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El Salvador: Funes assume e anuncia reaproximação com Cuba

''O povo de El Salvador solicitou uma mudança e ela começa agora'', disse o novo presidente do país da América Central, Mauricio Funes, ao tomar posse, nesta segunda-feira. Defendendo a construção de uma nova nação, ''sem ódio ou rancor'', Funes anunci

''O Governo que presido, devido a seu caráter progressista e pluralista, normalizará as relações diplomáticas comerciais e culturais com todos os países da América Latina, isso significa que imediatamente serão restabelecidos os vínculos diplomáticos, comerciais e culturais com a nação irmã de Cuba'', disse Funes, em seu discurso de estréia no cargo.

O novo presidente já havia anunciado a sua intenção de normalizar relações com a ilha, quebradas há 50 anos, após a vitória da revolução liderada pelo ex-presidente cubano Fidel Castro.

Funes, da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), assumiu hoje a Presidência de El Salvador tornando-se, assim, o primeiro líder de esquerda na história do país e colocando fim a anos de Governo ininterrupto da direitista Aliança Republicana Nacionalista (Arena).

O vice-presidente cubano Esteban Lazo liderou a delegação de Cuba na cerimônia, país que pela primeira vez em meio século assistiu à posse de um presidente deste país. Lazo foi uma das autoridades mais ovacionadas pelos simpatizantes de Funes ao chegar ao local onde ocorreu a cerimônia de posse.

A solenidade contou com a presença de quase duas dezenas de líderes políticos, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, o governante mexicano Felipe Calderón, o colombiano Alvaro Uribe e todos os centro-americanos, assim como os Príncipes de Astúrias. Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, foram os grandes ausentes.

Integração, diálogo e medidas anticrise

No seu discurso de posse, Funes prometeu que seu governo será orientado pela ''sensatez e pela honradez'' e anunciou o lançamento de um ''plano global anticrise'', que consiste em um conjunto de medidas de caráter social, entre elas a criação nos próximos 18 meses de 100 mil postos de trabalho para ''estabilizar a economia e minimizar as consequências sociais''.

Ele também se comprometeu a ''renovar nossas relações'' com os Estados Unidos, ao qual, ''historicamente, estamos ligados por muitos vínculos, em particular pela presença de milhões de nossos compatriotas que lá vivem, trabalham e constroem seus sonhos''.

Funes afirmou ainda que será um ''decidido impulsionador'' da unidade regional e latino-americana porque o ''destino de El Salvador está indissoluvelmente ligado a nossos irmãos centro e sul-americanos'', que prestigiaram maciçamente a sua posse.

O novo presidente também anunciou a convocação de um ''diálogo nacional'' para definir uma estratégia que inclua um acordo sobre o emprego e a política social básica para construir seu ''novo projeto de nação''. Ele reconheceu que tem uma ''tarefa gigantesca pela frente'', ressaltando depois que ''não tem o direito de errar''.

Na noite de domingo, Funes anunciou a composição de seu novo governo, que tem vários ministros e secretários de fora dos quadros da FMLN. No total, treze ministros e seis secretários – entre eles sua esposa e primeira-dama, a brasileira Wanda Pignato – integram o Executivo de Funes, que governará o menor e mais densamente povoado país da América Central pelos próximos cinco anos.

Referências

Funes, que completa 50 anos em outubro, disse em seu discurso inaugural que, durante a campanha, buscou ''os exemplos vigorosos'' de Lula e Obama como prova de que ''líderes renovadores, em vez de serem uma ameaça, significam um caminho novo e seguro para seus povos''.

A declaração foi uma resposta à campanha encampada por seus adversários, que tentava associar Funes ao presidente da Venezuela Hugo Chávez e o colocar contra os Estados Unidos. ''O presidente Obama provou que é possível reinventar a esperança e lembro que o presidente Lula dizia que demonstrou que é possível fazer um Governo popular, democrático, com uma economia forte'', acrescentou.

Ele destacou que sua posse foi assistida por chefes de Estado ''que representam modelos e experiências diferentes'' e podem oferecer ideias para sua gestão. Mas esclareceu que sua influência somente será positiva se for possível fazer ''uma síntese do que cada um tem de melhor e, criticamente, aplicá-las'' em El Salvador.

''Os empresários têm que perder o medo da FMLN e de um governo de esquerda'', pois o desenvolvimento de El Salvador ''passa ao lado dos empresários'', disse ele, em entrevista.

Ainda em meio à campanha eleitoral salvadorenha, o presidente Lula foi citado como exemplo por Funes. Com direito a uma espécie de ''Carta ao Povo Brasileiro'' às vésperas do pleito, a propaganda de Funes foi tocada pelo marqueteiro da reeleição de Lula, João Santana.

Jornalista, famoso pelo trabalho como repórter de TV na guerra civil e sem vínculos com a luta armada, Funes filiou-se há  dois anos à FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), convertida em partido em 1992, depois de ter atuado como guerrilha na guerra civil que durou 12 anos.

Relações com o Brasil

A FMLN é aliada histórica do PT, partido da nova primeira-dama salvadorenha, a brasileira Vanda Pignato. Lula aproximou-se de Funes por conta dela e vê na troca de comando em El Salvador chance de iniciar processo de integração com a América Central nos moldes do que ocorre com os vizinhos sul-americanos.

Duas semanas atrás, Lula enviou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, a El Salvador. Ele deu dicas operacionais à equipe de Funes, sobre como funciona uma máquina de governo e como se negocia para formar uma base de apoio.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva – recebido pelos presente na posse em meio a gritos de ''Lula'', Lula'' – deve deixar El Salvador ainda nesta segunda à noite rumo à Guatemala, onde terá reunião com o presidente Álvaro Colom, para tratar projetos conjuntos na área de etanol e falar sobre a relação entre o Mercosul e o Sistema de Integração Centro-Americana (Sica).

Colom pretende discutir com Lula os mecanismos de financiamento para a aquisição de seis aviões militares da Embraer. Outro assunto na agenda será a possível participação da Petrobras em projetos de prospecção de petróleo e gás em águas profundas da Guatemala.

Na terça, Lula receberá as chaves da Cidade da Guatemala das mãos do prefeito Álvaro Enrique Arzú Yrigoyen e depois conhecerá o programa social ''Escolas Abertas'', inspirado na experiência brasileira. Depois, almoçará com Colom em um ''Refeitório Solidário'', outro dos projetos sociais desenvolvidos pelo Governo guatemalteco.

Nesse mesmo dia, o presidente viajará para Costa Rica, onde permanecerá até quarta-feira para se encontrar com o presidente Óscar Arias, naquela que será a primeira visita na história de um chefe de Estado brasileiro a esse país. O principal assunto será o fortalecimento das relações entre o Mercosul e o Sica, organismo do qual a Costa Rica assumirá a Presidência rotativa a partir de julho.

O isolamento dos EUA

A chegada de Mauricio Funes à presidência aumenta a pressão na América Latina para o fim do embargo econômico americano a Cuba. Os EUA passaram a ser o único país do continente sem relação formal com a ilha.

Dias depois da vitória de Funes, ele já havia adiantado a retomada das relações diplomáticas com os cubanos. O presidente dos EUA, Barack Obama, e seu gabinete se apressaram em dizer que nada mudaria na relação com o menor país da América Central.

Com agências