Trabalhadores comentam seus dramas e sonhos no 1º de Maio
O 1º de Maio passou com as tradicionais comemorações e atos políticos em todo o mundo. Porém, os problemas daqueles que sofrem com a exploração capitalista e com a precarização das condições de trabalho permanecem no cotidiano da nossa sociedade. No Di
Publicado 04/05/2009 21:01
Durante o ato-show promovido pela CTB, UGT e NCST, trabalhadores que compareceram em massa para assistir às apresentações de cantores famosos (como Alexandre Pires, a dupla sertaneja Victor e Léo, Lecy Brandão, Daniel e Netinho) concordavam que o momento é de união perante a crise que joga seus tentáculos sobre a classe trabalhadora.
Desejo de trabalho no Dia do Trabalhador
O show, que reuniu em torno de 200 mil trabalhadores e trabalhadoras, levou o impressor de roto-gravura, Reginaldo Souza, 45 anos, ao centro da cidade para comemorar o seu dia. Afastado da função há mais de seis anos, Reginaldo confessa que o excesso de horas extras foi crucial para o desenvolvimento das duas doenças que o mantêm afastado há tanto tempo do trabalho.
“Nos cinco anos que desempenhei a função sempre fiz muitas horas extras e eles fizeram com que eu desenvolvesse tendinite sub-espinhal e bursite, em razão do serviço pesado e dos movimentos repetitivos”, desabafa.
Souza, que divide um apartamento alugado no bairro do Tatuapé com um colega, confessa que não sabe a origem do Dia do Trabalhador e porque ele é comemorado naquela data, mas se pudesse realizar um desejo gostaria de voltar à ativa o quanto antes.
Mudança através do estudo
“Eu tenho perspectivas. Estou estudando em busca de uma vida melhor. Mas não depende só de mim, mas sim das lideranças do nosso país”, declara o cabeleireiro Vicente Rodrigues, 28 anos. Na função há mais de sete anos, Rodrigues declara que não recebe nenhum tipo de beneficio do salão onde trabalha. “A exploração é total. Não sou registrado e nem ganho qualquer tipo de benefício. Tenho plano de saúde, mas sou eu quem paga!”.
Morador do bairro da Consolação, onde divide um apartamento alugado, o cabeleireiro também é universitário, cursa Relações Internacionais e pretende se formar para mudar de profissão em busca de uma vida melhor. “Sinto falta de incentivo para crescer como profissional. Eu tenho perspectivas e corro atrás delas”, afirma, convicto e feliz, ao lado de seu companheiro José Mauro, que não convive com esse tipo de problema.
Securitário e um dos poucos que se confessaram satisfeitos profissionalmente, Mauro garante que a empresa para qual trabalha respeita todos os direitos trabalhistas. “Sou registrado e recebo todos os benefícios, além de ser filiado ao meu sindicato”, declara Mauro.
Consciência faz diferença
“O governo precisa valorizar, mas os trabalhadores também precisam se conscientizar e valorizar a profissão”. É o que declara Alexandre Luís, 26 anos, operador de telemarketing há três.
Luís, que foi ao show com a namorada para poder curtir momentos de boa música, acredita que o que falta de valorização da profissão de atendente de telemarketing é tanto por parte das empresas quanto dos empregados. “Sabemos que a função é desgastante e que os salários são baixos, acarretando uma grande rotatividade. Mas os trabalhadores também contribuem para que haja essa rotatividade, desvalorizando a profissão, que muitas vezes é vista como ‘bico’ pelos próprios trabalhadores.”
O operador de telemarketing, que também cursa faculdade de radiologia, é filiado ao sindicato da categoria, o Sintratel, e participa ativamente de todas as atividades e assembléias chamadas pela entidade.
Tempo para si
Moradora da Freguesia do Ò, Tânia Regina Gonçalves, 43 anos, empregada como doméstica há apenas um mês, negocia com sua patroa o registro em carteira. Mas o que mais incomoda Regina não é a falta de registro ou a falta de benefícios — que também não recebe —, mas, sim, a falta de respeito ao seu horário e até em dias de folgas ou feriados.
“Hoje, por exemplo, ela não queria me liberar. Gostaria de ter mais tempo para dedicar à minha filha, que reclama da minha ausência. Muitas vezes, até nos finais de semana ela quer que eu trabalhe”, lamenta. Regina revela que, muitas vezes, quando sua jornada diária de oito horas está chegando ao fim, surgem outras tarefas delegadas pela patroa.
Acompanhada da filha, a empregada doméstica gostaria que houvesse mais reconhecimento por seu serviço da parte dos empregadores. “Nossa função não é valorizada. Tudo que fazemos nunca está bom. Não recebemos benefícios e não dão importância para nossa vida pessoal, é uma exploração”, completa.
Pela luta de todos
Nesse 1º de Maio foram muitos os rostos, foram muitos os desejos. Desempregados, afastados, trabalhadores na ativa, aposentados e jovens em busca de uma oportunidade. Para aqueles que estiveram presentes ao show a crise dificulta a busca por um lugar ao sol, mas não impossibilita.
A realidade do trabalhador brasileiro ainda é precária. A taxa de desemprego ainda é alta. Os salários baixos e a precarização das condições de trabalho fazem com que a classe trabalhadora sofra com os excessos de horas extras e as condições insalubres de trabalho.
No Brasil, segundo o Dieese, a taxa de desemprego saltou para mais de 15% nas seis principais regiões metropolitanas, atingindo mais de 3 milhões de pessoas no universo pesquisado. Cerca de 1 milhão de postos de trabalho foram suprimidos desde outubro do ano passado.
A necessidade da redução da jornada sem redução de salários é clara diante da multiplicação do número de desempregados, que deve chegar a 250 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo, segundo estimativas da OIT.
A CTB, que luta pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, mais uma vez reforça suas bandeiras na defesa pelo emprego, redução da jornada de trabalho sem redução de salários e contra a exploração do capital. Neste Dia do Trabalhador, a CTB parabeniza todos os trabalhadores que compareceram em peso para as comemorações do Dia 1º de Maio e os conclama a engrossar as fileiras do movimento sindical na luta por uma sociedade igualitária e justa, que é o ideal de todos os trabalhadores no Brasil e em todo o mundo.