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Vasco comemora 85 anos de histórica escolha pró-negros

Há 85 anos, em 7 de abril de 1924, a direção do clube de futebol carioca Vasco da Gama enviou um documento à associação que dirigia o futebol local na época considerado histórico para a história do futebol brasileiro, recusando-se a participar de uma a

No início da década de 1920, o futebol do então distrito federal, a Guanabara, era dirigido por uma liga que envolvia a maior parte dos clubes de futebol ativos na época.



Cinco deles, América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense, resolveram se separar da liga e criar uma associação própria. Na época, essas equipes eram consideradas, mais o Vasco da Gama, as mais importantes da Guanabara.



Porém, a condição para que o clube pudesse se filiar à recém fundada Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA) era se desfazer de seus jogadores negros. Condição rechaçada pelo Vasco da Gama, por meio de um documento que ficou conhecido na história do futebol brasileiro como “A Resposta Histórica”.



“O documento, redigido em poucos parágrafos, comunicava ao sr. Arnaldo Guinle”, presidente da AMEA, que o Vasco “preferia não fazer parte da nova entidade a ter que se submeter à exigência de eliminar de seus quadros 12 atletas, a maioria deles negros, mulatos, nordestinos ou pobres, considerados pela AMEA jogadores 'de profissão duvidosa' “, segundo relata o departamento de comunicações do Vasco em seu site oficial.



O Vasco optou por continuar disputando a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), mesmo tendo oponentes com menos capacidade técnica. Em 1923, enfrentando os cinco times, considerados pelos vascaínos como “elitistas”, o clube conquistou o campeonato sem grandes dificuldades.


Em 1924 disputou um campeonato esvaziado “contra equipes de menor expressão, sagrando-se campeão com 16 vitórias em 16 jogos”, conta o site.



“Em 1925, o Vasco foi admitido na AMEA de forma incondicional e voltou a enfrentar os 'grandes' com seus atletas negros, mulatos, nordestinos e pobres”, completa.



Leia abaixo a íntegra do documento, um marco da luta contra a discriminação social e racial no esporte brasileiro,  que a direção do Club de Regatas Vasco da Gama enviou à direção da elitista AMEA:



 


A resposta histórica


“Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos


 


As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
            
            
           
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
            
           
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
            
           
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
            
           
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
            
            
           
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
            
           
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado



(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente