Identificado possível local onde estaria enterrado Teodoro de Castro
Irmã do ex-guerrilheiro acredita que a sepultura fica na Serra do Matrinchã, próximo a uma touceira de açaí
Publicado 28/07/2009 11:47 | Editado 04/03/2020 16:34
O desejo de resgatar a história de vida do irmão, o cearense Antônio Teodoro de Castro, executado em 1974, aos 25 anos pelo major Sebastião Curió Rodrigues de Moura, numa das ações do Exército para exterminar os últimos focos da guerrilha do Araguaia (1972-1975) fez com que sua irmã, Mercê de Castro, 49, se embrenhasse por dez dias, mata adentro, por conta própria, para encontrar os restos mortais do Raul da guerrilha do Araguaia, como era conhecido.
Até o dia 10 de agosto, Mercê de Castro vai retornar ao Araguaia, juntamente com a Comissão do Ministério da Defesa e do Exército para acompanhar as escavações na Serra do Matrinchã ou rainha do Araguaia. Há quase um mês, o desaparecimento de outro cearense integrante da guerrilha do Araguaia, Bergson Gurjão de Farias, foi desvendado.
Mercê de Castro revelou detalhes sobre os dias em que esteve embrenhada na floresta. A partir de informações de um ex-guia chamado Isaías, e também de camponeses, foi possível identificar o local. Fica na Serra do Matrinchã, próximo a uma touceira de açaí, uma limeira e um bambuzal. A própria comissão está confiante.
De posse de farto material (fitas, gravações e depoimentos de ex-guias e camponeses), Mercê de Castro é incisiva: “Vou entrar com representação na Corte Internacional”, promete, explicando que “depois de preso, ele pertencia ao Estado”. Mesmo assim, Antônio Teodoro de Castro foi executado. “Ele estava com malária e com fome”, lamenta a irmã.
“Saí de porta em porta como se fazia antigamente”, conta Mercê que retornou anteontem de madrugada da região. Ela esteve quatro vezes procurando pelos restos mortais do irmão, um dos 69 jovens enviados pelo PC do B para fazer a Guerrilha do Araguaia. Desta vez, tudo indica que está no caminho certo, uma vez que as pessoas resolveram falar.
Os dez dias foram muito difíceis e teve de entrar na mata por quatro vezes. O resultado foi um rico material histórico que, agora, está sendo requisitado pelo Ministério da Defesa. São 20 minutos de conversa com Isaías, o guia que acompanhou os últimos momentos do irmão e do outro guerrilheiro, Cilon da Cunha Brun, o Simão, gaúcho, executado junto com Antônio Teodoro.
Segundo Isaías, a última operação se chamou “Zebra”. Em outras palavras, tinha ficado algum sobrevivente. Antônio Teodoro era um dos sobreviventes, sendo feito uma emboscada. Simão foi preso e virou guia. Todos os dias 30 havia um encontro. No dia 30 de janeiro de 1974, Antônio Goiano caiu na rede, sendo executado e enterrado sem cabeça. No dia 5 de fevereiro foi a vez de Teodoro.
“Ele deu o sinal e Simão respondeu”. “Preciso de remédio para malária”, disse Teodoro. Sem saber da delação, o guerrilheiro veio, com fome, fatigado e caiu. Foi levado ao posto policial e, depois é levado para Matrinchã e executado.
Líder da Casa do Estudante da UFRJ – Antônio Teodoro de Castro
Universitário de bioquímica do curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC), aos 22 Antônio Teodoro de Castro liderou a Casa do Estudante na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O jovem seguiu para a guerrilha do Araguaia em 1971, sendo executado aos 25 anos.