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Busca de guerrilheiros se frustra; "É preciso ouvir os militares"

Terminou nesta terça-feira (18), na região de Marabá (PA), a terceira fase das buscas das ossadas de guerrilheiros do Araguaia, assassinados e enterrados clandestinamente pelas forças repressivas nos anos 70. Não se achou nenhuma ossada. Para o ex-deputado Aldo Arantes, que acompanha os trabalhos pelo PCdoB, "é imprescindível ouvir os militares que participaram", especialmente na "Operação Limpeza", ao final.

De Marabá, Arantes observou que numerosos mateiros e moradores da região confirmam que a "Operação Limpeza" existiu. Desenvolveu-se no final da ação militar. Teve a participação de um grupo muito reduzido. E há indicações sólidas de que serviu para apagar os rastros da execução dos guerrilheiros, abatidos a sangue frio na 3º campanha de aniquilamento, em que não se fez pricioneiros.

Fogo na Serra das Andorinhas foi despiste?

O ex-constituinte (PCdoB-GO) reproduziu, por exemplo, o relato de um mateiro, contratado pelos militares para abrir um buraco. Em certo momento, os militares mandaram parar a escavalçao e despacharam o mateiro. Quando este voltou, a cova estava fechada.

Também há moradores que colocam sob suspeição o grande incêndio ateado pelas forças repressivas na Serra das Andorinhas, uma elevação coberta de mata que domina a região da guerrilha. Para eles, foi estensivo demais, "um fogo tremendo, ostensivo", criando a desconfiança de que se tratou de uma ação de despiste.

Na terceira fase das buscas, foram feitas escavações em treis locais: 1) a área do Denit, a temida "Casa Azul", centro de torturas durante o conflito; 2) a área do Tabocão, onde havia uma "indicação precisa"; e 3) a região de Águas Frias, onde a guerrilheira Sônia teria sido sepultada. A escavação foi precedida de um trabalho de geólogos e também antropólogos, usando um radar de penetração no solo, que serviu para identificar pontos de anomalia. No entanto, nada foi encontrado.

Arantes: "Com essas informações, não dá"

Arantes elogia a equipe multidisciplinar que participa da busca, "muito competente do ponto de vista técnico, bastante preparada". Reconhece que "o Exército dá uma cobertura logística eficaz". Destaca também o grande trabalho da equipe de entrevistas, de pessoal civil, principalmente cedido por instituições do Pará, como o Museu Emílio Goeldi. Um Comitê Interinstitucional coordena os diferentes órgãos envolvidos na busca.

"Eu venho insistindo: tanto os pontos indicados como as informações dos mateiros são absolutamente insuficientes. Com essas informações, não dá", destaca Arantes. "Há competência técnica, esforço, mas tudo isso não basta. Tem que se ouvir os militares", ressalta.

Ele insiste em particular na necessidade de ouvir os participantes da "Operação Limpeza". "Se não tiver informações do pessoal que participou dessa reta final, o resultado será negativo, com todas as suas consequências para as famílias [dos guerrilheiros], o governo federal e a democracia brasileira", avalia.

O Grupo de Trabalho responsável pela procura incorporou esse diagnóstico. No entanto, a solução apresenta dificuldades. Uma oitiva pública e oficial resultaria infrutífera. Nenhum militar faria confissões que poderiam levá-lo a julgamento em cortes internacionais por violação de direitos humanos.

Vannuchi diz que busca irá até abril

As buscas por corpos de cerca de 60 guerrilheiros desaparecidos na região da Guerrilha do Araguaia, iniciadas em agosto, por determinação da Justiça, devem acontinuar até abril. A informação foi dada nesta terça-feira(18), pelo secretário especial dos Direitos Humanos, ministro Paulo Vannuchi, durante cerimônia no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.

"São quatro fases. A terceira fase a de escavações começou na semana passada e deve terminar no final de outubro, devido ao período de chuvas naquela região. Até abril, haverá a investigação em laboratório partindo-se da premissa de que ossadas serão localizadas e de que, então, poderá ser marcado um novo programa para levantamento de informações", disse o ministro.

A procura foi determinada por sentença da juíza federal Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Em 2003, ela determinou a entrega das ossadas às famílias. Após perder todos os recursos, o Ministério da Defesa foi obrigado a montar a comissão para planejar a busca dos restos mortais.

A guerrilha do Araguaia ocorreu na região amazônica, ao longo do Rio Araguaia, na década de 70. Organizado pelo PCdoB, o movimento tinha como objetivo a derrubada do governo militar (1964-1985). Cerca de 80 guerrilheiros foram mortos pelo Exército, na maior parte a sangue frio, depois de aprisionados. Até hoje, não se sabe o paradeiro dos corpos. Foram encontrados apenas dois.

Da redação, com agências