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George Câmara: Em Natal, a Copa será Metropolitana

No decorrer desses últimos dois dias, percorrendo as Câmaras Municipais da Região Metropolitana de Natal numa agenda do Parlamento Comum, entre os assuntos mais debatidos estava a notícia da confirmação de nossa capital como uma das doze cidades brasileiras que sediarão a Copa do Mundo de 2014.

Arena das Dunas

Clima de festa, auto-estima elevada, orgulho de ser potiguar. Ainda mais com ABC e América disputando a série B do Campeonato Brasileiro, o futebol não deixa de ser tema obrigatório nas rodas de conversa em qualquer parte do Rio Grande do Norte.

Quanto à Copa do Mundo, com a realização de jogos por aqui certamente investimentos não faltarão. Como dotar a cidade e seu entorno de infra-estrutura adequada para tamanho desafio? Não há outro caminho: capacidade técnica para elaborar bons projetos e capacidade política na disputa dos recursos para sua execução. Aí algumas perguntas surgem: investir para elevar a quantidade e qualidade dos serviços para o evento em si, ou para a vida cotidiana da população local? Concentrar investimentos em Natal, ou descentralizar na Região Metropolitana?

Sem obras estruturantes, portanto de caráter permanente, não atenderemos satisfatoriamente nem moradores nem visitantes. Uma cidade pouco atraente para se viver, não será convidativa para se visitar. A malha viária precária, o sistema de transporte obsoleto, a coleta irregular do lixo, a rede de drenagem urbana sub-dimensionada, o elevado déficit habitacional, a cobertura insuficiente nos serviços básicos de saneamento, saúde e educação, a insegurança, a falta de opções de cultura e lazer, tudo isso incomoda moradores e afasta visitantes.

A concentração de investimentos na cidade pólo, por sua vez, vai acarretar maior concentração na oferta de equipamentos públicos e privados, em detrimento das cidades vizinhas, cujo potencial poderá ser melhor trabalhado na perspectiva da descentralização. Contribuirá, igualmente, para o surgimento de novos gargalos, causando maiores engarrafamentos no tráfego pela cidade afora. Qual a cidade que queremos? A dos congestionamentos, ou da fluidez?

Queremos o aumento das desigualdades entre Natal e os demais municípios da Região Metropolitana, ou um maior equilíbrio entre estes? Nesse contexto, quais as potencialidades e as vocações de Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Ceará-Mirim, Macaíba, São José de Mipibu, Extremoz, Nísia Floresta e Monte Alegre? As relações entre esses municípios deve ser de subordinação ou de interação?

Independente da localização do complexo esportivo já denominado “Arena das Dunas”, se no território do Município de Natal ou de outro vizinho, é evidente que toda a Região Metropolitana sofrerá impactos. Positivos, se trabalhados com inteligência e espírito público, ou mesmo negativos, se ocorrer o contrário. São as oportunidades e ameaças, aspectos diametralmente opostos cujos estudos são objeto de apreciação entre os gestores públicos e privados, atualmente.

Diversificar a destinação de investimentos e de equipamentos públicos e privados de forma a melhor distribuir oportunidades, é um caminho para a elevação de nosso grau de consciência metropolitana e espírito coletivo.

Diante de tudo isso, uma coisa é certa: considerando as dimensões físico-territoriais de Natal, não devemos contrariar a própria realidade nem “brigar” com os fatos: em qualquer cenário desses, em Natal, a Copa de 2014 será, inevitavelmente, metropolitana. Quando os moradores ou visitantes se derem conta, estarão em Jenipabu, no Município de Extremoz. Ou em Pirangi do Norte / Parnamirim ou do Sul / Nísia Floresta. Nos engenhos de Ceará-Mirim, ou no Ferreiro Torto, em Macaíba. Já que é essa a realidade, devemos nos preparar para construir a melhor alternativa para todos.

por George Câmara, petroleiro, advogado e vereador em Natal pelo PCdoB