Localizar mortos do Araguaia exige dados dos militares

O ex-deputado Aldo Arantes (PCdoB-GO) disse que as escavações em busca dos restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia, previsto para começar em agosto, não podem acontecer até que sejam ouvidos os militares que atuaram na reta final do conflito. Ele está em Marabá, no Pará, como observador no Grupo de Trabalho Tocantins, para fazer o trabalho de identificação dos locais que devem ser escavados.

O grupo foi para a região, onde deve ficar até o próximo dia 20, percorrendo 14 áreas apontadas pelo Ministério da Defesa.

Para o representante do PCdoB, o grupo precisa da localização precisa dos locais onde estariam enterrados os restos mortais dos guerrilheiros sob pena de comprometer o trabalho. A opinião dele, compartilhada pelos demais membros do Grupo, é de que essas primeiras áreas, identificados em documentos e relatos, não são suficientes para obter resultado positivo.

“Estamos visitando pontos obtidos através de documentos e relatos e estou achando insuficiente para obter resultado positivo”, diz Aldo Arantes, destacando que “há indícios de houve remoção, mas só as pessoas que participaram do trabalho é que podem dar testemunho efetivo de onde estão os restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia.”

O grupo visitou, esta semana, quatro cemitérios de Marabá. Apenas um deles funcionava durante o período da guerrilha, entre 1972 e 1975. O comandante da missão, general Mário Lúcio Alves de Araújo, afirmou que ao menos um dos quatro cemitérios deve ser descartado da fase de escavações, em agosto.

Em agosto, devem começar as escavações, que prosseguem até outubro, em quatro municípios: Marabá, São Domingos do Araguaia e São Geraldo do Araguaia, no Pará; e em Xambioá, no estado de Tocantins.

Aldo Arantes considera importante a decisão do Ministério da Defesa de criar um comitê interinstitucional que vai supervisionar e fiscalizar o Grupo de Trabalho. Entre as funções do comitê está a de convocar pessoas para prestar informações. É o caso do major da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o major Curió, que foi intimado pela Justiça para apresentar os documentos que tem sobre a Guerrilha do Araguaia.

“A identificação dos mortos é importante para familiares, para dar enterro digno aos seus mortos, mas é também importante para a democracia; para o governo Lula; para nós, PCdoB; e para as próprias Forças Armadas, para que seja colocado um ponto final nesse caso.”

Atividades técnicas

O Grupo de Trabalho Tocantins foi criado em abril desta ano para realizar atividades técnicas de campo com o objetivo de atender decisão judicial dada pela 1ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal. A Justiça estabeleceu que a União “informe onde estão sepultados os restos mortais dos familiares dos autores (da ação judicial), mortos na Guerrilha do Araguaia” e ainda “apresente todas as informações relativas à totalidade das operações militares relacionadas à Guerrilha”.

Jobim explicou que o GT Tocantins é formado por representantes institucionais, indicados pelos governos do Pará e do Distrito Federal e pela Advocacia Geral da União (AGU); por uma equipe de atividades técnicas, formada por peritos e técnicos do Ministério de Ciência e Tecnologia, da Polícia Federal, governo do Distrito Federal e Universidade de Brasília (UnB); por observadores independentes, representados pela Associação de Juízes Federais, PCdoB, um jornalista e pesquisador da UnB . O grupo é apoiado por ações logísticas do Exército.

De Brasília
Márcia Xavier

Leia também:
Jobim não quer "politizar" busca aos restos mortais no Araguaia