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Confronto na USP: como uma greve se transformou em violência

Menos de 24 horas após o confronto ocorrido entre a PM, estudantes e grevistas na USP, no fim da tarde da terça-feira (9), era possível encontrar no YouTube diversos vídeos, a registrar a praça de guerra na qual o campus Butantã, na zona oeste da capital

Um dos vídeos registra o episódio que, segundo alegaria o tenente-coronel da PM Cláudio Longo, motivou o envio de reforços para dentro da universidade: aos gritos de “Fora PM! Fora PM!”, dezenas de manifestantes cercam cinco soldados, que ficam inertes até decidirem deixar o local (perto da entrada do campus).


 


Além de ofensas, pedras foram atiradas na direção dos soldados. “Começaram a agredir os policiais, a tropa teve de ir em socorro”, argumentou Longo. Neste e nos outros vídeos, à afronta segue-se o revide. Força pública versus multidão, numa sequência de imagens que faz lembrar outros tempos, quando estudantes enfrentavam a polícia para protestar contra a ditadura.


 


Desta vez, porém, o estopim foi uma greve na USP — mais uma. Tão mal gerenciada pela reitora Suely Vilela que resultou numa escalada da tensão, até o desfecho à base de gás lacrimogêneo e rasantes de helicóptero. Ainda que muitos abominem a ideia, funcionários públicos têm o direito de fazer greve e piquetes. À reitora caberia a difícil tarefa de dialogar.


 


Até a quinta-feira 11, Vilela não se pronunciou. Coube ao governador José Serra defender a truculência que, num passado distante, combateu. “A polícia não cometeu nenhum exagero e obedeceu a uma ordem judicial”, disse.


 


No dia seguinte à confusão, uma assembleia com cerca de 400 professores aprovou por unanimidade o pedido de renúncia da reitora e a retirada da Polícia Militar da USP. O repúdio à ação policial aumentou a adesão à greve, iniciada em 5 de maio.


 


Desde 1º de junho, a PM está, excepcionalmente, graças a um pedido de reintegração de posse na Justiça, no campus para “garantir o livre ingresso e saída da universidade” a quem não aderir à paralisação. O confronto na USP deixou dez feridos e três presos, um aluno e dois funcionários — um deles, o sindicalista Claudionor Brandão, demitido em dezembro — que ficaram detidos por menos de três horas.


 


Na quarta-feira (10), professores e funcionários da Unicamp decidiram entrar em greve em solidariedade aos acontecimentos da USP. O campus da Unesp em Assis (a 427 quilômetros de SP) vai parar até a terça-feira (16), quando deverá ocorrer um ato de repúdio ao confronto na capital.


 


Por sua vez, os grevistas da USP optaram por manter a paralisação até a retirada da PM do campus, a renúncia da reitora e a reabertura das negociações salariais. Eles reivindicam 16% de aumento, mais R$ 200 fixos, e o fim dos processos administrativos contra os que participaram de movimentos anteriores.


 


Da Redação, com informações da CartaCapital