Indústria brasileira detém demissões e começa a contratar

Mais importante do que a intensidade da recuperação do emprego industrial é a reversão na tendência: de aumento nas demissões para ampliação nas contratações. Três indicadores de junho, dos quais dois apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além do indicador de emprego previsto para três meses para o emprego industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), confirmam a mudança de rota.

Os resultados de junho de pesquisas, tanto de órgãos do governo como de entidades privadas, indicam que o emprego industrial ou tem uma pequena queda, ou dá sinais de recuperação em relação a meses anteriores. Pela primeira vez desde novembro do ano passado, a população ocupada na indústria nas seis regiões metropolitanas do país cresceu 1,7% em relação ao mês anterior, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Foram criadas 58 mil vagas em junho. “Sem dúvida, é um primeiro sinal de recuperação”, afirma o gerente da PME do IBGE, Cimar Azeredo.

Apesar da reação em junho ante maio, ele pondera que a população ocupada na indústria caiu 4,2% no primeiro semestre, 5,2% de outubro de 2008 a junho deste ano e 5% em junho deste ano ante o mesmo mês de 2008. Para ele, o crescimento da ocupação no mês é importante porque a indústria, que responde por 16,4% da ocupação total, incluindo os demais setores, “dá o tom” do emprego.

Emprego dessazonalizado

Outra pesquisa, também do IBGE, que apura apenas o emprego industrial, porém em todas as regiões do País, revela que o emprego na indústria caiu 0,1% em junho ante maio. No mês anterior, o recuo havia sido maior, de 0,5% na comparação com abril. O resultado confirma, de certa forma, um arrefecimento no ritmo de queda. Também revela que a mudança na trajetória do emprego industrial começou antes nas grandes cidades, já que o outro indicador do IBGE, que cresceu em junho ante maio, mede a ocupação industrial nas seis regiões metropolitanas.

O indicador de emprego dessazonalizado da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em queda mês a mês desde novembro do ano passado, está diminuindo o ritmo de contração. Entre dezembro e abril, a queda média mensal havia sido de 0,9%; em maio, o recuo foi de 0,4% e, em junho, o último mês disponível, a retração foi de apenas 0,2%. “É o oitavo recuo seguido, mas, nos últimos dois meses, a queda perdeu força”, afirma o economista da CNI Marcelo de Ávila.

Segundo o economista, a expectativa da CNI é de que o emprego industrial volte a crescer em algum momento neste semestre porque o ajuste mais forte nos estoques está terminando. Na opinião de Ávila, essa retomada do emprego em pouco mais de um semestre não indica que as demissões feitas pelas empresas foram precipitadas, quando a crise se acirrou a partir de setembro do ano passado. “É caro demitir”, argumenta.

Mercado interno

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Miguel Torres, a fase mais aguda de cortes da mão de obra terminou. “Faz um mês que as indústrias pararam de demitir e só estão contratando.” Apesar de ainda não ter números consolidados, ele notou uma movimentação positiva, com contratações pulverizadas. “Há empresas contratando cinco, outras dez. É o reflexo da retomada.” O sindicato representa 260 mil metalúrgicos, distribuídos em 11 mil empresas.

Nas fábricas de geladeiras, fogões e máquinas de lavar, que também foram beneficiadas pelo corte do IPI, o cenário é favorável ao emprego. A Whirlpool contratou 1.300 trabalhadores temporários desde maio em Rio Claro (SP) e Joinville (SC). Desse total, 400 foram efetivados em junho. “A tendência é efetivar os demais”, diz o diretor de Relações Institucionais , Armando Annes do Valle. A Electrolux também contratou, desde maio, 600 trabalhadores como efetivos nas fábricas de Curitiba (PR), São Carlos (SP) e Manaus (AM).

A maior procura no mercado interno por carros, máquinas de lavar e geladeiras puxou a produção de aço e as contratações nas siderúrgicas. A CSN, por exemplo, abriu 700 vagas até julho em Volta Redonda (RJ) e tem previsão de ofertar mais 200 postos de trabalho no mês que vem. Desse total, 411 trabalhadores foram efetivamente contratados. A maioria é de ex-funcionários demitidos na virada do ano.

A recuperação no emprego industrial não ocorre apenas nos bens duráveis, que foram beneficiados pela maior oferta de crédito e o corte no IPI. A indústria de vestuário e calçados figura numa lista da FGV de oito segmentos com maior peso na produção industrial e com perspectivas favoráveis de recuperação do emprego previsto para três meses.

Indicador de emprego

Em razão da reversão no quadro, é consenso entre empresários, sindicalistas e economistas que a fase de demissões em massa ficou para trás. Com os estoques ajustados e o mercado doméstico aquecido, as indústrias se preparam para a temporada de contratações. Quase um quarto (23,2%)das 1.115 indústrias consultadas pela Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da FGV em julho pretende ampliar as contratações até setembro, enquanto 15,3% delas planejam demitir.

Pela primeira vez desde outubro de 2008, a fatia de empresas que quer contratar supera a que planeja demitir. Em dezembro, no auge da crise, a situação era inversa: 32,5% planejavam cortes e 15,5%, contratações. Também pela primeira vez desde outubro de 2008, o indicador de emprego previsto para os próximos três meses em julho superou a média desde 1995, aponta a FGV. No mês passado, esse indicador ficou em 107,9 pontos, ante a média histórica de 101,4 pontos e do resultado de junho (97,2).

O indicador de emprego previsto é calculado a partir do saldo entre o porcentual de empresas que pretendem contratar e as que planejam demitir, somado 100 e descontada a sazonalidade. Dos 14 gêneros pesquisados, 13 registraram crescimento no indicador de emprego previsto em julho ante junho, apesar de continuar abaixo do mesmo período de 2008. Só no setor químico não houve crescimento no indicador de emprego previsto. “A recuperação do emprego previsto em julho ante junho é quase generalizada”, afirma o coordenador técnico da pesquisa, Jorge Ferreira Braga. A indústria de material de transporte, que inclui as montadoras, é a que teve maior recuperação no emprego previsto para três meses.

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo