Crise econômica mundial: saída do túnel será lenta e demorada
Aumentam os indícios sinalizando que a queda na economia mundial está atingindo seu ponto mais baixo, o que cria esperanças de recuperação. E este clima de otimismo está sendo cultivado nas últimas semanas pelas previsões dos bancos centrais e dos mega
Publicado 09/06/2009 12:21
Além disso, a tranquilidade poderá criar problemas ainda maiores para a economia. É possível que a economia chinesa esteja melhorando, as ações se recuperando, o mergulho da produção industrial sendo revertido e o mercado de imóveis nos EUA e na Grã-Bretanha revelando novos sinais de vida, mas “o maior mal para a economia mundial será considerarmos que o pior já passou”, destaca a Economist, insistindo que o estigma de preocupações continua existindo.
Conforme explica a Economist, existem duas armadilhas nas quais todos aqueles que acreditam que a crise já passou correm risco de serem presos. A mais visível — relatam os analistas da revista britânica — é o otimismo que começou a ser criado e tende a se revelar excessivo.
A armadilha menos visível, relata a revista, é os políticos permanecerem inertes e cessarem de combater a crise, porque acreditam que estamos deixando o pior para trás. “Uma coisa é o otimismo e outra a suposição de que a economia mundial está retornando a ritmos regulares, algo que minaria a recuperação e bloquearia políticas que devem ser adotadas para nos protegerem contra um novo mergulho”, adverte a Economist.
Não mostram sempre a imagem certa
Conforme tem sido comprovado, as bolsas de valores habitualmente realizam corridas pouco antes de surgirem os sinais de melhoria na economia. E isto porque os investidores apostam na vinda da recuperação, que surge com atraso nos dados dos estatisticos. Muitas corridas, tem sido comprovado, não levam a lugar algum. Entre 1929 e 1932, o Dow Jones ganhou 20% quatro vezes para, em seguida, despencar abaixo dos níveis anteriores.
Também é difícil interpretar as estatísticas da economia. As indústrias enfrentaram gigantescos estoques não vendidos por causa da queda de demanda mundial. Isto, em sintonia com o bloqueio do endividamento, teve como resultado a queda de suas produções em um ritmo maior que o da queda de demanda. Quando esgotarem seus estoques começarão a produzir novamente, e a queda na indústria será interrompida.
Mesmo que este momento esteja próximo, existem outros dois pesos sobre a indústria: a crise bancária e a explosão das dívidas nas economias onde a bolha foi criada, particularmente nos EUA e na Grã-Bretanha. O fechamento da torneira dos financiamentos atingiu seriamente a demanda, e a explosão das dívidas obriga os consumidores a aumentarem suas poupanças para resgatá-las. A história ensina que tais quedas são prolongadas, salienta a Economist, e a recuperação consequentemente enfraquecida.
Sério golpe para os emergentes
Em decorrência da crise, as economias emergentes sofreram um sério golpe, e muitas delas sustentam seu crescimento sobre as importações de capitais, que também já secaram. Não é por acaso que, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), bancos, empresas e governos do chamado mundo desenvolvido enfrentam endividamento de US$ 1,8 trilhão.
Mesmo que as economias emergentes escapem da crise buscando refúgio no endividamento, a confiança dos investidores não será recuperada antes de se passarem anos. Seria equívoco confundir os lampejos de uma economia que se encontra na unidade de terapia intensiva com uma recuperação duradoura. Uma recuperação real pressupõe não só gastos estatais mas também de consumidores e empresários. E ali, as notícias não são nada agradáveis.
Quando a produção industrial iniciar sua estabilização e as medidas de tonificação da economia surtirem efeito, a queda será eliminada nos EUA. Aliás, a economia talvez inicie seu crescimento ali e muito em breve. Mas é difícil esperar um crescimento tão forte que coloque freio no aumento do desemprego. Paralelamente, os problemas econômicos de outros países continuarão afetando as exportações provenientes dos EUA.
Tanto os gastos de consumo quanto os investimentos serão reduzidos, porque as dívidas terão de ser resgatadas e a poupança aumentada. Além disso, o alto desemprego e o aumento do número de falências poderiam criar um novo ciclo descendente. Teoricamente, a situação está melhor para países como a Alemanha, onde embora as exportações tenham sido drasticamente reduzidas, o endividamento das famílias é menor.
Mas a situação não é cor de rosa sequer ali. O desemprego aumenta na Alemanha, os gastos de consumo despencam e o governo não tem tomado medidas drásticas para aumentar a demanda nos níveis necessários. Além disso, os bancos do país têm problemas, porque operaram impensadamente. Dados do FMI mostram que os bancos europeus enfrentam perdas de US$ 1,1 trilhão.
Desemprego acima de 10% e deflação
Ao somar tudo isso, revelar-se-á que o otimismo começa a se perder. A única certeza é que o pior já passou, e a economia chegou no fundo do poço. Graças às maciças medidas fiscais e monetárias, a produção se estabilizará. Contudo, não se vislumbra no horizonte um crescimento forte. Quando o crescimento chegar de fato, será muito pequeno para deter o desemprego. E, por longos anos, as economias dependerão de seus respectivos governos.
A maior parte do mundo desenvolvido enfrentará desemprego superior a 10%, e existe grande perigo de haver deflação porque a crise reduz os preços, mas também os salários. Mesmo que a crise não piore, a maior parte do mundo continuará mergulhada na recessão.
Conforme revelou relatório do FMI de 2008, não existe perspectiva de os mercados retornarem rapidamente ao ritmo de funcionamento que registravam antes da crise, conforme fica bem claro pela explosão nas margens de desempenho (spreads).
A pior crise econômica desde a década de 1930 ainda tem longo caminho para percorrer, e deve-se envidar grandes esforços nesta direção.
Alerta de Krugman
O professor e Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman adverte — com todas as letras — que o suficiente para o mundo escapar da bancarrota não tem sido feito, e se opõe ao clima de otimismo excessivo que tende a ser criado, embora acredite que o pior já passou. Conforme disse, “a Zona do Euro e os EUA correm o risco de perderem uma década inteira de crescimento, a exemplo do que ocorreu no Japão em 1990, se os governos não tomarem novas medidas para a economia e se não ficar esclarecida a situação no sistema bancário”.
Também caracterizou como “meias medidas” as medidas econômicas até agora divulgadas, e manifestou o receio de que a ocupação, principalmente nos EUA, permanecerá estável tanto neste quanto no ano que vem. Krugman completou — soando o sinal de perigo — que é “extremamente improvável” existir recuperação econômica no curto prazo, e destacou que a corrida das bolsas de valores, que durou cerca de dois meses, foi baseada na expectativa de rápida recuperação da economia. Mas acrescentou que “o mercado parece estar esperando uma queda moderada, fato que não procede”, e voltou a pedir a tomada de novas medidas pelos governos.