Cerveja 'belgo-brasileira' gera polêmica na Casa Branca

A decisão do presidente americano, Barack Obama, de se deixar fotografar em um encontro na Casa Branca bebendo uma cerveja Bud Light gerou uma reação negativa da opinião pública. Apesar de ser uma marca criada nos Estados Unidos e também ser a cerveja mais vendida do país, a escolha gerou críticas porque sua fabricante, a Anheuser-Busch, foi vendida para a cervejaria belgo-brasileira InBev em 2008.

''O problema é que a Budweiser e a Bud Light, as cervejas mais vendidas dos EUA, não pertencem mais a uma companhia americana'', disse à agência de notícias Bloomberg o especialista em marketing Al Ries, dono da agência Ries & Ries. Como um porta-voz da Casa Branca já havia adiantado pela manhã que Obama escolheria a Bud Light nesta tarde, o deputado por Massachusetts Richard Neal chegou a enviar uma carta ao presidente em que sugeriu que ele tomasse uma cerveja genuinamente americana.

O encontro aconteceu na Casa Branca e reuniu o presidente Obama, o vice-presidente Joseph Biden, o professor Henry Louis Gates e o sargento James Crowley. Obama convidou Gates e Crowley para uma conversa no jardim da Casa Branca após os dois terem protagonizado uma grande polêmica sobre racismo nos EUA nos últimos dias. Em 16 de julho, Crowley prendeu Gates por engano quando ele tentava entrar em sua própria casa. Como Gates é negro, surgiram as acusações de racismo.

No último dia 22, Obama afirmou que a polícia agiu de uma ''forma estúpida'' ao prender Gates. O sargento, no entanto, havia alegado que o professor reagiu à prisão e incentivou a desordem durante o episódio – acusações que foram retiradas posteriormente. De qualquer forma, a polícia local passou a cobrar de Obama desculpas pelas críticas. Dois dias depois, Obama apresentou o convite a Gates e Crowley. Durante o encontro, o sargento Crowley bebeu uma cerveja Blue Moon, fabricada pela americana Molson Coors. O professor Gates pediu uma Samuel Adams Light, de uma cervejaria de Massachusetts. Já o vice-presidente bebeu uma cerveja sem álcool da marca Buckler.

''Vocês que escolheram''

Segundo especialistas em marketing ouvidos pela Bloomberg, a escolha de Obama foi orientada pela popularidade da cerveja. ''Ele está tentando mandar a mensagem de que ele é um americano médio'', disse Matt Mackowiak, um estrategista do Partido Republicano. ''Marcas líderes tendem a ser uma escolha mais segura para um político porque o que ele está dizendo é: 'Vocês escolheram essa cerveja, não fui eu. Eu só estou refletindo o que vocês pensam''', afirmou o especialista em marketing Al Ries.

O presidente da Anheuser-Busch, Dave Peacock, afirmou ter ficado ''orgulhoso'' com a escolha do presidente. Já Julian Green, da MillerCoors, uma das maiores concorrentes da Anheuser-Busch no mercado americano, disse que a empresa teria preferido que Obama tivesse bebido uma Miller Lite. ''Apesar da escolha, é uma boa notícia para nossa indústria que uma cerveja tenha sido bebida num momento como esse'', afirmou Green.

A Bud Light tem cerca de 22% do mercado americano de cervejas, apesar de ter perdido mercado nos últimos meses, assim como a Miller Lite. Para Al Ries, a cobertura da escolha de Obama pela Bud Light poderá favorecer as vendas da marca em relação a suas principais concorrentes nos próximos dias.

O que nos une é mais forte

Após o encontro, Obama divulgou uma nota em que dizia ser grato por ter se juntado com Gates e Crowley para uma conversa amigável. ''Mesmo antes de nos sentarmos para tomar a cerveja, eu aprendi que os dois cavalheiros terem passado algum tempo juntos ouvindo um ao outro será um legado para eles. Eu sempre acreditei que o que nos une é mais forte daquilo que nos separa'', disse o presidente

Fonte: Portal Exame