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Candidatura Palocci enfrenta resistência de setores do PT

Independentemente da absolvição obtida no Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro Antonio Palocci enfrenta a resistência de setores do PT à sua pretensão de candidatar-se ao governo de São Paulo em 2010. A viabilidade política de Palocci, na avaliação de petistas ouvidos pelo Valor, está vinculada à intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazê-lo candidato.

Dentro do diretório paulista há uma certeza, segundo dirigentes de diferentes correntes internas: uma eventual candidatura de Palocci é melhor do que o lançamento de um candidato de fora do PT, como o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). "Mas contra Palocci há muitas restrições. Seria uma campanha com ´freio de mão puxado´: ele precisará se explicar durante todo o tempo sobre as denúncias, ainda que seja absolvido", comentou Renato Simões, ligado à chamada esquerda do PT integrante da Executiva Nacional do partido. "Ele é o que tem menos potencial de empolgar a militância", afirmou.

A resistência a Palocci, entretanto, não vem só da esquerda partidária. "O ex-ministro tem uma visão mais parecida com a do PSDB. Pode ser bom para conquistar a classe média de São Paulo, mas é ruim para o PT", comentou um dirigente ligado ao Campo Majoritário do partido.

No PT, circulam duas pesquisas: uma quantitativa, feita em maio, e uma qualitativa, realizada no fim de junho. Na sondagem de intenção de votos, realizada há três meses, Palocci aparece com cerca de 5% das intenções, atrás da ex-prefeita Marta Suplicy e do senador Aloizio Mercadante, que oscilam entre 18% e 22%, de acordo com os cenários apresentados aos pesquisados. "Mas não se pode levar só isso em conta", alertou o presidente do diretório estadual, o prefeito Edinho Silva. "A qualitativa indica resistência ao caso que está sendo julgado pelo Supremo, envolvendo Palocci. Ele será absolvido e isso será superado", disse Edinho na quinta (27), enquanto os ministros do STF ainda julgavam o caso. "Nós teremos candidato próprio, mas não deixaremos de falar com aliados", afirmou.

Dirigentes do partido ligados a Marta Suplicy dizem que a ex-prefeita não pretende concorrer novamente ao Estado e que apoiaria Palocci. "Se ele confirmar a candidatura, os outros retirarão seus nomes", considerou o deputado Carlos Zarattini, ex-secretário de Marta. Para o vereador Antonio Donato, também ex-secretário de Marta Suplicy na prefeitura paulistana, "a resistência no partido é mais das alas de esquerda". "Mas isso não quer dizer que ele será o candidato", comentou.

Os apoiadores da candidatura de Emídio de Souza, prefeito de Osasco, pretendem insistir na candidatura dele, mas declaram que apoiariam Palocci se o presidente Lula o definir candidato ao governo paulista.

Para o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, é prematura lançar a candidatura de Palocci. "Temos outros nomes e o candidato só será definido no próximo ano. Temos que dialogar com os partidos aliados."

Além de Palocci e Emídio, são cotados para concorrer ao governo de São Paulo Marta Suplicy, Aloizio Mercadante, e o ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Fora do PT, o partido apoiaria o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) e o prefeito de Campinas, Dr. Helio (PDT)

Entretanto, para o presidente do PSB-SP, deputado federal Márcio França, a candidatura Ciro só avançaria sobre a eventual candidatura Palocci se o avalista da ideia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, levar o projeto adiante ou retirá-lo para colocar o nome de Palocci em jogo.

"A candidatura Ciro em SP está acima de uma decisão do Palocci. Está com o Lula. Se Lula entender que é melhor ser o Ciro, Palocci não será candidato", disse.

Ele afirma que o projeto do partido é que Ciro Gomes seja candidato a presidente e, assim, caberia a Lula e ao PT demovê-lo disso: "Se o PT acha que vale essa tese do Lula de uma candidatura do governo contra a oposição, nós achamos que vale nossa tese, de duas candidaturas governistas contra uma da oposição. Para tirar o Ciro da disputa nacional, é o PT que tem que convencê-lo. Ciro não vai fazer nenhum esforço para tentar competir em São Paulo".

Cristiane Agostine e Caio Junqueira do Valor Econômico