Nouriel Roubini: O pior vem vindo
Nouriel Roubini, o economista que se tornou famoso como o homem que previu a eclosão da crise atual, esteve em Atenas, onde participou, como convidado especial, de um evento promovido pela Associação dos Formados da Harvard Business School. ''O pior ve
Publicado 09/06/2009 12:30
Ele não compartilha o ponto de vista aceito por muitos no mercado financeiro internacional, segundo o qual a crise evolui para seu fim. Conforme destaca, ''os mercados têm subestimado a duração, extensão, profundidade e gravidade da queda que já atingiu a economia norte-americana''. ''Costuma-se dizer que, quando os EUA espirram, o mundo contrai pneumonia. Só que agora os EUA mostram ter contraído… pneumonia'', diz Roubini.
Ele explica que ''os dados sobre o mercado de trabalho em outubro do ano passado, inesperadamente negativos, representaram apenas o começo de uma série de surpresas negativas, tanto nos EUA quanto em outros países''. A explosão do desemprego não é o único fato que preocupa Roubini. Até este verão, a maior fonte de preocupações era a inflação. Aquilo que o atemoriza é o contrário: a deflação.
Preço da comodities
O professor da Universidade de Nova York avalia que ''será registrada séria queda de demanda, tanto nos EUA quanto na Zona do Euro e nas economias emergentes''. E prossegue: ''A oferta aumentará verticalmente em consequência dos gigantescos investimentos realizados nos últimos anos, na China e em outros países, para fortalecer a produção. Esta equação levará à queda de preços — as commodities recuarão mais de 25% em relação aos níveis atuais''.
''Em seis meses a partir de agora, o Banco Central Europeu (BCE), o Federal Reserve (Fed) e outros bancos centrais verão a inflação em queda livre, abaixo de 2%. Assim que chegar a este nível, começa a preocupação por inflação zero ou deflação. A deflação seria catastrófica sob vários pontos de vista, pois quando os preços recuam por causa da queda de demanda, a produção se contrai. Em consequência, caem rendimentos, perdem-se empregos e realimenta-se um ciclo vicioso na economia'', diz Roubini.
Flexibilidade fiscal
''Foi o que tentou evitar, após a queda de 2001, o ex-presidente do Fed, Alan Greenspan. Ele derrubou as taxas de juros excessivamente. E é isto que os bancos centrais estão tentando fazer hoje'', afirma Roubini. ''Em todo caso, os próximos 12 meses serão particularmente difíceis, submetendo os mercados internacionais a teste. Infelizmente, em uma queda com fortes pressões deflacionárias, o desempenho recua e impulsiona um amplo espectro de mercados para baixo. Já os desempenhos das empresas norte-americanas evoluirão 20% aquém da avaliação média do mercado'', acrescenta.
Roubini também adverte que ''o sistema financeiro deverá sofrer novo choque”. “Os excessos dos anos anteriores não se limitam aos empréstimos habitacionais de alto risco (subprime). Se a queda se revelar tão séria quanto acredito, estourarão outras bolhas de crédito'', afirma.
Mas como se enfrenta uma situação tão difícil? Roubini responde: ''Com flexibilização fiscal em forma de isenções tributárias e investimentos estatais. Isto tem como consequência a criação de gigantescos déficits (Roubini estima que o déficit no orçamento dos EUA nos dois próximos anos será da ordem de US$ 1 trilhão), que criam problemas em relação ao financiamento''.
Leste Europeu
Isto poderá ser feito através de emissão de nova dívida ou da impressão de mais meio circulante. Mas Roubini atribui possibilidade zero à segunda solução. ''Se você imprimir tanto dinheiro, você cria superinflação, que é enfrentada com taxas de juros excessivamente altas que afogam a economia e criam nova queda, a exemplo do que aconteceu nos EUA no início da década de 1980'', afirma.
''O que acontece com as economias que não dispõem de margens para flexibilização fiscal, como os países do leste europeu? A crise já atingiu e sufoca os países do Báltico (Letônia, Estônia e Lituânia), Hungria, Ucrânia e já bate às portas da Bulgária. Romênia e Turquia'', questiona Roubini, para depois responder: ''Estas economias necessitarão de apoio econômico internacional imediato, especificamente por parte da Europa Ocidental'', destaca.
''Ela tem que compreender que, se eclodir uma crise no Leste Europeu, ela também terá problemas. Em muitos países desta ‘Nova Europa’ foram concedidos empréstimos habitacionais expressos em euros, francos suíços e ienes. Se as moedas nacionais dos países da região forem desvalorizadas mais de 20%, eclodirá uma gigantesca onda de calotes'', esclarece.
A informação é de Petros Panayotídis, no Monitor Mercantil