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The Nation: Hezbolá é favorito para eleição no Líbano

Cinco dias antes das eleições cruciais no Irã, no dia 12 de junho, os eleitores irão às urnas em outro país do Oriente Médio: o Líbano. O confronto é importante no Líbano, posto que dia a dia aumentam as probabilidades de o Hezbolá, partido religioso x

Assim se criaria um dilema essencial para o governo Obama: os EUA continuarão a ter contato e a dar ajuda militar a um governo libanês controlado por inimigos implacáveis de Israel?



Ano passado, num arranjo de partilha do poder coordenado pelo Catar, Arábia Saudita e Síria, o Hezbolá ganhou assentos no poder no Estado do Líbano, proporcional ao número de deputados que elegera e ao poder popular, depois que gigantescas manifestações de rua de apoio ao Hezbolá sacudiram o país.



Devem-se esperar vários tipos de interferência externa no Líbano nas próximas duas semanas – de todos os lados.



O primeiro tiro foi disparado da Alemanha, onde a revista Der Spiegel, revista semanal conservadora, publicou matéria sobre investigações do assassinato, em 2005, do ex-primeiro ministro libanês Rafik Hariri, que teriam concluído que o Hezbolá, não a Síria, seria responsável pela enorme explosão que matou Hariri, bilionário pró-ocidente com íntimas ligações com a França e a Arábia Saudita. (Um filho de Hariri, Saad Hariri, lidera a frente de partidos anti-Hezbolá que concorre às eleições de 7 de junho.)



O que há de interessante sobre o furo de Der Spiegel, se for comprovado verdadeiro, não é que absolva a Síria, mas que culpe o Hezbolá. A revista diz que a Comissão especial da ONU que investiga o caso desejava manter secretas as investigações até o final de junho, i.e., até depois das eleições. O fato de a notícia ter aparecido antes dá à matéria de Der Spiegel o ar de vazamento calculado para interferir nos resultados eleitorais. Diz a revista:




Spiegel obteve informações de fontes próximas da Comissão da ONU que investiga o caso e confirmou-as em verificação de documentos internos, que o caso Hariri está às vésperas de passar por sensacional reviravolta. Intensas investigações no Líbano apontam para nova conclusão: não os sírios, mas as forças especiais da organização libanesa xiita do Hezbolá (“Partido de Deus”) planejaram e executaram o diabólico atentado. O procurador-chefe do Tribunal, Bellemare, e seus juízes aparentemente tentaram ocultar esse novo resultado das investigações, já do conhecimento do Tribunal há cerca de um mês. O que os juízes temem?



Boa pergunta – O que os juízes temem? –, mas há outras boas perguntas: que interesse teriam os responsáveis pelo vazamento dessa conclusão supostamente super secreta? (E mais duas boas perguntas: que provas há da veracidade do que Der Spiegel publicou? E, ainda que seja conclusão não oficialmente divulgada pela ONU, quem garante que seja conclusão verdadeira?)



No Washington Times, um ex-assessor de Dick Cheney, John Hannah, atualmente empregado no Washington Institute for Near East Policy, think-tank pró-Israel, ligado aos neoconservadores de Washington, faz soar as trombetas do apocalipse:




Que ninguém duvide: uma vitória do Hezbolá implicará completa derrota dos EUA. A abertura do governo Obama em relação ao Irã não altera a evidência de que, em todo o Oriente Médio, a batalha pelo Líbano é vista como parte de luta muito mais ampla pelo poder, travada hoje entre Washington e Teeran.



O colapso formal da Revolução dos Cedros lançaria ondas de choque por toda a Região, e servirá como poderosa confirmação da ascensão do Irã e do declínio dos EUA. E daria excepcional poder ao Irã, em momento no qual Washington espera negociar um fim para o programa de armas nucleares iranianas, para o apoio do Irã ao terrorismo e para a escalada de esforços – quase sempre usando agentes do Hezbolá – que visa à subversão dos governos pró-EUA no mundo árabe, do Iraque ao Egito ao Marrocos.



Do Iraque ao Marrocos! UAU! Lembrem a Teoria do Dominó. De fato, a vitória do Hezbolá não implicará nada disso, exceto que ratificará a manifestação e a expressão democrática do desejo do povo libanês.



Se o Hezbolá vencer, será vitória marginal, por pequena diferença, e a política libanesa continuará a dançar sobre um fio de navalha, complicada pela presença de milícias armadas e senhores-da-guerra étnicos em todo o espectro político.



A visão dos EUA sobre a eleição libanesa é bem clara. Recentemente, ambos, o vice-presidente Joe Biden e a secretária de Estado Hillary Clinton fizeram visitas oficiais em grande estilo a Beirute, em campanha para fazer aumentar as chances eleitorais da coalizão liderada por Hariri. Não há dúvidas de que os países sunitas conservadores pró-EUA, como Arábia Saudita e Egito, estão derramando milhões de dólares na campanha anti-Hezbolá; e o Irã – e a Síria – fazem o mesmo, a favor do outro lado.



Seja como for, nada é tão dramático como Hannah sugere. Como diz o Jerusalem Post, o Hezbolá é e continuará a ser um poder no Líbano, ganhe ou perca as eleições:




Mesmo que o Hezbolá não ganhe a maioria nas próximas eleições, continuará a controlar o Líbano. Trata-se de maior força no Líbano, de longe; e a comunidade xiita libanesa continua crescendo. Os cristãos no Norte estão enfraquecidos; e os druzos, na região central, farão alianças com qualquer lado que favoreça seus interesses. Ninguém separará o Hezbolá de suas armas, e o grupo continuará a reforçar e a aprofundar seu controle no Líbano.



De fato, nem o poder do Hezbolá nem sua capacidade para derrubar dominós em sequência estão em disputa; o que está em disputa é sua credibilidade internacional – e a questão crucial de se os EUA (a) negociação com um governo controlado pelo Hezbolá; ou se (b) o tratarão como tratam o Hamás, que, apesar de legitimamente eleito nos territórios palestinos, foram postos em quarentena pelos EUA.



O New York Times escreveu hoje – e é verdade –, que o Hezbolá já está ganhando legitimidade:



O Hezbolá, o grupo xiita militante, já manteve contato com o FMI e a União Europeia sobre apoio financeiro continuado ao Líbano no caso de vitória eleitoral da aliança política liderada pelo grupo xiita nas eleições parlamentares de 7 de junho, segundo informaram ontem funcionários do Hezbolá.



Em Beirute, semana passada, o vice-presidente Biden dos EUA disse que o futuro apoio dos EUA, que inclui apoio militar, dependerá do resultado das eleições.



Os governos europeus não lançaram qualquer tipo de ameaça velada, e os líderes ocidentais têm demonstrado grande disposição para construir diálogos políticos com os patrocinadores do Hezbolá, Irã e Síria. O ministério das Relações Exteriores do Reino Unido disse, em março, que reestabeleceria relações com a ala política do Hezbolá.



Meu palpite: se o Hezbolá vencer, o governo Obama manifestará com finesse o desagrado que o grupo lhe inspira, levantará o nariz… e continuará a apoiar o governo libanês. Para grande consternação de John Hannah, dos neoconservadores, do lobby israelense e no novo governo de direita eleito em Israel.



Interessante, que as eleições aconteçam exatamente dois dias depois de o presidente Obama ter feito um discurso, já chamado “Discurso do Cairo”, no qual se prevê que tentará “reiniciar” as relações entre EUA e o mundo muçulmano. Ter tentado isolar o Hezbolá, no caso de o Hezbolá vencer eleições livres e legítimas, não ajudará a “reiniciar” coisa alguma, a menos que Obama planeje discursar privadamente, só para a família real da Arábia Saudita.


 


Reproduzido da emissora de teve libanesa al-Manar : http://www.almanar.com.lb/NewsSite/News.aspx?language=en . Traduzido por Caia Fittipaldi