Caravana da Anistia promove julgamentos em Uberlândia
A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça julga nesta quinta-feira (14), em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, 32 processos de ex-perseguidos políticos da região. A deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) e o ministro da Justiça Tarso Genro participarão
Publicado 13/05/2009 14:05 | Editado 04/03/2020 16:51
Criada em 2001, a Comissão é responsável por julgar os pedidos de anistia política e reparação do Estado brasileiro àqueles que foram perseguidos, torturados e mortos durante o regime militar no Brasil. Outra competência é a de registrar e divulgar fatos, personagens e a memória deste período da história nacional.
Entre os perseguidos está o do cirurgião plástico Afrânio Freitas Azevedo, atual secretário de Educação do município, responsável pela operação que mudou as feições do guerrilheiro Carlos Lamarca, em julho de 1969, no Rio de Janeiro, na clínica São João de Deus.
Militante comunista, Afrânio alterou o nariz e reduziu os sulcos da testa e face do guerrilheiro. Nessa época, ele trabalhava no Hospital Gaffrée Guinle, no Rio de Janeiro, mas passou a ser perseguido e acabou detido durante 73 dias. Hoje não fala sobre o assunto, muito menos concede entrevistas.
Além do caso de Afrânio, também será analisado o processo de quatro integrantes da família Silveira, todos moradores da região do Triângulo. Sebastião Vieira e sua mulher Maria Rodrigues Vieira foram perseguidos em razão da militância exercida pelos filhos Euler Vieira , Joana D’Arc Vieira e Marina La Paz, considerada uma das mulheres mais torturados do regime militar. Também será julgado o caso de Vanda de Sousa, irmã do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
Homenagens
Durante o julgamento, também serão homenageados dois uberlandenses que tiveram papel importante na resistência o regime militar. Um deles é dom Estevão Avellar, bispo da região do Araguaia na época de atuação da guerrilha. O outro é o cirurgião dentista Guaracy Raniero, de 85 anos, um dos dirigentes do Movimento Revolucionário 21 de Abril, uma célula brizolista criada no Triângulo. O grupo de Ranieiro foi desmantelado em 1967 com a prisão de 22 integrantes, todos de Uberlândia. Preso durante 28 meses em Juiz de Fora (Zona da Mata), fugiu para o Uruguai com a mulher. Outros integrante da mesma organização, Irto Marques dos Santos, Elias Parreira Barbosa, Romário Ribeiro Júnior, Edmo de Souza e Antonio Jerônimo de Freitas, também terão seus processos julgados hoje.
De acordo com o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, o julgamento de hoje é importante para que toda a população saiba do papel do Triângulo Mineiro na construção da democracia e que também existiram focos importantes de resistência à ditadura no interior do país. “Nossa intenção é fazer um resgate da história brasileira e do papel especial que o interior do país teve no combate ao regime militar. Muita gente desconhece a resistência que houve fora do eixo do eixo Rio, São Paulo, Belo Horizonte e sua importância”, afirma Abrão.
Outras atividades
Nesta quinta-feira (14), também será realizada a solenidade de instalação da Sessão Especial de Julgamento de requerimentos de anistia política de ex-presos e perseguidos políticos do Triângulo Mineiro. Durante o evento serão homenageados o Bispo Emérito de Uberlândia, Dom Estevão Cardoso Avelar e os perseguidos políticos mineiros.
Já na sexta-feira (15), às 10 horas, a deputada Jô Moraes participa da mesa redonda que tratará do tema: ''Tortura e Reparação – O Alcance da Lei de Anistia”.
Da redação, com informações do jornal Estado de Minas