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Ossadas de 92 camponeses assassinados percorrem o Peru

Uma caravana macabra, tendo como centro 92 alvos caixões, com os restos de camponeses mortos por militares peruanos em 1984, saiu neste sábado (29) de Putis. Eles serão sepultados depois de terem sido recuperados de uma vala comum em 2008.

Putis é uma comunidade rural pobre, nas montanhas de Ayacucho, no sul do Peru. Lai, em 13 de dezembro de 1984, foram eliminadas mais de cem pessoas, por soldados do Exército, que os enterraram em uma vala comum, descoberta em 2008.

Os camponeses enganados no momento do crime: ordenaram que cavassem um buraco na terra, a pretexto de construir um cultivo de peixes; depois foram mortos e enterrados na mesma fossa que tinham cavado, como foi apurado pelas investigações.

A indignação e o clamor por justiça dominam a passagem da caravana pelos povoados andinos. Até hoje ninguém foi punido pelo assassinato, apesar de uma Comissão da Verdade sobre a guerra interna no Peru (1980 — 2000) ter apontado sua autoria.

"É inaceitável que nem uma única pessoa tenha sido punida por esses crimes. O Estado tem a obrigação incontornável de provar que é capaz de fazer justiça", disse a procuradora Beatriz Merino. Para ela, o Estado tem a obrigação de "identificar e punir os responsáveis para que estes graves apisódios jamais se repitam em nossa história", disse ela.

Em Putis, uma remota comarca dos Andes, a mais de 3.500 metros de altitude, completamente isolada da rede de telecomunicações, as famílias das vítimas farão uma cerimônia antes do sepultamento.

A Procuradoria peruana não conseguiu conduzir os acusados pelo crime aos tribunais, devido à má vontade do Ministério da Defesa, conforme afirmaram procuradores e defensores dos direitos humanos.

"Não se pode julgar o caso porque a acusação não tem os nomes dos participantes das patrulhas militares (que incursionaram por Putis) ou dos seus chefes", disse a advogada Gloria Cano neste sábado.

O funeral será ao fim da caravana, que começou em Ayacucho na quinta-feira. Ali os restos das vítimas foram devolvidos às suas famílias, sendo homenageados nesta cidade e a seguir em Huanta, antes de partir para Putis.

Dos 92 corpos encontrados, 20 eram mulheres e 48 menores de idade, entre eles 38 crianças com menos de 10 anos, informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Os familiares só puderam reconhecer 28 vítimas. As 64 famílias restantes tiveram de resignar-se a receber os ossadas anônimas.

O início da caravana coincide com o sexto aniversário do relatório da Comissão da Verdade, que responsabilizou a guerrilha maoísta Sendero Luminoso por atos de crueldade e morte de civis, mas acusou igualmente os militares por violações sistemáticas dos direitos humanos.

Antero Flores-Araoz, ex-ministro da Defesa no primeiro governo do presidente Alan García, criticou a Comissão, dizendo que ela permitiu que se iniciasse "injustificadamente muitas ações contra militares que expuseram a vida para libertar o país do terrorismo."

Com informações do diário mexicano La Jornada