Economia dos EUA continua à beira do precipício
Autoridades e economistas atentos aos desenrolar da crise econômica global apontam limitações das medidas adotadas até agora para tentar salvar a economia norte-americana. Não há indícios de que os riscos de uma sinistra depressão estão afastados.
Publicado 23/04/2009 12:52
O presidente Barack Obama disse que o teste de resistência a que foram submetidos os 19 principais estabelecimentos financeiros do país para avaliar sua solidez e suas eventuais necessidades está quase concluído, mas encaixou a ressalva de que a situação é crítica. “Estou certo de que teremos algo mais a dizer nos próximos dias”, afirmou, ao fim da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, destacando que “a situação da economia ainda é difícil”. “Ainda há uma contração do crédito e os bancos não estão emprestando em seus níveis anteriores”, explicou.
Os primeiros indicadores econômicos de abril publicados nos Estados Unidos não foram tão ruins como os dos meses anteriores, o que poderia ser um indício de que a situação vai melhorar logo. Mas nem Obama aposta nessa possibilidade. “Os Estados Unidos não estão a salvo”, disse ele. No mesmo sentido, o principal assessor econômico de Obama, Lawrence Summers, afirmou que a economia ainda corre riscos importantes, apesar dos sinais positivos.
Juros abusivos dos cartões de crédito
Ele recomendou prudência. “Devemos ser prudentes, já que o caminho da recuperação é longo, persistem riscos importantes e devemos estar prontos para enfrentar os imprevistos”, afirmou Summers ao canal de TV NBC. “A evolução da economia é, como já disse, mais contrastada, mas é verdade também que devemos ser prudentes, já que o caminho da recuperação é longo, riscos importantes persistem e devemos estar preparados para enfrentar imprevistos”, afirmou.
Summers também disse que Obama tem planos de apoiar congressistas democratas que buscam meios de reprimir abusos cometidos por operadoras de cartões de crédito, acusadas de cobrar taxas de juro abusivas de consumidores insuspeitos. “Ele se concentrará, muito em breve, em uma série de questões ligadas a abusos nos cartões de crédito”, afirmou. Segundo ele, Obama está preocupado “com a forma como as pessoas são induzidas a pagar taxas de juro extraordinariamente altas que elas jamais pagariam se soubessem onde estavam se enfiando”.
Desvio de fundos públicos
O comentário de Summers vem à tona em meio a temores de que, depois de a crise das hipotecas ter desencadeado um colapso financeiro nos Estados Unidos, a economia norte-americana se depare com uma nova onda de calote de bilhões de dólares em dívidas de cartão de crédito, cujo impacto poderia ser ainda maior que o das hipotecas. Autoridades investigam denúncias de que, apesar da restrição de crédito, alguns bancos tenham elevado significativamente as taxas de juro e as tarifas dos cartões de crédito.
Outro indício de que as coisas não vão bem é a zona cinzenta que envolveu os mecanismos de ajuda aos bancos. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, defendeu no Congresso norte-americano o programa de resgate bancário no momento da divulgação de um relatório que alerta para um possível desvio de fundos públicos. As palavras de Geithner também coincidem com a publicação de um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que eleva para US$ 2,7 trilhões as perdas do setor bancário norte-americano entre 2007 e 2010, US$ 500 bilhões a mais do que o estimado em janeiro passado.
Incremento no potencial de lucros
Geithner, que respondeu a uma bateria de perguntas sobre o programa de investimento público-privado para sanear os balanços bancários de ativos podres, declarou que o citado plano alcança um “equilíbrio desejado”. Entretanto, o inspetor geral do Programa de Socorro a Ativos Depreciados (Tarp, em inglês), Neil Barofsky, disse que o plano do Tesouro para eliminar os ativos tóxicos dos bancos é suscetível a fraudes e abusos. Barofsky ressaltou que são necessárias regras mais estritas contra possíveis conflitos de interesse.
O inspetor indicou que as subvenções aos investimentos público-privados para a aquisição de ativos podres podem fazer com que os contribuintes norte-americanos sofram perdas maiores sem que haja incremento no potencial de lucros. Além disso, o relatório de Barofsky indica que o Tarp abriu 20 investigações preliminares ligadas ao programa de resgate de US$ 700 bilhões. As investigações vão desde fraude nos investimentos do programa até uso de informação privilegiada e corrupção pública.
Novos e inesperados choques
Outra voz forte que alerta para a fragilidade das medidas tomadas até agora é do professor de economia Nouriel Roubini, que “previu” a atual crise financeira. Segundo ele, a recente valorização das bolsas não é sustentável e a economia dos Estados Unidos continua “perdendo vigor” “Não há uma verdadeira recuperação”, sustentou Roubini numa conferência em Hong-Kong. “Há, apenas, um movimento que é gerado por movimentações oportunistas”, disse.
O conhecido guru da Universidade de Nova York diz que a economia norte-americana não voltará a crescer antes de 2010 e prevê que este ano possa contrair-se mais de 2%. O desemprego continuará a subir até aos 11%. Quanto à recente euforia bolsista, Roubini não tem dúvidas de que “não é sustentável” e acrescenta que os “mercados” vão testar novamente os mínimos registrados em março. O economista sustenta que a situação do sistema financeiro ainda é muito tenebrosa e alerta para o surgimento de “novos e inesperados choques” por parte da banca.
Com agências