Luciana Santos diz que situação da oposição está complicada

Ex-prefeita de Olinda, Luciana Santos (PCdoB) tem exatamente oito meses para mostrar a que veio na Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Isso porque no dia 3 de abril de 2010, por força da Lei Eleitoral, a comunista deixará o comando da pasta para sair candidata à Câmara Federal.

“A minha preocupação é ter foco. É óbvio que as coisas que têm impacto a médio e longo prazos não podem ser relegadas a segundo plano. Principalmente, se forem ações estruturantes”, explica. Nesta entrevista, Luciana destaca as ações desenvolvidas pelo Governo Eduardo Campos, nestes dois anos e sete meses. Segundo ela, diante de um quatro favorável à reeleição do socialista, a situação da oposição, no Estado, está complicada. A comunista ainda defende o prefeito Renildo Calheiros (PCdoB) – acusado pelos adversários de passar mais tempo em Brasília do que em Olinda – e acusou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) de ingratidão com o presidente Lula (PT).

Qual a herança que a senhora recebeu na secretaria?

Encontrei a secretaria num processo bastante elevado de ações vitoriosas. O que chama atenção, por exemplo, é a valorização da secretaria – tão clara e evidente. Nas dez principais ações estratégicas do Governo, ela perpassa quatro delas. Seja na área de fortalecer a economia de Pernambuco, através da valorização dos arranjos produtivos locais; seja para ampliar a base científica e tecnológica do Estado; seja na área da valorização cultural. Chego com a convicção de que há uma vontade política, uma determinação do governador de valorizar o papel da Ciência e Tecnologia no Estado. Existem prioridades estabelecidas pelo próprio governador que eu tenho a responsabilidade de dar continuidade, de integrar ainda mais o que já tinha sido feito, de fortalecer. O tempo político é pouco. Infelizmente, a Lei Eleitoral estabelece um prazo (para desincompatibilização).

Como a senhora pretende lidar com o pouco tempo à frente da pasta?

A minha preocupação é ter foco. É óbvio que as coisas que têm impacto a médio e longo prazos não podem ser relegadas a segundo plano. Principalmente, se forem ações estruturantes.

E quais seriam essas prioridades?

Envolvem desde a articulação das instituições de ensino superior até o projeto da erosão marinha. É uma questão que tem um impacto muito forte na vida das cidades do litoral de Pernambuco, que é um assunto que eu acompanho desde a época que era prefeita. Inclusive, fui autora da proposição da necessidade de um estudo integrado de projeto em relação à contenção do avanço do mar. Não poderia continuar cada cidade fazendo sua obra sem levar em conta o impacto nas outras cidades. Além da interiorização, seja dos campus da Universidade de Pernambuco, seja das escolas técnicas – serão sete construídas.

Eduardo Campos convocou cinco ex-prefeitos de municípios importantes para o Governo. Como a senhora entendeu o gesto?

Eduardo, com isso, procura reforçar a administração, no momento em que convoca quadros que são lideranças políticas experientes, que passaram pela administração pública, que foram gestões vitoriosas, bem avaliadas, que demonstraram resultados concretos para a vida da população. Reforça a leitura das pessoas dos partidos que têm mais afinidade no plano da política. O fato de estarmos participando do Governo reforça o fortalecimento desse núcleo, que tem muita afinidade político-ideológica. É uma sinalização positiva, porque corrobora com essas forças que já têm um papel político a nível nacional, no Governo Lula.

A senhora concorda que, com a convocação de João Paulo para a Articulação Regional, o governador atesta que o ex-prefeito estará na chapa ao Senado?

Se a gente for por outro caminho na análise, também pode dizer que, se ele também não botasse João Paulo, poderia ser que ele tivesse o excluindo do Senado. Acho que nem uma coisa nem outra. Acho que ele (Eduardo) procura (dizer), com esse gesto, que não toma partido dentro dos partidos. Você tem Humberto Costa (PT) no Governo (Secretaria das Cidades), você tem João Paulo no Governo. São as principais lideranças do PT no Estado. De fato, não poderia deixar de lançar mão de uma contribuição que João Paulo pode dar do ponto de vista político e administrativo.

O PCdoB acabou beneficiado com as mudanças no primeiro escalão. Já tinha a Secretaria de Esportes e ganhou a Ciência e Tecnologia. O momento é bom?

Essa talvez seja na história de Pernambuco o momento em que o partido tem uma presença maior na condução política do Estado. Historicamente, a gente (o PCdoB e o PSB) sempre teve muita afinidade, não só política mas pessoal, de uma geração. Fomos contemporâneos (ela e Eduardo) da época do movimento estudantil, vivemos vários momentos diferentes da constituição política de Pernambuco. Ele próprio ressaltou na sua fala que a vitória de 2000, de Olinda e do Recife, comigo e com João Paulo, foi um ponto de inflexão importante na correlação de forças do Estado.

Como é que foram as costuras para a senhora ingressar na secretaria, depois que interlocutores do governador atestaram que ele havia decidido por não convocar quem será candidato ano que vem? Seu nome, inclusive, era cogitado para o comando do Prodetur.

Na verdade, nunca houve nenhuma iniciativa do Governo de tratar diretamente isso com nenhum de nós. Isso foi especulado, mas em nenhum momento entrou na pauta de conversação.

Sua intenção continua a de disputar mandato federal e para tal terá de deixar pasta em abril do ano que vem. E o partido ainda tem o vereador Luciano Siqueira neste projeto.

O nosso projeto político-eleitoral é a possibilidade da eleição de dois deputados federais: eu e Luciano Siqueira. Queremos, também, ampliar muito a bancada de deputado federal. Nossa meta é eleger de 20 a 25 federais (atualmente, a sigla conta com 11 parlamentares). E estaduais a gente pretende eleger de três a quatro, numa chapa própria. Tem Luciano Moura e Nelson Pereira (ambos já exercem mandato). E tem outra chapa em construção, mas que já tem algumas alternativas importantes, como o vice-prefeito de Bezerros, o Carlinhos (Carlos Francisco), o Edmilson, que é o vereador de Caruaru, além do Almir, que é suplente de vereador do Recife.

O governador nega, mas pessoas ligadas a ele revelam que Aristides Monteiro saiu da secretaria porque não tinha boa interlocução com alguns segmentos do setor. Qual a impressão que a senhora teve desse cenário?

É claro e evidente que qualquer que seja o cargo público que você exerça é natural que possa ter alguns descontentes. Mas isso é secundário, esse ambiente de insatisfação com Aristides. Acho que ele é um técnico brilhante, que demonstrou durante toda sua vida o brilhantismo, pela inteligência, pela capacidade de formular. Foi uma pessoa que ajudou com informações, auxiliou não só o mandato federal de Eduardo, mas em vários momentos de sua atividade pública.

Qual a avaliação que a senhora faz do Governo Eduardo, nestes dois anos e sete meses?

Na verdade, Eduardo pegou uma situação de terra arrasada, não é? Se você for olhar a situação dos indicadores do Ideb no Estado, que eram os mais baixos do Brasil… Faltava professor para áreas básicas do conhecimento no ensino médio. A situação física das escolas, até hoje o secretário Danilo Cabral (PSB) está correndo atrás para poder, minimamente, dar um ambiente físico. Se você for avaliar a Saúde, estava um caos, Eduardo luta para superar. Aqui mesmo na Ciência e Tecnologia, a Facepe tinha um orçamento de R$ 5 milhões e hoje é de R$ 30 milhões. Há outra visão, outra ótica. O governador, então, tomou para si a responsabilidade de acompanhar de perto as três áreas que eram essenciais, mas que estavam sem controle: Educação, Saúde e Segurança Pública. Tudo isso acontece se desenvolver em parceria com o presidente Lula, que era e é, na minha opinião, um grande divisor de águas em relação a Jarbas Vasconcelos, que até hoje, como dizia Luciano Siqueira, tem uma ingratidão com o presidente Lula. Conhece pouco o que o presidente tem feito pelo Estado.

Qual a leitura política que a senhora faz das movimentações no bloco de oposição. Acredita que o senador Jarbas Vasconcelos tentará retomar o Palácio das Princesas?

Eu não acho muito provável. Mas acho que o campo de forças da oposição está aí procurando um caminho por onde passará a construção política para governador. Acho que a situação da oposição aqui no Estado está complicada.

O prefeito Renildo Calheiros completou sete meses de mandato. A senhora já consegue identificar uma marca pessoal na gestão?

É um momento de transição, ainda. É um tempo muito curto. Ele manteve boa parte da equipe. Há um equilíbrio entre o que já estava em curso. Olinda é uma cidade muito difícil de se governar. A gente tem 1/3, quase 1/4 da população do Recife, e arrecada 13 vezes menos. Então é um município muito difícil de ter governabilidade. E Renildo é, indiscutivelmente, um talento na política, domina as ações administrativas da Prefeitura porque, inclusive, já foi secretário de Governo na primeira gestão minha. Salta aos olhos muitas coisas que estavam em curso que já terminaram, como a Transamazônica, que são obras mais emblemáticas, grandes. Que é a paralela da avenida Presidente Kennedy e o Fortim. E as obras do Alto da Sé estão em um ritmo bastante acelerado. O Mercado de Artesanato já está pronto. Eu acho que tem um componente de continuidade, mas tem um componente de mudança porque tem outro estilo.

Quais os desafios do município para os próximos anos?

O desafio de Olinda por muito tempo continuará sendo o problema da sustentabilidade econômica, que é um esforço a gente propôs e que Renildo também está muito atento. Seja através de capitação de recursos externos, seja para poder prover a cidade de estruturas econômicas próprias. Mas hoje Renildo tem falado muito de algumas coisas que já foram resolvidas já nesta gestão, como o segundo trecho da orla da cidade. Ele já conseguiu recursos, não é fácil conseguir recursos em plena crise. A continuidade do PAC e a apresentação dos projetos para continuar as intervenções na área de baixa renda da população. São mais de R$ 200 milhões que estão em execução.

Qual a resposta que a senhora dá à oposição, que acusa o prefeito de passar mais tempo em Brasília do que em Olinda?

Completamente injusta. Renildo vive a cidade de Olinda. Não é de hoje, é de muito tempo. Isso sempre foi um discurso falacioso usado em época de campanha. Como não se tem outro tipo de ataque a fazer, procura-se atacar por aí. Ao contrário, ele vive cotidianamente as ações da Prefeitura. Até todos nós ficamos reclamando que ele não sai, agora, da Prefeitura. Só pensa na Prefeitura. A gente já está reclamando dele.

Fonte: Folha de Pernambuco