O Irã às voltas com a eleição presidencial ''imprevisível''
Os iranianos votam nesta sexta-feira nas eleições presidenciais mais fortemente disputadas na República Islâmica em muitos anos. As pesquisas indicam que Mir Hossein Mousavi, disputa palmo a palmo com Mahmoud Ahmadinejad, o atual presidente, após uma camp
Publicado 11/06/2009 23:15
As apostas são extremamente altas para o Irã: o novo líder deverá decidir como responder às ofertas do presidente dos EUA, de um diálogo após quase 30 anos de congelamento diplomático.
Mas os observadores duvidam que uma mudança de liderança traga grandes mudanças na posição do Irã em matéria de política externa ou na suposta busca de armas nucleares. A política de Estado iraniana é efetivamente controlada pelos clérigos islâmicos no poder.
Duelos de farpas
Alireza Ronaghi, correspondente da Al Jazira, relata a partir de Teerã que esta foi a mais imprevisível e emocionante campanha presidencial iraniana em anos, porque cada um dos principais concorrentes tem forte apoio.
Ficou claro que Mousavi tinha uma ligeira vantagem sobre Ahmadinejad na capital, Teerã. Mas nas províncias é uma história totalmente diferente, agrega o correspondente.
Nas últimas horas de campanha antes das eleições na sexta-feira, os candidatos trocaram duras acusações.
Ahmadinejad atacou seus rivais por usar ''o estilo Hitler'' de táticas enganosas. Disse que eles poderiam acabar na cadeia por insultar o presidente.
''Estes insultos e acusações contra o governo são um retorno aos métodos de Hitler, de repetir mentiras e acusações … até todos acreditarem nas mentiras'', disse o atual presidente, conforme a semi-oficial Fars News Agency.
Insultar um alto funcionário no Irã é um crime punível com até dois anos na prisão.
Mousavi, um reformista e ex-primeiro-ministro, acusou Ahmadinejad de isolar o Irã com a seus incisivos ataques aos Estados Unidos. Disse ainda que o presidente mentiu sobre a economia nacional.
Todas as ações de campanha foram suspensas a partir da manhã de quinta-feira e carros adornados com imagens e material da campanha seriam detidos e apreendidos, segundo relatou a televisão estatal.
Eleição ''imprevisível''
Mas, mesmo depois do fim oficial da campanha, dezenas de milhares de apoiadores de Mousavi permaneceram nas ruas, dançando em carros, agitando bandeiras verdes e distribuindo panfletos.
Mahdi Karroubi, um reformista e ex-líder de bancada no Parlamento, e Mohsen Rezai, um ex-comandante da Guarda Revolucionária, são os outros dois candidatos presidenciais.
Trita Parsi, presidente do Conselho Iraniano-Americano, disse à Al Jazira que os ataques de Ahmadinejad a Mousavi ''parecem ter ricoheteado e podem ter motivado a juventude a votar, apoiando a plataforma de mudança de Mousavi''.
Afshin Molavi, da Fundação Nova América afirmou à Al Jazira que as acusações contra Ahmadinejad e as elites, acusadas de corrupção e privilégios, ''vão pairar no ar muito tempo depois destas eleições, e muitos iranianos sabem disso sobre as elites''.
Ele disse que, embora o Irã tenha tradicionalmente um alto comparecimento eleitoral, ''estamos esperando mais eleitores do que em eleições anteriores, o que tende a rajudar os candidatos reformistas''.
A oposição espera que uma elevada participação na sexta-feira, irá ajudá-la a expulsar Ahmadinejad, a quem acusa de aumentar o isolamento internacional do país e suas dificuldades econômicas.
A campanha de Mousavi parece ter motivado a juventude em um país onde um terço do eleitorado tem menos de 30 anos e nasceu depois da Revolução Islâmica de 1979.
''Creio que é um novo começo e gostaria de participar no mesmo,'' disse Parastou Pazhoutan, 26 anos, eleitor de Mousavi.
''Um mês atrás, eu teria dito que Ahmadinejad era uma aposta garantida', comentou 'Sharif Emam Jomeh, um analista político. ''Havia apatia, especialmente entre os jovens. Mas agora eles ficam na rua em quantidade até de madrugada … Abaixo da superfície, algo está fervendo'', agrega.
As regras eleitorais
Os quatro candidatos à presidência foram selecionados pelo Conselho dos Guardiães, um colegiado de seis altos clérigos e seis juristas islâmicos. O Conselho, desqualificou o resto dos 475 pretendentes que se registaram, entre eles as mulheres.
Todos os iranianos com mais de 18 anos podem votar, o que significa 46 milhões de eleitores, numa população que supera 70 milhões. Se nenhum candidato tiver mais de 50% de todos os votos expressos, incluindo aqueles em branco, haverá um segundo turno entre os dois mais votados, na primeira sexta-feira depois que o resultado eleitoral for proclamado.
Com informações da Al Jazira