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Zequinha Sarney: Marina tira mais votos de Serra

O deputado Zequinha Sarney (PV-MA) lidera a bancada verde na Câmara Federal e está entusiasmado com a chegada da senadora Marina Silva (AC) ao Partido Verde, oficializada neste domingo (30). Zequinha Sarney avalia, em conversa com Terra Magazine, que a candidatura da senadora, ao contrário do que tem sido aventado por analistas políticos, vai retirar mais votos do governador José Serra do que da ministra Dilma Rousseff – ambos prováveis candidatos ao Planalto em 2010.

Ex-ministro do Meio Ambiente no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o deputado Sarney Filho, o Zequinha, relata a "simpatia" do escritor Paulo Coelho em "entrar no partido e ajudar Marina". Seu ex-colega de ministério no governo FHC, José Viegas Filho (Defesa) confirmou adesão ao PV, como o escritor Augusto Cury. Quem ainda está no âmbito estadual de conversas com os verdes é Gabriel Chalita (PSDB-SP), vereador tucano mais bem votado no País nas últimas eleições. Movimentos de filiação inciados com a onda provocada por Marina.

Segundo o deputado, a presença da Marina (na corrida presidencial de 2010) não afeta somente a candidatura da Dilma, afeta também a candidatura do Serra. "Acho que o eleitorado do Serra será o eleitorado mais sensível a esse discurso da Marina", diz Zequinha.

O vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, um dos articuladores da filiação de Marina ao partido, também aposta numa divisão de votos. “Ela vai tirar votos do PT e do PSDB. Vai tirar do PT porque ela é mulher e originária deste partido e vai tirar votos do PSDB porque tem a simpatia da classe média do Centro-Sul”, disse Sirkis à imprensa.

Para Zequinha, "o que a entrada da Marina vai dar é uma dimensão ao que nós já fazemos". "Já consegui perceber, todos do Partido Verde conseguimos perceber que a entrada da Marina está criando um movimento de personalidades, principalmente desse setor ambiental, de entrar no partido", constata Sarney Filho.

É ela, Marina, a prioridade do partido a partir de sua filiação. Se Marina quiser, os verdes "tomarão uma posição de independência em relação ao governo", desde que, salienta o líder, os 14 deputados da bancada concordem.

A crise no Senado, protagonizada por seu pai, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), atingiu o próprio Zequinha. Segundo o jornal Estado de S. Paulo, Sarney Filho não teria registrado propriedade de um apartamento nos Jardins, em São Paulo, em seu nome, sonegando patrimônio. Sarney Filho afirma que o apartamento está declarado em seu imposto de renda. "Acho que ter o sobrenome, julgado pelo sobrenome ou questionado pelo sobrenome é uma questão ultrapassada", afirma o deputado. Ele não fala sobre o assunto, que, justifica, não abrange sua área de atuação.

Afirma possuir distanciamento ideológico de seu pai, bem como de sua irmã, Roseana Sarney (PMDB-MA), governadora do Maranhão. "Eu mantenho minhas posições. Ele (pai Sarney) sempre respeitou minhas posições, como eu sempre respeitei as dele". A irmã, diz, "tem as posições dela, mas são muito parecidas com as dele (pai Sarney)".

Leia na íntegra a entrevista com o líder do PV na Câmara, Zequinha Sarney.

O que representa para o PV a filiação da senadora Marina Silva (AC)?
Sarney Filho – A vinda da senadora Marina ao Partido Verde, antes de tudo, representa a presença de uma forte expressão do segmento, do setor de desenvolvimento sustentável, pelo peso da sua liderança, não só dentro do Brasil, mas no mundo todo. Vai fazer com que o partido tenha um crescimento grande, consolide e atualize seus programas e seus estatutos.

O ingresso da senadora Marina Silva no PV e sua provável candidatura à presidência interfere na candidatura da ministra Dilma?
Uma candidatura da Marina significa que vai ser colocada com ênfase a discussão sobre a sustentabilidade na sucessão residencial. E com isso a nova economia de baixo consumo de carbono, que é a grande discussão no mundo hoje. Aqui no Brasil, até então, essa discussão estava sendo omitida, escanteada. Não estava havendo uma discussão desse nível. A própria presença da Marina na sucessão já significa que esse tema será relevante na campanha. E esse não é um tema monotemático, porque o tema de uma nova economia, de baixo consumo de carbono, combate ao aquecimento global, são temas que envolvem uma ampla agenda, urbana, rural, as agendas ambientais verde, azul, marrom… São coisas que envolvem o dia-a-dia dos cidadãos.

Em relação à disputa propriamente dita com a ministra Dilma, Marina vai tirar votos?
É complicado, porque o clima da Marina é muito caro às classes mais esclarecidas, com nível de educação maior. Então, em geral, principalmente no Sudeste, onde está a grande concentração de eleitores do Brasil, esses votos não iriam para o Lula nem para a Dilma. Iriam para o PSDB. Portanto, eu não acho que a presença da Marina (na corrida presidencial de 2010) não afeta somente a candidatura da Dilma, afeta também a candidatura do Serra.

Não somente, mas sobretudo a candidatura de Serra?
Sobretudo a longo prazo, sim. Agora, a curto prazo, há essa dicotomia: saiu do PT e tudo. Mas a longo prazo, acho que o eleitorado do Serra será o eleitorado mais sensível a esse discurso da Marina.

Já há um cálculo de quantas pessoas vão com a ministra Marina para o PV?
Não sei, mas ela nunca se referiu a isso. Acho que não existe esse cálculo.

Mas já conseguiu perceber um impacto no número de filiados?
Já consegui perceber, todos do Partido Verde conseguimos perceber que a entrada da Marina está criando um movimento de personalidades, principalmente desse setor ambiental, do desenvolvimento sustentável, que estão conversando a possibilidade de entrar no partido.

Por exemplo?
Não queria citar exemplos, mas queria citar setores. Pessoas e cientistas importantes da área da sustentabilidade estão fazendo esse movimento. Alguns já estão confirmados, como o Zé Viegas (José Viegas Filho, ex-ministro da Defesa de FHC), alguns membros de organizações não governamentais, já que as organizações não podem tomar partido político, eles pessoalmente vão entrar em grupo grande. Não quero me antecipar antes de eles decidirem.

Alguns nomes estão sendo levantados pelo partido, o escritor Augusto Cury, que já foi confirmado, o vereador mais votado no país em 2008 Gabriel Chalita (PSDB-SP), o escritor Paulo Coelho…
Chalita não vi ninguém do partido (falar), não chegou ao nível nacional, está no nível estadual. Os dois outros sim. Paulo Coelho e Augusto Cury. O Zé Viegas. Esses já estão a nível nacional.

Paulo Coelho deu resposta?
Vai ser procurado, ainda não deu resposta, mas segundo informações que tivemos, que foram repassadas para o partido, estava muito simpático a entrar no partido e ajudar a Marina.

O senador Flávio Arns (sem partido-PR) disse que tinha gostado do convite.
Não é uma prioridade do partido ir buscar pessoas. O partido está aberto a que as pessoas se unam a esse ideário, a isso que a Marina vai representar, ao que nós já representamos. Não é da nossa cultura partidária ficar atrás das pessoas. É um movimento natural e espontâneo. Não há uma sistematização, uma política do partido. O que há é assim: Fulano de tal mandou recado dizendo que gostou da candidatura de Marina, ou que quer se filiar ao partido, porque acha que é o melhor partido. Aí tá, vamos atrás. Não é uma coisa programada.

O PV no Brasil é, diferentemente de outros países como França ou Alemanha, não é homogêneo ou reconhecido por levantar bandeiras ambientalistas. O senhor acha que a entrada da Marina vai forçar uma mudança programática?
Não, no Congresso nós somos um partido altamente reconhecido e as entidades ambientalistas também reconhecem isso. Não é conhecido pelo grande público, mas aqui no Congresso todas as votações de cunho ambiental, todas as posturas, e não só eu, que sou ambientalista conhecido, a Marina, o Gabeira (Fernando Gabeira, deputado federal pelo PV-RJ), mas toda bancada tem votado uniformemente. Tanto que nós somos os interlocutores da sociedade civil nesses assuntos. O que a entrada da Marina vai dar é uma dimensão ao que nós já fazemos. Outra coisa, vai apressar a consolidação da atualização do estatuto. Porque a discussão que se dá hoje no mundo em torno do aquecimento global cita coisas muito novas e o estatuto já está um pouco defasado. Essa atualização é necessária e a vinda da Marina ajuda.

Como vê a permanência do PV no governo, após a saída do ministro Gilberto Gil, com o atual ministro da Cultura, Juca Ferreira?
Na atual situação, a prioridade nossa é a Marina. Provavelmente, já que a Marina saiu do PT, vamos discutir com ela qual a postura a ser tomada no âmbito de apoio ou não ao governo. Bem verdade que nós, na legislatura passada, nós no começo apoiamos o governo, e depois ficamos em uma posição de independência. E essa posição de independência não necessariamente é uma posição de oposição ao governo.

É possível que a gente tome uma posição de independência se for importante essa sinalização e se a bancada – temos uma bancada de 14 deputados – achar comum o que discutimos com a Marina. A gente pode sim tomar essa atitude. Não tomamos ainda.

Com Juca Ferreira, o PV está bem representado no governo?
O partido nunca reivindicou uma participação, a não ser em políticas, principalmente nessa área ambiental. O Juca Ferreira é um militante antigo do partido, mas ultimamente ele está em minoria no partido. A chapa que ele concorreu dentro do partido perdeu. Ele já era secretário executivo do Gil, é lógico que quando o presidente Lula vislumbrou a possibilidade de colocá-lo como ministro, nós demos o apoio. Mas não foi uma indicação do partido. O partido só não fez desaprovar a escolha do presidente.

Como vê a atuação do ministro Carlos Minc (Meio Ambiente)?
Entre coisas positivas e negativas, acho que o saldo é positivo de sua gestão. O ministro Carlos Minc tem tentado, apesar de todas as pressões, manter a política que a Marina consolidou, que já era uma política antiga. Os resultados estão saindo agora. No global, no geral, ele tem mantido as posições principais, especialmente no que diz respeito à agenda verde, ao desmatamento e também à vertente de comando e controle. Agora nós precisamos avançar.

O que seria vertente de comando e controle?
Vertente de comando e controle é a vertente do poder de polícia, das leis. Essa vertente dentro da luta ambiental é importante, mas mais importante é a vertente da gente dar valor econômico ao bem ambiental e desenvolvimento econômico sócio-ambiental sustentável. Um exemplo: você ao invés de ter somente leis proibindo, você ter incentivos econômicos. Preço mínimo do extrativismo, por exemplo. Qual a vantagem? Ajuda a manter a árvore que está se extraindo em pé. Por quê? Porque o preço é justo. Garante a safra. É alternativa de desenvolvimento. Nós entendemos que o bioma amazônico, dentro dessa nova economia, isso o ministro Minc entende também, é um diferencial importante a favor do Brasil. Não há dúvida de que a floresta em pé, mecanismos como o Redd (Redução de Emissões para o Desmatamento e Degradação) vão ganhar importância. E o pagamento pelos serviços ambientais não vai demorar a ser colocado pela comunidade internacional porque é uma necessidade do mundo. Acho que dentro disso a vertente de desenvolvimento, valorar economicamente o bem ambiental, as ações ambientais, é importante.

O grande saldo da atuação do ministro Carlos Minc frente à pasta do Meio Ambiente é a consolidação da política que a ministra Marina Silva havia implantado?
Não. Vem de uma política mais antiga. A Marina consolidou algumas políticas antigas e o Minc deu continuidade a elas. São políticas bem consistentes que vêm desde a época do governo Fernando Henrique (Cardoso, 1995-2002).

Uma pergunta inevitável: após os arquivamentos, percebe-se que a crise no Senado ainda não foi resolvida. O senhor acha que seu pai, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se explicou satisfatoriamente?
Sou do tipo que não respondo pelo meu pai. Acho que ter o sobrenome, ser julgado pelo sobrenome ou questionado pelo sobrenome é uma questão ultrapassada. Não vou falar sobre isso. Só falo sobre a área da minha atuação.

Como é para o senhor ser de um partido diferente de seu pai e sua irmã, Roseana Sarney governadora do Maranhão (PMDB-MA)? Vê como distanciamento ideológico?
Lógico. Existe, todo mundo que conhece minha atuação sabe que existe. Eu mantenho minhas posições. Sempre mantive. Por exemplo, quando eu era deputado aqui (federal), ocorreram as Diretas-Já (1983-84), eu votei a favor. Votei a favor da reforma agrária na Constituinte. Ele (José Sarney) sempre respeitou minhas posições, como eu sempre respeitei as dele.

E sua irmã?
Ela tem as posições dela, mas são muito parecidas com as dele (pai Sarney).

Fonte: Terra Magazine