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Desemprego avança no Brasil e castiga mais os jovens

As estatísticas divulgadas nesta sexta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) devem ser lidas como um sinal de alerta para os sindicalistas. O desemprego continua avançando e deteriorando o mercado de trabalho no Brasil.

Os jovens, especialmente os que acabam de ingressar no mercado de trabalho, constituem o segmento mais castigado. Em termos absolutos, pelo critério do IBGE (mais estreitos do que os do Dieese), o exército de desempregados somou 2,1 milhões de pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, 141 mil a mais do que em fevereiro, o que representa uma alta de 7,3%. A variação absoluta da população ocupada não foi significativa, segundo o IBGE: ficou em 21 milhões, com alta de 9 mil pessoas.


 


Tais informações são compatíveis com as divulgadas pelo Ministério do Trabalho, com base no Caged, que constatou um saldo positivo entre admissões e demissões em março. A taxa subiu em função do crescimento vegetativo da população economicamente ativa que procura vender sua força de trabalho no mercado, estimado em 1,5 milhão de jovens trabalhadores e trabalhadoras.


 


O rendimento médio real habitual do trabalhador em março foi de R$ 1.321,40, e ficou estável em relação a fevereiro. Já na comparação com março do ano passado, houve um aumento de 5%. O rendimento médio real domiciliar per capita foi de R$ 850,81, e cresceu 1,7% no mês.


 


Juventude: 21%


 


A população mais jovem é o segmento que mais sofre com o desemprego. De acordo com a Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego para a faixa etária de 16 a 24 anos subiu para 21,1% em março, a maior desde agosto de 2007. Em fevereiro, a taxa para esse grupo era de 18,9%.


 


O gerente da pesquisa mensal de emprego do IBGE, Cimar Azeredo, explica que a taxa para essa faixa da população é geralmente mais alta porque falta qualificação e experiência, dificultando a inserção no mercado de trabalho. “Com a chegada da crise e um número maior de pessoas procurando trabalho, a qualificação e a experiência vão falar ainda mais alto”, disse.


 


No que diz respeito ao desemprego segundo o nível de escolaridade, Azeredo disse que a faixa mais afetada pela crise é a de desocupados com 8 a 10 anos de estudo, ou seja, que não completaram o segundo grau. Para esse grupo, a taxa de desemprego subiu de 10,3% em fevereiro para 11,3% em março.


 


Procura e oferta


 


Azeredo disse que o aumento da taxa de desemprego em março reflete um quadro do mercado de trabalho no qual há uma demanda forte por emprego e uma geração insuficiente de vagas. “O mercado não gera postos e a procura é maior do que a oferta, o resultado dessa equação só pode ser o aumento na desocupação”, disse.


 


O número de desocupados (sem trabalho e procurando emprego) voltou ao patamar de 2 milhões nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre), o que não ocorria desde setembro de 2007. Em março de 2009, segundo a pesquisa mensal de emprego, havia 2,08 milhões de desocupados nas seis regiões, com alta de 6,7% ante março do ano passado.


 


Segundo Azeredo, um sinal preocupante em março foi a desaceleração no aumento do número de empregados com carteira assinada, que subiu 2,5% ante março de 2008, a menor variação ante igual mês de ano anterior desde agosto de 2003.


 


O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho de março, divulgado na semana passada, indicou a criação de 34 mil vagas formais no País, após saldo positivo de 9 mil postos em fevereiro. A pesquisa do IBGE, mais ampla, não se restringe ao mercado formal de trabalho, abarcando também assalariados sem carteira assinada.


 


Setores


 


A indústria foi o setor da economia mais afetado pelo aumento do desemprego em março, destacou Azeredo. A taxa de desemprego na indústria praticamente dobrou de outubro do ano passado (3,1%), mês que marcou o início dos efeitos da crise na produção industrial, para março deste ano, quando chegou a 6,1%, a maior apurada pelo instituto desde julho de 2003. Em fevereiro, a taxa de desemprego havia sido de 5,4% no setor.


 


“Há um cenário econômico que não está favorável, sobretudo para a indústria, e isso tem efeitos no mercado de trabalho”, observou Azeredo. Em março, o número de pessoas ocupadas na indústria caiu 1,5% ante fevereiro e recuou 1,2% por cento ante março do ano passado.


 


Por outro lado, as maiores expansões no número de ocupados no mês foram apuradas no grupamento de educação, saúde e administração pública, com alta de 2,0% ante fevereiro e de 3,6% ante março de 2008.


 


São Paulo


 


Principal polo concentrador da indústria brasileira, a região metropolitana de São Paulo teve 41 mil postos fechados em março, variação de 2,3% frente a fevereiro. Esse desempenho foi decisivo para que o mercado de trabalho paulista registrasse 1,045 milhão de desempregados. Desde maio de 2007, o contingente de desocupados em São Paulo não ultrapassava a marca de 1 milhão de pessoas.


 


“Todo processo do mercado se dá como um reflexo do cenário econômico. Se está em crise, vai ter reflexo. O quanto vai afetar, a gente não sabe. O que se vê é uma redução de contingente na indústria, fazendo que tenha uma taxa de desocupação mais alta, o que aponta mais dispensas”, observou Azeredo.


 


O nível de emprego com carteira assinada está em desaceleração. Na comparação com março, houve variação negativa de 0,5%. Em “Pode-se dizer que há uma desaceleração no processo de geração de empregos com carteira. Em relação a igual período no ano anterior, a taxa vinha crescendo acima de 4%”, comentou.


 


Movimento sindical


 


O avanço do desemprego ameaça as modestas conquistas obtidas pela classe trabalhadora ao longo dos últimos anos nas negociações com o patronato. A mudança do clima nas relações entre capital e trabalho já é sensível nas campanhas salariais, com o patronato aproveitando a conjuntura crítica, que deriva das próprias contradições do sistema capitalista, para impor retrocessos como a redução dos salários e a flexibilização de direitos. O mercado formal de trabalho, que vinha crescendo, agora encolhe, induzindo ao crescimento do precarização.


 


Resta ao movimento sindical a alternativa de intensificar a mobilização e as lutas em defesa do emprego, dos salários e dos direitos sociais. É imperioso que as centrais consolidem sua unidade e ampliem as pressões para que os capitalistas abram mão de parte dos seus lucros e cessem com as demissões e o Estado nacional tome medidas mais efetivas para contornar a crise e defender a economia nacional, reduzindo radicalmente a taxa básica de juros e o spread bancário, pondo fim ao superávit primário, exigindo contrapartida social (garantia de emprego) aos benefícios concedidos à iniciativa privada.


 


O Brasil precisa crescer a taxas robustas para ampliar a oferta de emprego e reduzir a taxa de desemprego que já é estruturalmente muito alta (uma das maiores do mundo). A conjuntura fortalece a necessidade de realizar, logo após o 1º de Maio, uma Marcha Emergencial em Brasília pelo Emprego, conforme propõe a CTB.