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EUA anulam vistos de golpistas; empresas cobram democracia

Em sua primeira medida mais forte contra os autores do golpe de Estado de 28 de junho em Honduras, o governo do presidente americano, Barack Obama, anunciou ontem a revogação dos vistos de quatro membros do governo de fato liderado por Roberto Michelet

A sanção dos Estados Unidos foi adotada nesta terça-feira (28), quando se completou um mês do golpe, e no mesmo dia em que o Tribunal Supremo Eleitoral de Honduras rejeitou antecipar as eleições de 29 de novembro, como propôs o presidente costa-riquenho, Oscar Arias, para solucionar a crise. Segundo o TSE, a mudança “afetaria dramaticamente o cronograma eleitoral”.

O presidente do Tribunal Supremo de Honduras, Tomas Arita, que firmou a ordem de prisão contra o presidente deposto, Manuel Zelaya, e o presidente do Congresso Nacional, José Alfredo Saavedra, são dois dos quatro funcionários que tiveram o visto cancelado, segundo fontes hondurenhas.

Além disso, o porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, informou que os EUA estão estudando a possibilidade de revogar um número ainda não determinado de vistos de hondurenhos suspeitos de colaborar com o golpe. A medida foi criticada pelos republicanos no Congresso americano. Desafiador, Micheletti disse que “não haverá nenhum inconveniente” se os EUA tirarem seu visto.

Horas depois, o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, anunciou que seu país levará à União Europeia um pedido para que o bloco também cancele os vistos de hondurenhos envolvidos no episódio. Kelly voltou a afirmar que Washington reconhece apenas Zelaya como presidente de Honduras e reiterou a posição de apoiar o diálogo mediado pelo líder costa-riquenho – dado na semana passada como “fracassado” pelo presidente deposto.

No sábado, Zelaya tinha declarado a um grupo de jornalistas, entre os quais o do Estado, que demandaria da secretária de Estado americano uma ação mais dura contra o que chamou de “autores intelectuais” do golpe. A declaração de Zelaya foi uma resposta às críticas de Hillary à tentativa dele de voltar a Honduras antes de um acordo com o governo de fato. Irritado, o presidente deposto rejeitou um convite do
Departamento de Estado para ir a Washington nesta semana.

“Nunca duvidei da posição do presidente Obama ou da secretária (Hillary) Clinton na intenção de pôr fim a esse golpe de Estado. O que pedi a eles era uma ação mais dura e mais forte contra os autores do golpe”, reagiu Zelaya ontem, na Nicarágua, ao tomar conhecimento das medidas do Departamento de Estado. “Essa decisão, sim, envia um sinal a todos os países do mundo que acreditam que podem resolver suas disputas políticas pela via golpista. Eles (o governo de facto) estão isolados, estão cercados, estão sozinhos.”

O governo americano já tinha suspendido, na primeira semana do golpe, toda a cooperação militar com Tegucigalpa. Na semana passada, uma série de convênios pelos quais a agência de ajuda externa dos EUA, a Usaid, também foi interrompida. A lista de sanções contra o governo de fato inclui ainda a suspensão da ajuda internacional de vários países, incluindo o Brasil, e da UE. Além disso, a Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu a participação de Honduras.

No Congresso Nacional, uma comissão especial – formada por alguns dos mais ferozes opositores de Zelaya – debatia o ponto da proposta de Arias de conceder anistia a “todos os autores de delitos políticos cometidos antes e depois de 28 de junho”. Uma decisão sobre o tema é esperada para hoje ou amanhã.

Até multinacionais pressionam EUA por solução

As multinacionais fabricantes de artigos esportivos Nike e Adidas e as confecções Gap e Knight Apparel enviaram uma carta ao Departamento de Estado norte-americano, na qual se unem ao chamado internacional para a restituição de Manuel Zelaya como presidente de Honduras.

“É necessário nos unirmos ao presidente dos EUA, aos Governos das Américas, à Organização dos Estados Americanos, à Assembleia Geral das Nações Unidas e à União Europeia, que fizeram o chamado para a restauração da democracia em Honduras”, diz a carta, reproduzida no site do jornal hondurenho “Tiempo”.

As três multinacionais, que possuem fábricas em Honduras, afirmam estar “profundamente preocupadas pelos fatos recentes” no país. Apesar de manifestarem que entendem a existência de “sérios desacordos entre o presidente eleito, o Congresso e a Corte Suprema” e que rejeitam apoiar a postura de alguma das partes, as empresas consideram que deveria ter havido um “diálogo pacífico e democrático, em lugar da ação dos militares”.

A carta foi endereçada à secretária de Estado, Hillary Clinton, e com cópia enviada ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.  As companhias dizem que “não defendem nenhuma das partes na disputa interna”, mas consideram necessário unir as vozes da comunidade internacional que defendem “a restauração da democracia em Honduras”.

A assessoria de imprensa da Nike disse à BBC Mundo que “até o momento não houve nenhuma interrupção de sua produção” em Honduras.

“Apresentamos esta carta junto com as outras marcas porque sentimos que podemos enviar uma mensagem mais forte a partir da união das empresas em apoio a assuntos como este”, disse a assessoria, por e-mail. “Sempre defendemos energicamente os direitos e as liberdades civis dos trabalhadores contratados por nossas fábricas ao redor do mundo”, segue a mensagem.

A iniciativa das empresas foi elogiada pela Rede de Solidariedade a Manufatureiros (MSN, na sigla em inglês), uma organização com sede no Canadá que defende os direitos dos trabalhadores empregados pelas chamadas “maquiladoras” (fábricas que finalizam produtos para empresas estrangeiras), em todo o mundo.

Segundo Linda Yanz, diretora da MSN, esta é a primeira vez que companhias que utilizam “maquiladoras” se pronunciam a favor da constitucionalidade em alguns dos países do Terceiro Mundo onde atuam.

Com agências