Tota: Se essa rua fosse minha, eu mandava Graffitar

Por: Beto Teoria

H2Lápis: Porque o grafitti é considerado uma arte urbana?
TOTA; Na minha opinião a definição da arte em si tem uma ligação com uma expressão racional é uma ferramenta que serve para comunicar e transferir um sentimento que quando se dá notoriedade pra aquilo você convida outras pessoas pra compartilhar daquele sentimento, no começo a gente fazia graffiti e nem sabia direito o que era aquilo, então o Graffiti vem a ser arte urbana a partir do momento que você sabe o que ta fazendo e sabe que aquilo é uma ferramenta de comunicação, e de comunicação com o povo, a partir daí você pode definir com arte e como urbana.

H2Lápis: Durante este seu trajeto no trabalho com o graffiti, o que mudou da época que você começou ate a época atual, tanto na vida pessoal quanto na profissional?
TOTA; O meu amadurecimento principal na vida se dá a partir da minha família, do momento em que eu fui pai, porque ali eu comecei a ver a vida de uma outra forma e assim eu passei a ver o graffiti de uma outra forma também porque a partir dali e fiz do graffiti uma ação mais profissional, no inicio era você, a tinta e o muro, mais como um hobby apenas e quando se enxerga as coisas num outro ângulo mais profissional, onde você se preocupa como vai ficar a letra, a cor, se vai agradar o cliente, você também começa a ver uma evolução no trabalho que se desenvolve, tudo passa a ser importante, a forma de contato social que você tem, o que você vai falar, como você vai vender seu trampo e assim com este contato físico, mais humano mesmo e assim você amadurece e começa também a olhar mais de igual para igual, de cabeça erguida pra pessoas.

H2Lápis: Para seu bom desempenho profissional você busca algum estudo, algum conhecimento diferenciado?
TOTA; Eu sou um cara que to sempre com um olhar pra arte de uma forma geral, não só pro graffiti, e apesar de parecer uma coisa obvia ou ate ingenuidade pra mim o contato humano social e o que mais ajuda no crescimento para o desempenho profissional, o artista tem que ta onde o povo está, às vezes uma conversa, uma historia, um acontecimento ali do dia a dia te inspira a criar um trabalho, alem disso tem os diversos cursos que eu faço, daqui uns dias vou fazer um sobre a nova ortografia, ai de repente se pergunta o que a língua portuguesa tem a ver com isso? Tem tudo a ver, serve de base quando eu escrevo um projeto ajuda no que eu to apresentando, no que eu to propondo, então tem que se ligar em tudo isso ai.

H2Lápis: Já houve comparações de alguns graffiti’s com trabalhos de mestres da pintura, da pra dizer que tem traços ou tendências parecidas mesmo?
TOTA; Sim, Acho que na onda tridimensional que o graffiti teve mais nos final dos anos 90 pode se comparar a trabalhos na linha de um Salvador Dali, hoje acho que ta mais Picaso acho que pela tendência meio abstrata e tem muita gente pintando na rua assim, mas esta influencia às vezes é até inconsciente, pois o cara nem sabe quem foi estes artistas, as vezes vem inspiração de alguma imagem que ele viu e tal e nem sabe de que quem que era. No inicio dos anos 80 predominava mais as cores fortes, traços grossos num tinha muita técnica, acho até que era pro graffiti se sobressair numa cidade meio caótica.

H2Lápis: Você participa e já participou de projetos tanto da iniciativa pública quanto privada, qual a importância deles na sua opinião?
TOTA; Creio que tanto a iniciativa publica quanto à privada tem que fazer a sua parte, num tem “bonzinho”, ta fazendo porque tem que fazer mesmo, e a comunidade têm que ser valorizada como parte de uma sociedade que precisa andar numa mesma sintonia, e com estes projetos você consegue conversar com a comunidade de uma forma que o graffiti faz, que de uma outra forma não seria possível. Eu através do graffiti, consigo falar com pessoas, com os jovens sobre temas diversos e estes assuntos abortados, sobre o cotidiano delas, a sintonia com a realidade social faz com que essas pessoas se tornem mais parceiros, aumenta a auto-estima delas, e esta troca social humana faz com que eu aprenda muito também, eu já ate usei coisas que aprendi com alunos, parceiros da comunidade e tal na minha própria casa.

H2Lápis: Você é membro da Zulu Nation e também da Nação Hip Hop Brasil, porque estas organizações são importantes pra você?
TOTA; Eu vejo que são e sempre serão facilitadoras, por exemplo, em Diadema chegou um tempo que a gente não podia mais ser contratados como pessoa física foi daí que surgiu a necessidade de criar de forma Jurídica a Zulu Nation, para termos uma representação legitima, e desta forma você passa a ter um “chefe” mas um chefe que é seu amigo, porque a empresa tradicional é feita de escravos e senhor de engenho, e as ong’s, as associações elas conseguem entender melhor as comunidades e assim facilita as coisas, ela não vai exigir boa aparência pra você ela vai ta mais preocupada com o seu potencial, sua capacidade, ou se um aluno faz um curso na ong, e surge algum trampo naquela área que ele estudou o curso o pessoal liga da um toque e tal, as empresas num fazem isso, por exemplo.

H2Lápis: Você conseguiu alguns apoios públicos para seus projetos, via editais como o VAI e o PROAC, como foi buscar estes apoios?
TOTA; Nos tentamos o tempo todo ser cidadãos, mas por enquanto ser cidadão tá só no papel, chegaremos lá se Deus quiser, mas pra isso, temos que buscar estes espaços mesmos, porque estes espaços são nossos por direito, o hip hop precisa ver isto com bons olhos, às vezes se fica criando impedimentos desnecessários, que chega uma hora que se vê a própria sombra como inimiga, e ela não é sua inimiga ela faz parte de você, então fica generalizando num dá, tem que fazer as coisa de uma forma moderada que com certeza será valida.

H2Lápis: Quais os trabalhos ou projetos recentes que você fez ou está desenvolvendo agora?
TOTA; Eu faço parte de um coletivo que se chama 5 Zonas, fazem parte Eu, o Eve14, Hope, Sow e Credo, com este coletivo nos conseguimos apoios de programas importantes como o PROAC e o VAI, que ajudaram a fomentar ações e projetos como; “Se Essa Rua Fosse Minha eu Mandava Graffitar” um projeto meu transforma uma rua aqui no Centreville em Santo André numa galeria a céu aberto, Rua no Ateliê; onde através de parceiros e apoios a idéia e dar aula gratuitamente, Graffiti Poético; que é dedicado a integração de dois tipos de arte (Literatura e Graffiti). Nos tivemos ações ousadas eu diria como um premio na Av. dos Metalúrgicos na Zona Leste onde grafitamos um prédio que segundo minhas pesquisas no Brasil não existia e pretendemos pra 2010 fazer um prédio ainda maior.

H2Lápis: Pra quem ta começando no hip hop ou deseja se iniciar no graffiti, que conselho você daria?
TOTA; Pra que ta chegando agora ver se o cara que ele tem como espelho é um cara verdadeiro mesmo, se é um cara serio, e pra isso dou uma dica veja se este cara que ta próximo de você é um cara família, se faz de verdade aquilo que fala no palco. E acima de tudo acreditar em Deus, levar a serio o que ele gosta porque às vezes as pessoas num bota fé naquilo que você faz então tem que ser guerreiro mesmo, e tem quem estudar mesmo velho, chega de apologia de que num precisa de estudo, que ser feio é bonito, isto tudo ai é balela, porque ai fora só se mostra o bonitinho e o perfeito, tem que estudar mesmo e valorizar a família, tem que buscar ser um exemplo pras pessoas, só falar num é importante tem fazer acontecer, valorizar as pessoas, as crianças porque elas vão se espelhar em você, outro dia no jantar fiz um gesto de propósito perto do meu filho e reparei que ele fez igualzinho a mim, ele me copia em tudo, então essa coisa de “Faça o que falo e não faça o que Faço” é balela também, porque o cara faz aquilo que você faz mesmo e acabou, não é o que você ta falando, a sua ação é mais importante.

Para conhecer melhor o trabalho do Tota acesse;
http://www.5zonas.com.br/