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Oposição e CPI: entre o entusiasmo e a hesitação

Apesar de nomes da linha de frente oposicionista como Arthur Virgílio (PSDB-AM), José Agripino Maia (DEM-RN) e Sérgio Guerra (PSDB-PE) continuarem a conceder as entrevistas de praxe, onde falam em “caixa-preta” e “corrupção generalizada” na Petrobras,

Os setores da sociedade que rejeitam o projeto político representado pelo atual governo e desejam a volta ao poder do grupo articulado em torno de siglas como o PSDB e o DEM sabem que a CPI da Petrobras é a última grande tentativa de desestabilizar Lula – e o candidato petista a sua sucessão – antes das eleições de 2010. A complexidade política da CPI, no entanto, faz com que esteja ocorrendo neste momento um descompasso de, digamos, entusiasmo entre os ocupantes dos dois principais palanques (Congresso e grande mídia) normalmente utilizados pela oposição.



Enquanto, no Senado, PSDB e DEM já dão sinais de hesitação antes mesmo de os membros da CPI da Petrobras serem oficialmente indicados, na telinha e nas páginas dos jornais de maior circulação do país não cessam de surgir “fatos novos” sobre a suposta péssima administração da empresa. Fatos que, repetem editores e âncoras dos telejornais, “deverão merecer toda a atenção dos senadores”.



Repasse para ONGs: mídia em campanha



As manchetes escandalosas se sucedem. Primeiro, a Folha de São Paulo cravou que a “Petrobras gastou R$ 47 bi sem licitação em seis anos”. Uma leitura mais atenta das informações trazidas na matéria, no entanto, revela que a prática existe, na verdade, há uma década, tem amparo legal e foi criada no governo FHC por decreto presidencial, como nos mostra Leandro Fortes em excelente artigo (clique para ver).



No último domingo (24), foi a vez de O Globo anunciar que “Em um ano, Petrobras repassou R$ 609 milhões, sem licitação, para entidades”. Também nesse caso, uma leitura mais atenta leva em direção um pouco diferente da sugerida pela chamada da matéria. Os repasses diretos a entidades da sociedade civil (ONGs e OSCIPs), na verdade, somam R$ 83 milhões. A cifra de R$ 609 milhões é atingida se forem incluídos os contratos para patrocínios e financiamentos de eventos, como festas e congressos, que nem sempre são realizados em parceria com esses tipos de organização.



A chamada da matéria também afirma que “fiscalização tem falhas” na Petrobras, mas o texto revela que, segundo a empresa, todos os dados relativos aos investimentos na área social são objeto de auditoria externa. A Petrobras deve divulgar ainda no primeiro semestre os dados relativos a 2008, mas isso sequer é citado na matéria. “O Globo identificou, entre os maiores beneficiados pelos recursos, ONGs ligadas a petistas e ao MST”, diz o texto, para em seguida apresentar apenas quatro convênios, em um universo de 1.100 contratos, que foram firmados com organizações ligadas a militantes do PT ou do MST.



Para os senhores da mídia, mesmo não estando previsto como objeto de investigação no requerimento de criação da CPI elaborado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), o repasse de verbas às entidades da sociedade civil deve ser investigado. O mesmo se aplica em relação à destinação das verbas de publicidade da Petrobras. Outro foco obrigatório de investigação, dizem os editoriais, deve ser o financiamento de campanhas eleitorais pelas empresas fornecedoras da Petrobras.



Entretanto, apesar da frente única já ensaiada em torno da CPI pelos principais veículos de mídia, essa súbita volúpia investigativa esbarra na realidade. Em relação às verbas repassadas a ONGs, Oscips, festas e afins, outras investigações já estavam sendo conduzidas pela Polícia Federal e pelo Tribunal de Contas da União e, ao que tudo indica, a Petrobras não adotou nenhuma prática à margem da lei. O mesmo acontece em relação às verbas de publicidade e patrocínio cultural que, mesmo vultosas, representam uma ínfima parte dos ganhos da empresa e também são concedidas nas formas previstas em lei.



O filão das doações para campanhas



Resta o filão das empresas fornecedoras e suas doações de campanha, mas é exatamente aí que o entusiasmo dos barões da mídia colide com a apatia dos senadores demos e tucanos. Apesar de nomes da linha de frente oposicionista como Arthur Virgílio (PSDB-AM), José Agripino Maia (DEM-RN) e Sérgio Guerra (PSDB-PE) continuarem a conceder as entrevistas de praxe, onde falam em “caixa-preta” e “corrupção generalizada” na Petrobras, nos bastidores do Senado já se comenta o recuo do bloco PSDB/DEM.



No Senado, até as paredes sabem que, se forem abertas as doações de campanha dos fornecedores, aparecerão nomes de parlamentares da base governista como também da oposição. Pior, uma investigação retroativa periga revelar que durante o governo FHC alguns senadores demos e tucanos que hoje vestem o manto da honradez também tiveram relações “pouco republicanas” com a Petrobras.



Fontes de Brasília informam que já ocorreram durante o último fim-de-semana conversas entre senadores da base governista e da oposição com o intuito de “acertar os ponteiros” da CPI da Petrobras. Nessas conversas, tucanos e demos teriam sido alertados que apostar na instabilidade do governo por intermédio da criação de uma crise na Petrobras pode ter efeitos colaterais devastadores para a oposição. Isso sem falar na crescente repercussão do movimento em defesa da Petrobras que foi iniciado pelas principais organizações representativas da sociedade civil e que associa o PSDB ao desejo de privatização da maior empresa brasileira.



O rato que ruge e o papel do PMDB



Com medo de dar (mais) um tiro no pé antes do pleito de 2010, o PSDB já ensaia na CPI da Petrobras o papel do rato que ruge, com fortes declarações à imprensa e empenho moderado nos bastidores.



Curiosamente, diante desse cenário, o maior perigo para o governo parece vir do aliado PMDB. Liderado por um magoado Renan Calheiros (PMDB-AL), o partido terá maioria na CPI e pode transformar as investigações em um verdadeiro incômodo para o governo se decidir usar a ameaça da exposição negativa na mídia para pressionar o Planalto em busca de cargos e nomeações.



Dizem que, para início de conversa, o PMDB teria exigido do governo a Diretoria de Exploração e Produção da Petrobras, hoje ocupada por Guilherme Estrella, que é funcionário de carreira, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ocupa este posto desde o início do governo. Se essa informação for verdadeira, é um péssimo começo, mas não se sabe se esse pedido é mesmo um fato concreto da hesitante CPI ou apenas mais um explosivo lançado pela parte da mídia que quer ver o circo pegar fogo.



* Fonte: http://www.agenciacartamaior.com.br; intertítulos do Vermelho