra do artigo, escrito no último domingo e publicado ontem, nos veículos oficiais da imprensa cubana:

Reflexões do companheiro Fidel

Com os pés na terra

Enquanto no dia 2 de abril começava e terminava, em Londres, a Cúpula do G-20, a conhecida jornalista do Washington Post, Karen DeYoung, escreveu nesse influente órgão de imprensa: “O Senador Richard G. Lugar fez um apelo ao Presidente Obama para que nomeasse um enviado especial para iniciar conversações diretas com o governo comunista da ilha.

“Os quase 50 anos de embargo econômico contra Cuba ─ diz Lugar (Republicano por Indiana) ─ colocam os Estados Unidos em contradição com a opinião do resto da América Latina, da União Européia e das Nações Unidas” e “solapam nossa mais ampla segurança e interesses políticos no Hemisfério Ocidental”.

“A Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, de 17 a 19 de abril, seria uma oportunidade para que se construa um clima mais hospitaleiro para adiantar os interesses dos Estados Unidos na região, através de uma mudança em nossa atitude relativa a Cuba”.

“Lugar, o republicano mais proeminente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, ─ diz Karen DeYoung ─ está na dianteira de um amplo movimento que advoga por uma nova política que inclui a Câmara de Comércio dos EUA, outros grupos empresariais, um bom número de governos estaduais e grupos de direitos humanos. Uma maioria bi-partidarista do Congresso tem votado em repetidas ocasiões em favor de aliviar as restrições de viagens e outros contatos com Cuba, apesar de medidas fracassadas após ameaças de vetos presidenciais durante a administração Bush”.

“Lugar é co-patrocinador de um projeto de lei bi-partidarista introduzido no Senado nesta semana que porá término a todas as restrições sobre as viagens a Cuba, salvo casos de guerra ou ameaças para a saúde e a segurança”.

“Lugar disse que a nomeação de um enviado e o início de conversações diretas sobre temas como migração e tráfico de drogas ‘serviria aos interesses de segurança vitais dos Estados Unidos’… e poderia, em última instância, criar as condições para um debate significativo de temas mais litigiosos.”

O artigo de Karen não admite dúvida de que o Senador por Indiana caminha com os pés sobre a terra. Não parte de posições filantrópicas. Trabalha, como ela expressa, com “a Câmara de Comércio dos EUA e outros grupos empresariais, outros governos estaduais e grupos de direitos humanos”.

Tenho a certeza de que Richard G. Lugar não teme a bobagem de que o qualifiquem de fraco ou pró-socialista.

Se o presidente Barack Obama percorre o mundo afirmando, como o fez em seu próprio país, que é preciso investir as verbas que forem necessárias para sair da crise financeira, garantir as moradias para inumeráveis famílias, garantir o emprego aos trabalhadores norte-americanos que o estão perdendo aos milhões, colocar os serviços de saúde e uma educação de qualidade para todos os cidadãos; como isso pode ser conciliado com medidas de bloqueio para impor sua vontade a um país como Cuba?

As drogas constituem hoje um dos problemas mais graves deste hemisfério e da Europa. Na luta contra o narcotráfico e o crime organizado, estimulado no enorme mercado dos Estados Unidos, os países latino-americanos estão perdendo já quase dez mil homens cada ano, mais de duas vezes os que os Estados Unidos têm perdido na guerra no Iraque. Seu número cresce e o problema está bem longe de ser resolvido.

Esse fenômeno não existe em Cuba, vizinho geográfico próximo dos Estados Unidos. No espinhoso tema e na luta contra a emigração ilícita, os guarda-costas norte-americanos e cubanos têm estado cooperando durante longos anos. Por outro lado, nenhum norte-americano morreu como conseqüência de ações terroristas procedentes de nosso país, porque não seriam atividades toleradas.

A Revolução cubana, que nem o bloqueio nem a guerra suja conseguiram destruir, é baseada em princípios éticos e políticos; é por isso que tem sido capaz de resistir.
Não pretendo esgotar o tema. Longe disso, omito nesta reflexão o prejuízo que tem ocasionado a nosso país a atitude arrogante dos Estados Unidos contra Cuba.

Os que são capazes de analisar serenamente os acontecimentos, como é o caso do Senador de Indiana, usam um argumento irrefutável: as medidas dos Estados Unidos contra Cuba, ao longo de quase meio século, constituem um fracasso total.

Não é preciso enfatizar o que sempre Cuba tem dito: não tememos dialogar com os Estados Unidos. Também não precisamos da confrontação para existir, como alguns tolos pensam; existimos precisamente porque acreditamos em nossas idéias e nunca tememos dialogar com o adversário. É a única forma de procurar a amizade e a paz entre os povos.

Fidel Castro Ruz

5 de abril de 2009