O contraste entre o novo e o velho
Inaugurada em 1986, como uma concepção inovadora de moradia popular, a Quadra Lúcio Costa completa 23 anos em agosto muito diferente da forma e dos objetivos como foi concebida pelo arquiteto Lúcio Costa e o então governador do Distrito Federal José Aparecido de Oliveira. O cenário é de contraste entre o velho e o novo.
Publicado 28/08/2009 16:19 | Editado 04/03/2020 16:42
A idéia de criar uma quadra que abrigasse servidores públicos de baixa renda surgiu na gestão do ex-governador, considerado um intelectual. Ao mesmo tempo, Aparecido buscava uma forma de homenagear e ajudar o amigo Lúcio Costa, o arquiteto responsável pelo projeto de Brasília.
Os primeiros 400 apartamentos eram simples e o banheiro era coletivo. A intenção era criar uma situação de comunidade. Essa concepção comunista foi totalmente modificada nesses 23 anos.
Hoje a quadra Lúcio Costa abriga, em sua maioria, moradores de classe média. Não resta quase nada do projeto inicial. Os apartamentos foram reformados e o individualismo típico do sistema capitalista tomou o lugar da imagem revolucionária.
Em 1999, uma nova ideia prometia mudar a quadra. Era criada a Vila Tecnológica. O projeto visava a criação de casas sustentáveis com baixo custo. As moradias seriam destinadas a servidores do GDF, em sua maioria policiais. Os materiais utilizados eram ao mesmo tempo curiosos e inovadores.
A base era a única parte de concreto, o resto da construção era feita de entulhos de construções, resíduos plásticos, bloco de concreto celular e isopor. Atualmente, a vila parece um conjunto habitacional comum. A grande maioria das casas foi reformada de modo convencional. E mais uma vez acontece uma distorção do que seria uma quadra modelo.
Transformação
Desde a inauguração da quadra muitos problemas surgiram e foram resolvidos, outros esperam uma solução. Os moradores não reclamam da violência. “São apenas casos isolados”, avalia a servidora pública Ana Alves. O transporte público apresenta problemas.
“Estamos precisando muito de paradas de ônibus aqui”, pede a professora Margareth Neves. Ela reclama também do serviço prestado pela empresa Viva Brasília. “Eles atendem muito mal. Hoje, meu filho teve de ir de bicicleta buscar minha outra filha porque o ônibus não parou”, completa.
A quadra Lúcio Costa já foi chamada de Guaraville, numa jogada de marketing das construtoras de renomear a parte nova da quadra. O apelido não pegou. Mas não foi só o nome que ganhou alterações.
A quadra conta com projetos sociais que atingem todas as idades. Os moradores caracterizam a quadra como aconchegante e tranquila. E a localização privilegiada é apontada como um dos maiores benefícios do setor.
Estrutura
A quadra dispõe de alguns parquinhos e quadras poliesportivas para a diversão dos mais jovens e também de um projeto de Ginástica nas Quadras. Oferece também o projeto DF Digital, da Secretaria de Ciência e Tecnologia. O programa atende 324 alunos dentre eles 36 são da terceira idade.
A quadra conta também com uma creche que atende mães de baixa renda que precisam trabalhar e não tem onde deixar os filhos.
Com a construção da Linha Verde (EPTG) a pista de caminhada utilizada pelos moradores da quadra Lúcio Costa foi destruída para dar lugar ao progresso. Os moradores reclamam, mas esperam que nova pista seja construida. “Antes eu tinha um local certo para me exercitar, agora tenho que andar em meio aos carros” , diz Simone Carvalho.
O presidente da Associação de Moradores, Edgar Garcia Lima sugere a construção de uma nova pista de caminhada na Reserva Ecológica do Parque do Guará. “A reserva só serve para o usufruto daquelas pessoas que não se importam com a causa. O lugar virou esconderijo de marginal, espaço para uso de entorpecentes e depósito de lixo”, afirma.
A construção de um salão de múltiplas funções pode diminuir o problema da falta de uma biblioteca na quadra. O espaço terá um lugar para estudo, alguns livros e um salão. As obras já estão em andamento, mas não há previsão para a inauguração.
A imagem da quadra Lúcio Costa amadureceu. As ideias lançadas no lugar não deram certo. A quadra tomou seus próprios rumos e hoje veste uma forma totalmente diferente daquela idealizada pelos seus criadores.
Fonte: Jornal do Guará