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A “Nova GM”: demissões e fábricas fechadas

O presidente Barack Obama “pretende criar uma 'Nova GM'… que mantenha a linha da antiga GM”, avalia John Nichols, colunista do semanário americano The Nation. Ele denuncia que a “reestruturação” da gigante automobilística vai fechar pelo menos 20 fábric

O problema com toda a teoria de “Nixon vai à China” – baseada no cálculo que de que grandes progressos ocorrem quando um político contraria interesses para enfrentar um desafio aparentemente imbatível [como fez Richard Nixon ao visitar a China em 1972] – é que, às vezes, o gesto “ousado” é na verdade apenas mais do mesmo.



Esta é uma importante realidade para se reconhecer, no momento em que a grande mídia nos Estados Unidos começa a enaltecer a reestruturação da General Motors pela administração Obama e sua força-tarefa automobilística como uma corajosa e inovadora “nova” iniciativa para “salvar” a indústria manufatureira doméstica.
Não é.



A falência e a ação de socorro à GM são a continuação das políticas pós-industriais dos anos Clinton e Bush. Essas políticas, que incentivaram as empresas a fechar fábricas os EUA e transferir o fabrico para países estrangeiros com salários mais baixos e normas mais débeis, foram definidas por Wall Street e não pela economia real. O modelo de uma empresa americana “saudável” foi definido por especuladores, que premiavam ações de curto prazo e brutais reduções de custos, mesmo que estas estratégias tenham resultasdo na perda de milhões de empregos, no fechamento de centenas de fábricas e na desindustrialização de comunidades, regiões e estados inteiros, que já estiveram entre os mais produtivos do mundo.



Nada nessa velha maneira de fazer negócios faz sentido, e foi ela que levou ao naufrágio da GM. Após décadas fechando fábricas, demitindo trabalhadores e deslocando produção para o exterior, a empresa tem agora US$ 172,8 bilhões de dívidas.



Faria sentido uma mudança de rumo, e radical.



Mas a administração Obama não está fazendo nada radical.



Pelo contrário, ela pretende criar uma “Nova GM”… que mantenha a linha da antiga GM.



Se tudo correr de acordo com o plano, a “Nova GM” vai fechar pelo menos 20 fábricas em Michigan, Indiana, Ohio e Delaware. Outras unidades, no Tennessee e Michigan, serão colocadas em “standby”, para provável fechamento. Pelo menos 21 mil empregos de pais de família serão perdidos, com a empresa transferindo produção para novas instalações na China e outros países. Esses cortes seguem as pegadas dos fechamentos de fábricas da GM no ano passado, que custaram dezenas de milhares de empregos e quebraram comunidades ao longo de toda a região dos Grandes Lagos, justamente na hora em que a desaceleração evoluía para uma profunda recessão.



Este plano maciço de desindustrialização – com a rápida transferência para fora de trabalho que outrora era feito nos Estados Unidos – será pago pelo governo federal.
Vai custar muito caro aos contribuintes americanos a eliminação destes muitos empregos americanos – Washington já entregou US$ 20 bilhões à GM e ainda deve repassar mais US$ 30 bilhões para os cofres da empresa. “Se o investimento vai ser recuperado ainda é uma questão em aberto”, diz o New York Times.



Então, o que os contribuintes devem achar de um esquema que arrisca US$ 50 bilhões num projeto que demite trabalhadores americanos, fecha fábricas americanas e transfere trabalho para o exterior, a fim de satisfazer especuladores que que só valorizam estratégias perdedoras?



O Times sugere que temos de ficar impressionados com a coragem tipo “Nixon-vai-à-China”, que estaria sendo exibido pelo presidente e sua força-tarefa automobilística. “A empresa também terá que abandonar 21 mil trabalhadores e entre 12 e 20 fábricas, passos passos que a maioria dos analistas jamais pensou que poderiam ser dados por um presidente democrata apoiado pelos sindicatos”, diz o jornal em sua primeira página.



Poupem-nos.



É preciso muito pouca coragem para um presidente democrata ficar do lado das empresas multinacionais, tal e qual os seus antecessores democratas e republicanos fizeram.



Coragem significa quebrar padrões e fazer algo ousado, como reconhecer que os Estados Unidos precisam de um setor manufatureiro e assumir o compromisso de modernizar indústrias básicas e manter o emprego dos trabalhadores qualificados. Isto não é rejeitar a globalização. É, sim, apostar num futuro onde os EUA resolvam competir ao invés de desistir.



Um investimento de US$ 50 bilhões do governo federal para fechar 20 grandes fábricas e liquidar 21 mil postos de trabalho não é um plano para “salvar”, nem muito menos para revitalizar a manufatura deste país. É um abandono dos trabalhadores e comunidades, que acelera desindustrialização dos Estados Unidos. Ele estimula os executivos da GM – sejam eles “velhos” ou “novos” – a se preocuparem mais com o valor ações e menos com estratégias de longo prazo inteligentes.



Fonte: http://www.thenation.com