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BB acelera o crédito e busca agradar governo e aconistas

O Banco do Brasil quer aproveitar a relutância dos bancos privados em liberar crédito para ocupar espaço no mercado e assim atender os seus dois patrões: o governo federal, dono de 65% das ações, que pressiona o banco para que lidere o mercado na redução

Funcionário de carreira, com mais de 30 anos no banco, este paulista do interior assumiu com o compromisso de irrigar o mercado de crédito e liderar o mercado na redução dos spreads. Entre 2004 e 2008, o spread médio do BB caiu de 8,4% para 7,1%, e o volume de empréstimos saltou de R$ 88,6 bilhões para R$ 224,8 bilhões. “Vamos compensar a queda da rentabilidade com o aumento do volume de negócios”, afirmou. As primeiras ações para atender aos planos do governo já estão sendo anunciadas: na semana passada, o BB lançou um novo programa de financiamento para eletrodomésticos e nesta semana anuncia um crédito de R$ 20 milhões para a Cyrela, para a construção de 500 unidades em Sorocaba, dentro do novo programa federal Minha Casa Minha Vida.



O ministro Mantega disse que haveria mudanças, mas as metas do banco são as mesmas divulgadas no início do ano. O que muda na sua gestão?
Aldemir Bendine – As metas fazem parte de um planejamento estratégico feito no ano anterior, mas elas são extremamente flexíveis, em função do cenário macroeconômico. Se o spread cai, consequentemente a rentabilidade vai cair. O que se busca é aumentar as receitas financeiras que compensem essas quedas. Uma das coisas que o ministro focou muito quando conversamos é o destravamento do crédito. O crédito está travado no País.



Ainda está?
Bendine – Talvez os bancos públicos estejam tendo uma atuação mais decisiva neste momento de crise e os bancos privados ainda são um pouco conservadores. É por aí que passa a importância de bancos públicos sólidos e bastante fortes. Temos que buscar o aumento do volume de crédito, novos negócios. O que buscamos é ter no fim do ano um padrão de rentabilidade que atenda à expectativa do majoritário e também ao minoritário. O acionista majoritário também gosta de resultado. 70% dos nossos dividendos vão para o Tesouro.



O governo também usa o banco para fazer política econômica. Mas o minoritário só quer saber dos dividendos. Como ele vai ser atendido?
Bendine – Sempre tivemos isso e aprendemos ao longo do tempo a atender a esta aparente dicotomia que existe entre a função de política pública, de desenvolvimento, do banco como uma sociedade de economia mista versus a rentabilidade que ele tem de apresentar para o acionista minoritário. O banco conseguiu equilibrar muito bem essa equação. Tem belíssimos índices de eficiência, boas margens de rentabilidade. Nos últimos anos, o resultado recorrente saltou de R$ 1 bilhão para R$ 6 bilhões. É possível dar bons resultados e, ao mesmo tempo, executar algumas políticas públicas, como o destravamento do crédito, o apoio maior ao comércio exterior, o desenvolvimento regional sustentável e a política social, via nossa fundação.



Num cenário de aumento da inadimplência e retração da atividade econômica, há espaço para aumentar o crédito?
Bendine – Primeiro, a inadimplência não subiu tanto. Teve um ligeiro solavanco no começo do ano, mas já tende à estabilização em março ou em abril. Além disso, a nossa média é bem abaixo da média do sistema financeiro nacional. Tanto que não percebo retração da economia desse jeito. Nós vivemos uma crise de confiança, mas os dados de varejo mostram que o consumo está voltando para um bom patamar e não acredito numa retração forte. O Brasil vai ter um crescimento mais tímido, mas não vai deixar de ter um crescimento. Temos muito espaço para crescer. O crédito ainda é muito baixo no Brasil em relação ao PIB.



O Banco do Brasil está negociando a compra do Banestes e do BRB. O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, disse que não tem interesse em vender o BRB, mas o sr. afirma que as negociações continuam. É uma questão de preço?
Bendine – Não sei. Ainda não conversei com ele. Temos uma reunião marcada e o cronograma de negociação está mantido.



O presidente Lula e o ministro Mantega já disseram que o Banco do Brasil tem que voltar a ser o maior banco do País, posição que perdeu para o Itaú Unibanco no ano passado. Quando isso pode acontecer? Nos próximos meses, neste ano?
Bendine – Eu não tenho dúvida. Nós vamos buscar isso. Mas não vai ser algo feito de uma forma desenfreada. Colocar num horizonte de tempo é difícil. Até porque há possibilidade de crescimento por meio de aquisições, algo que os outros bancos também podem fazer. Somos líderes em crédito, só não somos mais em ativos. Sem dúvida, o Banco do Brasil vai voltar a ser o maior banco do País.



Fonte: Revista Dinheiro