Alan García vê fantasma do comunismo rondar o Peru
Presidente peruano, Alan García, declarou nesta sexta-feira (12) que o protesto indígena em Bagua foi um ''genocídio de policiais promovido pelo comunismo internacional''. Já a Defensoria do Povo solicitou um diálogo sem exclusões com os grevistas.
Publicado 13/06/2009 01:02
Garcia negou que tenha havido erros na operação repressiva que resultou, conforme números oficiais, em pelo menos 34 mortos na semana passada, na selva amazônica, norte do Peru. Em vez disso o presidente insistiu em apresentar os fatos como um ''genocídio de policiais'' promovida pelo ''comunismo internacional''.
''Comunismo não tem votos mas tem armas''
O presidente respondeu assim quando os jornalistas perguntaram-lhe sobre erros na operação policial, em especial por tentar desbloquear uma estrada tomada por índígenas sem levar em conta que naquele momento 38 policiais estavam rodeados por cerca de 1.500 nativos em um campo de petróleo próximo.
''Houve um genocídio de polícias por elementos extremistas que pretendem nos entregar a governos estrangeiros'', defendeu o presidente. ''O comunismo e o extremismo não têm votos, mas têm armas'', disse ainda o presidente.
Por seu lado, a Defensora do Povo, Beatriz Merino, convidada pelas autoridades a facilitar uma aproximação entre as partes, advertiu que o diálogo entre o governo e as populações indígenas amazônicas no Peru deve se desenvolver ''sem nenhum veto'', pois caso contrário corre o risco de ''desacreditar-se e fracassar''. A Defensoria do Povo é um órgão público autônomo criado em 1993 para proteger os direitos constitucionais e humanos.
Beatriz fez a observação em uma reunião com correspondentes estrangeiros em Lima, referindo-se à recusa do governo em reconhecer como interlocutor a Associação para o Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep). Esta organização conduz a greve, que já dura há 64 dias; seu presidente, Alberto Pizango, pediu asilo na embaixada da Nicarágua em Lima.
Quem representa os indígenas
A defensora salientou também a importância de se definir com clareza a representação dos indígenas. Disse que o governo previu o diálogo com dez deles, mas na selva existem cerca de 1.400 apus (chefes).
Neste contexto, Beatriz lembrou que os índios são representados principalmente pela Aidesep, que congrega 1.350 comunidades e 70 federações indígena, e a Confederação de Nacionalidades Amazônicas do Peru (Conap), com 750 comunidades e 40 federações. Ela disse ainda que das 12 organizações regionais, sete estão sob a influência da Aidesep e cinco da Conap.
A rádio RPP, de Lima informou que os protestos sociais no Peru se acirraram, em apoio das comunidades indígenas: milhares de camponeses tomaram de assalto o aeroporto Hancabamba em Andahuaylas. Eles também bloquearam as estradas, isolando a cidade, enquanto os mercados e lojas fechavam as portas.
Simon ''tem sangue nas mãos''
Os grevistas protestam contra a lei de recursos hídricos e exigem do governo que informe com objetividade o que aconteceu na última Bagua em 5 de junho, quando milhares de indígenas fizeram frente a policiais e forças especiais de repressão, equipadas com veículos blindados.
De acordo a Defensora do Povo, as lideranças indígenas por sua vez insinuaram um veto ao primeiro-ministro, Yehude Simon, argumentando que o gabinete ''tem as mãos manchadas de sangue''.
Encarregada da tarefa por Simon, Beatriz prepara junto com a Conferência Episcopal Peruana uma proposta de recomposição do diálogo após os sangrentos episódios de sexta-feira da semana passada.
Além de facilitar o diálogo, a Defensora do Povo, que goza de uma elevada credibilidade, segundo a imprensa peruana, disse que vai mover ações de inconstitucionalidade contra os decretos contestados pelos nativos, pois as medidas legais desconhecem uma cláusula de Organização Internacional do Trabalho, que exige consulta prévia às comunidades indígenas no caso de medidas que possam afetá-las.
Fonte: Página 12 (http://www.pagina12.com.ar)