A América tornou-se a nova Rússia?
Um artigo com o título extremamente provocador “A América tornou-se a nova Rússia?”, e o corajoso ponto de vista de comparação da ''oligarquia bancária'', como chama os banqueiros de Wall Street que manipulam os políticos de Washington com os ''oligarc
Publicado 23/04/2009 12:07
O autor, naturalmente, não é qualquer um. Trata-se de Simon Johnson, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atual professor da poderosa Sloan School of Management, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Tanto o professor norte-americano e prêmio Nobel de Economia Paul Krugman quanto o articulista do jornal Financial Times Martin Woolf compartilham a desabonadora crítica do autor aos banqueiros norte-americanos.
Johnson os denuncia de, após terem desempenhando papel central na criação da crise, não só não reconheceram seus prejuízos como impedem que a economia escape da dolorosa evolução descendente ao afetarem a política dos governos de Bush Jr. e Obama. Quer dizer que a América tornou-se o Kremlin. Bem… Isto todo mundo já está sabendo…
Mas Krugman e Woolf divergem muito deste choque, pois consideram que a corrupção em muitas das economias emergentes é profunda, contínua e nociva, enquanto, nos EUA, predomina a percepção de que o que é bom para Wall Street é bom para o resto do mundo!
Em seu artigo, publicado no exemplar de maio da revista Atlantic Monthly, Johnson destaca que a grave crise financeira e econômica da América ''se parece arrepiantemente'' com crises em países como a Rússia e a Argentina.
Na América, assim como no Terceiro Mundo — destaca — ''os interesses das elites empresariais, isto é, dos banqueiros no caso da América, desempenharam papel predominante na eclosão da crise com o apoio indireto do governo''.
E o mais preocupante é que agora utilizam sua influência para evitar a espécie de reforma que se faz necessária, urgentemente, para que a economia emirja do abismo. Contudo, a transformação desta América doente em Rússia — como Johnson indica em seu artigo — é excessiva e até odiosa.
Cada vez que um conceituado historiador ou economista se lembra de Marx, qualquer um compreende que a situação é crítica. As previsões políticas de Marx podem ter sido desmentidas, escreve o historiador Paul Kennedy no jornal International Herald Tribune, mas grande parte de sua análise econômica conserva seu valor.
É rigorosamente certo, por exemplo, que as mudanças tectônicas nas forças de produção têm peso maior do que qualquer comunicado de uma reunião de dois, oito ou vinte líderes. Que ironia… Os famigerados oligarcas do mundo, como eram considerados os bilionários da Rússia, possivelmente terminarão na lata de lixo da história por causa da crise da América, enquanto os banqueiros norte-americanos foram salvos graças ao poder de Washington.
Soberbos, jovens e ricos, esses barões das empresas pós-soviéticas que escaparam da estatização — para não dizer do exílio ou da prisão — durante Vladimir Putin acumulariam fortunas ainda maiores tendo como aliado o bem estar econômico dos últimos anos. Mas, em nenhum outro país do mundo foram atingidos tantos empresários, tão gravemente e tão rapidamente, quanto na Rússia dos últimos meses.
A maioria dos homens mais ricos da Rússia sofreu tal prejuízo em decorrência da crise econômica, a ponto de hoje estar impossibilitada de resgatar empréstimos nos bancos ocidentais. O desespero da oligarquia russa é de tal dimensão que um grupo de empresários, pesos pesados da indústria, chegou a ponto de realizar uma romaria ao Kremlin, em janeiro deste ano, para apresentar uma proposta até então incompreensível.
Durante sua reunião com o presidente Medvedev, os cinco oligarcas ofereceram a fusão de seus ativos patrimoniais — entre os quais estão incluídas algumas das maiores minas estratégicas de minério e fábricas da Rússia — com um grupo industrial estatal. Em troca, o governo deveria assumir suas dívidas com bancos ocidentais — que somam alguns bilhões de dólares.
Em outras palavras, propuseram voluntariamente a reversão das privatizações, exatamente daqueles que criaram a oligarquia em meados da década de 1990. Infeliz ou felizmente, para muitos oligarcas e para os bancos ocidentais que lhes concederam empréstimos, com ou sem ajuda estatal, o Kremlin, ao que tudo indica, assumirá o controle de suas empresas.