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Teatro do MST vai bem além da reforma agrária

É por meio do teatro que Agostinho Reis, 34 anos, dá sua principal parcela de contribuição para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Casado e pai de dois filhos, desenvolve oficinas de teatro em acampamentos e assentamentos, onde estimula, por meio de peças, discussões sobre temas considerados relevantes para – e por – a comunidade. Agostinho conta que os temas não ficam restritos à reforma agrária.

MST - Agência Brasil

“Um dos temas mais importantes entre os que abordamos é o da criminalização dos movimentos sociais no Brasil”, disse. “O que nos motivou a fazer isso é o fato de muitas vezes termos sido classificados como terroristas por outros setores da sociedade”, afirmou.

A violência doméstica é outro tema que já fez parte das peças, geralmente apresentadas na rua ou em palcos improvisados nos acampamentos do MST. “Mas não ficamos restritos ao público interno. Usamos as peças para estimular o debate com a sociedade e com pessoas não ligadas ao movimento”, disse.

“Mas nosso público principal é o do MST. Até porque muitas vezes são eles quem nos pautam, quando os consultamos sobre quais temas, além dos apresentados nas escolas, gostariam de se informar”, completa. “As pessoas geralmente aprendem ouvindo nossas peças. Mas o legal é que, por meio do teatro, muitos aprendem também por meio da fala, quando estão atuando”, afirmou.

Segundo ele, são muitas as diferenças entre o tipo de teatro produzido no MST e o que é “consumido” em outros ambientes. “Nós fazemos um teatro diferente do teatro burguês, que decora e esquece textos com grande frequência e facilidade”, disse.

A Constituição Federal também costuma ser tema das peças produzidas por Agostinho. “Além de explicar a Constituição e os direitos previstos por ela, buscamos apresentar algumas contradições, como por exemplo o fato do Estado não ser punido por não cumpri-la”.

Agostinho garante que os temas não ficam restritos à reforma agrária. “Neste acampamento vamos apresentar uma peça intitulada A Crise Não é Nossa. Nela, há um personagem chamado de 'Voz Coletiva' que questiona a origem da crise pela qual passa o país.

“Os diálogos caminham para a conclusão da real origem da crise, que é a elite mundial”, explica o ator. “Nós nunca recebemos um tostão sequer dessa elite. Então não é justo que paguemos pela crise causada por ela”, explicou.

Nascido no Piauí, Agostinho é um dos pré-assentados (termo utilizado para aqueles que ainda não tiveram concluídas todas as etapas de assentamento) de Gabriela Monteiro, assentamento situado em Brazlândia, cidade próxima a Brasília. Entrou para o MST há oito anos, após uma visita a um acampamento, quando ainda coordenava os jovens da Pastoral da Juventude, grupo ligado à Igreja Católica.

“Foi amor á primeira vista. Na época eu morava em Samambaia (cidade da região administrativa do Distrito Federal), e vi no MST uma oportunidade para construir algo na vida. Vi que, assim como eu, havia muitas pessoas sem condições de comprar terras para produzir, e resolvi fazer dessa a minha missão”, lembrou.

Agostinho já estudava teatro na Pastoral da Juventude, e acabou aproveitando essa experiência para desenvolver oficinas de teatro. “Sob influência de Augusto Boal fizemos um trabalho inspirado no Teatro do Oprimido, que trabalha o público na cena, estimulando discussões sobre temas pré-estabelecidos”, disse.

Com o MST, Agostinho teve condições de iniciar um curso de magistério e outro de comunicação em radio. “É um curso à distância desenvolvido por uma escola do MST chamada Iterra”, explica ele, que é um dos acampados em Brasília com o objetivo de cobrar dos governos Federal e estaduais medidas a favor da reforma agrária no país.

Com informações da Agência Brasil