Latinos apontam bases dos EUA na Colômbia como ameaça

Em meio ao mal-estar diplomático instalado na região, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa, subiram o tom das críticas ao governo colombiano de Álvaro Uribe, afirmando que toda a América do Sul estará ameaçada caso o aumento da presença militar americana na Colômbia se concretize. Brasil e Bolívia também demonstraram preocupação com o assunto, que será tema central da reunião da Unasul, a partir do dia 10 de agosto em Quito, no Equador.

Em artigo divulgado por uma agência estatal, Chávez disse que "as novas bases militares constituem um perigo real e concreto contra a soberania e a estabilidade da região sul-americana. São pontas de lança da nova colonização", disse.

Afirmou também que o Plano Colômbia, assinado por Bogotá e EUA para combate ao narcotráfico, não é um assunto só de Uribe, "porque é impossível que os americanos limitem seu alcance ao território desse país. É a expansão a toda a região que se busca e, antes de tudo, à Venezuela." Na última terça-feira, o mandatário anunciou o congelamento das relações diplomáticas com a Colômbia e convocou seu embaixador no país.

O revés nas relações bilaterais veio após o governo Uribe cobrar publicamente a Venezuela sobre armas supostamente apreendidas com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e que teriam sido de propriedade do Exército venezuelano. Chávez denunciou a cobrança como uma "cortina de fumaça" para
desviar a atenção da discussão sobre as bases. Ele afirmaa que a questão das Farc tem sido utilizada como pretexto para justificar o acordo militar.

Já Rafael Correa, em entrevista ao jornal colombiano "El Tiempo", citou o bombardeio colombiano às Farc desferido em território do Equador em 2008 – desde então, o país não mantém relações diplomáticas com o país vizinho – para criticar a presença americana. "Se dirigentes [colombianos] seguirem atacando outros países para eliminar a guerrilha, é claro que as bases militares são foco de desestabilização."

Ele disse ainda que a doutrina adotada pela Colômbia no combate às Farc é "tremendamente arriscada". Segundo ele, da mesma forma que o país governado pro Uribe pormoveu o bombardeio no Equador, os outros países poderiam fazere um acordo para atacar a Colômbia, "porque guerrilheiros, swquestadores, grupos paramilitares também nos criam graves problemas".

Correa voltou a refutar que tenha qualquer ligação com as Farc – em um vídeo divulgado pela Colômbia, um comandante da guerrilha citaria contribuições à campanha de Correa à Presidência do Equador.

"Os serviços de inteligência colombianos são muito bons, eles sabem que o presidente Correa e seu governo não estão vinculados com as Farc. Mas se trata de um assunto de geopolítica, de tentar deslegitimar um governo de outra tendência [ideológica]", afirmou.

O equatoriano advertiu ainda que, caso o ex-ministro de Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos – que se prapara para disputar a presidência -, ganhe, um "sério perigo se estenderá por toda a região, porque este senhor assegura que tem o direito de atacar outros países".

O governo brasileiro também respaldou os protestos da Venezuela e Equador contra a instalação dsa bases e manifestou sua preocupação pelo fato de que o pacto militare tenha sido firmado sem que os demais países fossem ouvidos.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, indiicou que "o que preocupa o Brasil é uma presença militar forte, cujo objetivo e capacidade parecem ir muito mais além do que possa ser a necessidade interna da Colômbia".

Ele colocou que a Colômbia é um país soberano e tem o direito de fazer o que quiser no seu território, mas que o acordo representa uma presença militar importante na vizinhança. "Se, de repente, você tem uma força de fora muito grande na região… Bem, se as bases vão ter outra aplicação, e não está claro se vão ter, é natural que todos os países, inclusive de fora, se preocupem", disse.

De acordo com Amorim, é compreensível a reclamação da Venezuela, em especial, já que os EUA alegam que o principal motivo para a instalação de bases é o narcotráfico e, "ao mesmo tempo há relatórios do Congresso americano dizendo que a Venezuela estaria sendo conivente, ou leniente, com o narcotráfico. Daí, põem-se num país que é vizinho da Venezuela bases americanas…", analisou.

O chanceler destacou que um dos questionamento acerca do acordo militar é sobre a contradição em que cai Bogotá, ao dizer que as as Farc estariam aniquiladas, ao passo em que justificam a ampliação da presença militar dos EUA no seu território
alegando que é necessária para combater a guerrilha.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, defendeu neste domingo (02) seus aliados Rafael Correa e Hugo Chávez das denúncias sobre supostos vínculos de Equador e Venezuela com a guerrilha das Farc, e acusou o governo colombiano de Alvaro Uribe de fazer o jogo dos Estados Unidos.

"Isto é uma campanha suja do Império" americano, disse Morales durante uma concentração de camponeses na região de Santa Cruz, ao comentar as denúncias de Bogotá de que Caracas e Quito teriam ligações com a guerrilha colombiana.

O chefe do Comando do Sul dos Estados Unidos, o general Douglas Fraser, esteve na Colômbia neste fim de semana. Fraser se reuniu, em Cartagena, com vários comandantes militares do Sul e América Central e, em Bogotá, foi recebido pelo comandante das força militares colombianas, Fredy Padilla.

Embora as conversas tenham ocorrido de forma reservada e sem que nenhuma informação fosse divulgada, sabe-se que é ele o encarregado direto das operações que se inciaram na Colômbia, assim como também da retirada das tropas norte-americanas da base de Manta, no Equador.

É justamente este sigilo sobre os avanços, os termos, o tamanho e os objetivos reais do acordo que têm preocupado não só países vizinhos.

O cenceler da Espanha, Miguel Ángel Moratinos, também questionou a inciativa colombiana, pedindo informações aos EUA e à Colômbia sobre o assunto. Ele assegurou que é necessário evitar um "processo de militarização na América Latina, que não teria acabado no século XXI".

E acrescentou que é preciso trabalhar "para que não haja desencontros e tentar que Venezuela e Colômbia voltem a ter uma relação de respeito. Temos que reconstruir a confiança", manifestou.

Com agências