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Futebol: Dívidas de clubes param campeonato argentino

As turbulências nos mercados financeiros mundiais acertaram em cheio não apenas o governo da Argentina. O futebol nacional está paralisado porque entre todos os clubes da primeira divisão apenas três – Banfield, Godoy Cruz e Lanús – não estão endividados. A soma dos débitos apenas com os salários e direitos de atletas pode ultrapassar os 150 milhões de reais, fato que empurrou o sindicato da categoria para uma greve.

Nem os gigantes Boca Juniors, River Plate e até o Estudiantes de La Plata, atual campeão da Taça Libertadores, escapam da crise na elite do futebol argentino, cujo torneio Clausura começaria no próximo dia 14 de agosto. O astro dos campeões continentais, Juan Sebastián Verón, teve de aceitar uma redução salarial de cerca de 40% para permanecer no clube. O Corinthians assedia o astro Juan Roman Riquelme por saber que o clube mais popular da Argentina está com dificuldades para fazer pagamentos.

A complicação aumentou no fim de semana, depois de a Casa Rosada sinalizar que pode ajudar a pressionar as TVs do país a elevar as cotas de transmissão, conforme pedido do presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), Julio Grondona. O grande alvo é a empresa que detém os direitos de transmissão, a Torneos y Competencias (TyC).

Um dos principais porta-vozes dos clubes, o vice-presidente do Boca Juniors, José Beraldi, afirmou que as equipes querem que a TyC aumente para 122 milhões de dólares a cota anual dos direitos de transmissão, que hoje custam 70 milhões, valor que seria o mesmo até 2014. Situação bastante diferente do Brasil, onde, no início do ano passado, a TV Globo anunciou que pagará cerca de 200 milhões de dólares por ano pela transmissão do campeonato brasileiro no triênio 2009-2011.

De acordo com a imprensa argentina, o ex-presidente Nestor Kirchner teria sugerido o rompimento de contrato com a TyC, que seria substituída pela emissora pública do país, o Canal 7, nas transmissões das partidas. Um acordo poderia sair por uma soma próxima à que Grondona quer para renegociar o acordo com a Tyc e, assim ajudar os clubes. A briga pode chegar à Justiça e não há prazo para que o futebol local retorne.

Cartola argentino

Grondona, que informalmente negocia em nome dos clubes, não conversa há vários dias com o representante da TyC que tinha como interlocutor. Ele tem reuniões marcadas com dirigentes de clubes para os próximos dias para tentar definir uma base mínima para começar o torneio nacional e dar perspectivas aos sindicatos dos atletas.

O resultado das conversas depende da capacidade de conciliação de interesses que será feita pelo cartola argentino, um homem parecido com o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), de acordo com Thiago Varella, jornalista especializado em futebol argentino.

“Grondona é um Ricardo Teixeira do Rio da Prata. Os times são mal administrados e os dirigentes só se preocupam com o dinheiro no bolso. Assim como aqui, muitas vezes o futebol funciona como plataforma para ascender politicamente. Essa crise o projeta”, afirmou ele ao Opera Mundi.

“Um exemplo disso é o Mauricio Macri, presidente do Boca nos últimos grandes títulos do clube e um dos grandes nomes da atual política argentina, sendo cotado para ser presidente do país. O futebol em crise é também uma oportunidade para esse dirigente”. Macri é atualmente prefeito da cidade de Buenos Aires.

Para Varella, os Kirchner também se utilizam do esporte mais popular do mundo para se reaproximar de suas bases, abaladas desde os protestos do setor agrícola do país que geraram derrotas eleitorais este ano. De acordo com ele, será ainda mais improvável que o futebol argentino rivalize com o brasileiro nos próximos anos nos torneios de clubes.

“Em um ambiente desses, não dá pra se falar em perspectiva para o futuro. Acredito que o futebol argentino vai entrar e sair de crises nos próximos anos”, afirmou. “Acho que o cenário mais provável é o que Grondona cede aos Kirchner e rompe com a TyC. O futebol fica dividido entre Canal 7 e outro qualquer que vai pagar ao governo. A crise será interrompida para o campeonato seguir, mas acabará retornando”.