Condutores elegem direção e delegados para conferência municipal

Mais de 60 condutores das garagens VIP AE Carvalho e VIP Imperador reuniram-se neste sábado, 15/8, na sede do PCdoB em São Miguel Paulista para eleger suas direções partidárias e indicar os delegados que irão à conferência municipal que será realizada no próximo dia 27/9, na capital paulista.

Plenárias condutores de São Paulo - agosto 2009 - Frank Silva

A abertura do processo de preparação do 12º Congresso do partido na categoria ocorreu há cerca de dois meses, no CMTC Clube, com a participação de mais de 400 trabalhadores e trabalhadoras. Na ocasião, foi lançada as teses propostas pela direção do partido que apontam as principais metas e desafios que os comunistas enfrentarão nos próximos quatro anos.

Na abertura, o dirigente partidário e também diretor executivo do sindicato dos motoristas, Zé Carlos Negrão, anunciou que as bases de outras garagens, situadas nas regiões sudeste e oeste, já haviam se reunido, na quinta (13) e sexta (14), consecutivamente, para também discutir as teses e eleger direção e delegados. A conferência final da categoria deverá acontecer no dia 28/8, no CTMC Clube. “O Congresso do PCdoB [que ocorre de quatro em quatro anos] é um momento muito especial para os comunistas em todo o Brasil”, explica o líder sindical e partidário, referindo-se às inúmeras reuniões realizadas em todo o território nacional.

Capitalismo, doença sem cura

O secretário municipal de organização, Julio Velozo, convidado para expor o documento do partido, iniciou a apresentação esclarecendo que a crise do capitalismo é cíclica e, portanto, ocorre de tempos em tempos. “O capitalismo é como uma doença crônica, que não tem cura”, afirmou. “A mais expressiva delas aconteceu em 1929”, citando a crise do capitalismo, batizada de “A Grande Depressão”, que levou um enorme número de empresas à falência. Neste período, nos EUA, o desemprego atingiu quase 30% dos trabalhadores. De acordo com o dirigente, desta vez, no Brasil, assim como havia anunciado o presidente Lula, a crise capitalista chegou mais branda do que no restante do mundo. Hoje, o desemprego na Espanha, por exemplo, encontra-se no patamar de 20% da população economicamente ativa, enquanto aqui o índice varia em média a 8% de desempregados.

O dirigente municipal esclareceu especialmente aos novos integrantes do partido que o capitalismo é um sistema muito injusto, no qual cerca de 99% da população trabalha para que apenas 1% se aproprie de toda a riqueza produzida. “Quem gera a riqueza no sistema de transporte, por exemplo, são aos condutores. Certamente, os patrões sequer sabem trocar um pneu, mas acabam ficando com todo o lucro obtido”, ilustrou. “Dinheiro é trabalho impresso em papel; como se fosse um recibo”, completou. Didaticamente, Velozo explicou que o valor agregado às matérias-primas deve-se à inteligência, à arte e à magia empregada pelos trabalhadores. “É graças à força de trabalho das pessoas que um pedaço de pano, ferro e espuma se transforma numa cadeira”. Para finalizar, elucidou que o salário recebido pelo trabalhador no final de cada mês é uma parte insignificante de todo o valor agregado às mercadorias, após a ação humana. “O salário é apenas uma ‘ração’, um ‘combustível’ dado ao trabalhador para garantir que ele volte no dia seguinte para produzir mais riqueza ao patrão”. Conforme Velozo, se a riqueza fosse dividida justamente, o nível de vida dos trabalhadores seria muito superior. A clareza e a simplicidade com que as idéias foram apresentadas impressionaram os presentes.

Depois de esclarecer, resumidamente, a lógica perversa do capitalismo, ressaltou que o avanço tecnológico no sistema capitalista, por exemplo, serve só para aumentar os ganhos patronais, enquanto no socialismo aliviaria a jornada de trabalho de milhões de pessoas. “Há quanto tempo os patrões almejam demitir os cobradores devido à implantação das catracas eletrônicas?”, indagou. “Isso só não aconteceu ainda graças à luta travada por vocês”.

Socialismo, é possível na prática

Em seguida, falou sobre as primeiras experiências socialistas no mundo. “Após 30 anos da Revolução Socialista na Rússia, ocorrida em 1917, a então União Soviética (URSS) era uma grande potência.” Para embasar a afirmação, citou a corrida espacial, lembrando que os russos saíram na frente enviando ao espaço o primeiro vôo tripulado. Além disso, citou a derrocada do Nazismo, graças à intervenção socialista. “E olhem que a Rússia, antes da revolução, era um dos países mais atrasados da Europa”, afirmou.

Para completar, mencionou também as fragilidades e dificuldades enfrentadas por Cuba. “Embora seja muito pobre em termos de recursos naturais, o país é exemplo no campo da medicina avançada”. Na área da educação, Velozo revela que todos os cubanos têm acesso aos cursos universitários. “Aqui, filho de trabalhador não faz medicina!”, afirmou com toda propriedade o dirigente que já atuou no movimento estudantil. “Quando entrávamos numa sala de medicina na USP, não encontrávamos um negro sequer”. “Por essas razões e muitas outras, o socialismo já mostrou na prática ser superior ao capitalismo”, concluiu.

Sobre os problemas das primeiras experiências socialistas, citou a falta de democracia, decorrente, em especial, das ameaças constantes da guerra fria, que detonaria a 3ª grande guerra mundial. “A URSS passou o tempo todo se preparando para enfrentar uma guerra atômica que poderia acabar com o mundo”, explicou. “A falta de participação popular nas decisões, tomadas, em geral, pela cúpula do partido russo acabou desgastando a relação do povo com o governo”, adiantou. Além disso, afirmou ter sido um grave erro acreditar que se passa, repentinamente e por decreto, de um sistema para o outro. É preciso um período de transição para que a economia não entre em colapso.

“O Brasil, ao contrário da Rússia e de Cuba, é um país muito rico, haja vista o pré-sal que significa a descoberta de imensas jazidas de petróleo, o que coloca nossa nação no mesmo nível, ou até superior, ao da Arábia Saudita e Irão, que são hoje grandes produtores de petróleo do mundo”, avalia o dirigente. Conforme o dirigente, antes mesmo desta descoberta, já éramos auto-suficiente na produção de petróleo. Outro exemplo de riqueza mineral é o nióbio (Nb), poderoso agente anti-corrosivo empregado na produção de motores de aviões a jato e equipamentos de foguetes. “O Brasil detém 98% da produção mundial”, revelou Velozo.

Para completar, lembrou que o país possui ainda a Petrobras e o Banco do Brasil que, apesar da crise e da quebradeira dos bancos pelo mundo afora, ganha força a cada dia. No setor agrícola então, desponta-se como o maior produtor de gado bovino, suíno e de frango. “Se o socialismo potencializou frágeis nações como Rússia e Cuba, imaginem o que poderá fazer por aqui”, ressaltou. “Se não bastasse somos um povo só”, referindo-se à unidade existente no país que, de norte a sul, fala a mesma língua e não registra disputas internas de caráter separatista. Para ter idéia, a Índia, mais conhecida como sendo um “caldeirão de culturas”, possui 18 línguas oficiais e milhares de dialetos, cada um representando um povo que já perambulava pela região quando a Índia virou país. “è gente tão apegada a suas tradições que cada grupo comemora o Ano-Novo em uma data própria, de acordo com o calendário que segue”, finalizou.

A luta dos trabalhadores contra as elites

Em relação aos desafios, ressaltou que, embora em menor número, os conservadores contam com elementos essenciais para dominar o povo, como: a imprensa e a indústria cultural, que sorrateiramente formam a opinião popular. “A elite brasileira se move para manter a hegemonia dos EUA sobre a nossa nação”, citando a avalanche de filmes e música americana, por exemplo, em detrimento da nossa arte e cultura. Os heróis que predominam no imaginário de nossas crianças são: o Capitão América, a Mulher Maravilha, o Homem-Aranha e o Super-Homem, todos eles vestidos com “uniformes” que nos remetem às cores da bandeira dos EUA, simbolizando subliminarmente a invencível força norte-americana. “O Rambo é outro bom exemplo”, referindo-se ao personagem de um filme americano que sozinho desce no Vietnã e extermina um exército inteiro. “É a máquina da propaganda tentando apagar das nossas mentes que eles perderam a guerra no Vietnã”.

“Para enfrentarmos todos esses ataques e sairmos vitoriosos na luta pelo socialismo, precisamos, em primeiro lugar, ter consciência e acumular forças”, norteou o dirigente. “O primeiro passo é mantermos o país sob o comando de um trabalhador”, referindo à disputa eleitoral de 2010. “Se caso a oposição conservadora sair vitoriosa desse pleito, voltaremos às privatizações e ao processo de entrega de todas as nossas riquezas à elite internacional”. Para que isso não aconteça, precisamos fortalecer o PCdoB. “Enquanto formos pequenos, a propaganda deles, embora mentirosa, vencerá”. “As nossas idéias têm de ser contadas por muito mais gente”. “Precisamos propagar nossas convicções na vizinhança, por meio de bate-papo com os amigos no trabalho e na escola, entre os nossos familiares”, incentivou e concluiu Velozo.

Novamente com a palavra, Zé Carlos Negrão solicitou que todos, conforme a sua realidade, agregasse o partido em suas vidas. “São as nossas idéias e ações que nos diferenciam dos demais militantes que atuam no sindicato”, ressaltou. “Não são todas as pessoas que se propõem a participar de uma reunião como essa, numa ensolarada manhã de sábado, para discutir um projeto político, um projeto de desenvolvimento para o Brasil. A maioria está interessada em resolver seus problemas pessoais”. “Precisamos formar um exército forte e consciente”, reforçou o dirigente sindical. Do encontro participaram motoristas, cobradores, fiscais, eletricistas, mecânicos, funileiros e demais trabalhadores do setor da manutenção.

Depois da intervenção de vários dirigentes do partido e da categoria, foram encaminhados distintos questionamentos ao palestrante. Em especial, indagou-se sobre as denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney. “Somos favoráveis à apuração dos fatos e à punição dos responsáveis”, anunciou. “Defendemos que as coisas na Câmara e no Senado transcorram com moralidade”, ressaltou, lembrando-se de que no período em que o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB/SP) presidiu a Câmara, foram demitidos mais de mil funcionários, indicados por parlamentares; o que causou certo desconforto na Casa. “Não somos inocentes; sabemos muito bem que atrás das denúncias está a intenção de se colocar no cargo o vice-presidente do Senado, que é do PSDB”, esclareceu Velozo. Só assim a oposição conservadora conseguirá travar a votação de projetos importantes de autoria do Executivo. O objetivo é enfraquecer o governo Lula para o pleito de 2010. Sobre a suposta saída da ex-senadora Marina da Silva do PT para disputar a presidência pelo PV, o dirigente esclareceu que, neste caso, a pretensão implícita é a de dividir a esquerda.

No final da plenária, além de eleger a nova direção das duas garagens, indicou-se os nomes dos delegados à conferência municipal. Nesta ocasião serão aprofundados os debates acerca do projeto de desenvolvimento para o Brasil e as mudanças propostas no programa socialista.

Sob nova direção

Desde sábado, a direção da VIP AE Carvalho passou a ser composta pelos camaradas: Olivar Irapuam da Silva, Amauri Magalhães Goes, Reginaldo Gomes da Silva, Antonio Hildo da Silva (Tonhão), Jonas Caldas de Oliveira, Gilmar Silva Costa, Luciula Cruz Sales, Milton Genuíno da Silva e Francisco das Chagas da Silva (Zeronóia). Os delegados indicados à conferência municipal foram: Neleu Alves, Olivar, Reginaldo, Amauri, Jonas e Luciula (titulares); Luciano de Jesus Lima (Bilu) e Francisco das Chagas (suplentes).

Já a nova direção da VIP Imperador, antiga Talgo, foi formada por: Edson de Oliveira da Silva (Paraná), Ademir de Oliveira, Wellington de Jesus Brito (Papalégua), José Pinheiro Silva, Cristiano e Francisco Pereira dos Santos (Bola). O delegado titular indicado para acompanhar as discussões foi o Paraná. O camarada Pinheiro foi indicado como seu suplente. O encontro foi finalizado com a tradicional confraternização da categoria: churrasco com cerveja.

De São Paulo,
Alice Cardoso