Aliados de Sarney partem para o ataque; Jucá pede calma

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e seus aliados decidiram enfrentar as denúncias e os pedidos de renúncia empunhando todas as armas disponíveis na primeira sessão depois do recesso. O clima foi de radicalização, tendo a crise como a principal pauta da agenda do Senado. A estratégia dos aliados foi a de constranger os senadores que defendem a renúncia. Sarney chegou a comparecer à sessão, mas com o plenário relativamente vazio.

O senador oficializou a postura que tomou na noite de domingo em um jantar com seus aliados mais próximos. Na ocasião, Sarney disse que desistiu de sair do cargo e que vai à luta. Em uma entrevista logo após presidir a sessão desta segunda, o peemedebista negou a existência de uma possível pressão de seu filho Fernando Sarney para que deixe o cargo, e disse que nunca deixou de estar confiante. "Não existe" a possibilidade de que eu renuncie ao cargo, disse Sarney aos jornalistas.

Sem a presença do presidente, começaram os debates. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) ocupou a tribuna por cerca de duas horas de onde pediu mais uma vez a renúncia do colega de partido.

Acabou alvejado pelos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), líder da bancada, e Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Ambos ameaçaram tornar público supostas denúncias contra Simon, mas não formalizaram nenhuma.
"A crise não vai parar", reclamou Simon em meio a apelos pela renúncia.

Nem o senador Renan Calheiros, conhecido articulador de bastidor que não polemizou com os colegas nem quando enfrentava um processo por quebra de decoro parlamentar que o levou a renunciar ao cargo de presidente do Senado, se esquivou do embate.

Em aparte ao discurso de Pedro Smon, Calheiros iniciou sua fala dizendo gostar do senador gaúcho, uma vez que Simon tinha dito em seu discurso o contrário. “Eu só quero dizer que gosto de vossa excelência. Como não gostar de vossa excelência?. Eu só lamento que o esporte de vossa excelência nos últimos 35 anos seja falar mal de Sarney. O que vossa excelência repete agora nessa missão de paz.”

O líder do PMDB continuou e acusou Simon de ter se voltado contra Sarney quando o atual presidente do Senado foi escolhido para ser vice na chapa de Tancredo Neves ainda durante a transição da ditadura militar para a democracia.

Ex-presidente da República, Collor mandou Simon "engolir e digerir" todas as declarações do senador que envolvam seu nome, chegando a tratá-lo por "parlapatão". “Evite pronunciar meu nome nessa Casa porque na próxima vez que eu tiver que pronunciar o nome de vossa excelência nesta Casa gostaria de relembrar alguns fatos, alguns momentos, talvez extremamente incômodos para vossa excelência”, disse Collor a Simon.

Antes de Simon, o senador petista Flávio Arns reforçou que a posição da legenda é favorável à saída de Sarney. "O PT continua com uma posição pelo afastamento do presidente Sarney para que haja transparência e clareza na investigação e outras medidas necessárias para a construção de um novo Senado", afirmou. A posição de Arns foi corroborada por Eduardo Suplicy (SP), que também discursou pela renúncia do presidente da Casa.

Jucá: solução não passa pela renúncia

Sem se envolver com o embate no plenário, o líder do governo, o senador Romero Jucá (PMDB-RO) avaliou que a crise no Senado não será resolvida com a saída de José Sarney da presidência da Casa. "Não temos que sacrificar o presidente Sarney. A solução para a crise do Senado não é o sacrifício dele nem de ninguém, mas a mudança de procedimentos."

No retorno dos trabalhos legislativos, Juca tentou amenizar o clima tenso entre PMDB e PSDB após os tucanos terem apresentado três representações contra Sarney no Conselho de Ética do Senado. Para ele, não se pode radicalizar nem transformar a crise em "bate-bate". "Temos que ter maturidade política e acalmar os ânimos."

Em relação à nota do PMDB, divulgada ontem (2), na qual a sigla afirma que os dissidentes podem deixar a legenda o quanto antes, Jucá disse que é preciso separar as questões partidárias e a crise no Senado."Cada um trabalha em seu estilho e tem sua circunstância política. Tem gente que gosta de incendiar, outros de ser bombeiro, tem gente que surfa na crise e os que desaparecem. Temos que ter tranquilidade e, apesar dos estilos, preservar a Casa, independentemente das opiniões políticas de cada um", argumentou.

Da redação,
com agências