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Emerson Leal: A mídia e as bases dos EUA na Colômbia

El País é o principal jornal da Espanha. Algo assim como o Estadão ou a Folha de S. Paulo. É o jornal da elite dominante espanhola. Para variar, conservador e de direita também. No seu número de 03/08 traz duas matérias sobre a segunda fase do Plano Colômbia e as bases militares que os EUA vão instalar no país. Até aí, ‘tudo bem’. O impressionante é que um jornal do peso do El País analisa o problema única e exclusivamente pela ótica do governo colombiano e do Departamento de Estado americano.

Ou seja, é parcial e, portanto, não informa de fato. O jornal, pura e simplesmente, não expressa o ponto de vista da oposição ao presidente narcoterrorista Álvaro Uribe.

por EMERSON LEAL*

El País, por exemplo, não comenta o posicionamento da coligação de centro-esquerda liderada pelo senador Gustavo Petro, orador de peso que não tem medo de, em seus discursos, chamar Uribe de “terrorista de paletó e gravata”. El País não diz nada também sobre outro político colombiano de destaque – Rafael Pardo – que, ao criticar seu presidente no jornal El Espectador, se expressou assim sobre o problema: “As bases americanas podem ser interpretadas como ato hostil a países vizinhos”; e faz silêncio absoluto sobre as posições da senadora Piedad Córdoba que denuncia organizações paramilitares que, sob a proteção de Uribe, já assassinaram e desapareceram com centenas de dirigentes sindicais e militantes de esquerda na Colômbia.

El País supervalorizou a (des)informação de Uribe sobre as armas suecas ‘ultramodernas’ que o presidente Chávez teria repassado aos guerrilheiros das Farc. Tão ‘modernas’ que, há quase vinte anos atrás, quando elas foram vendidas ao então presidente venezuelano, já eram consideradas obsoletas na Suécia. El País não se deu sequer ao trabalho de publicar a versão de Chávez sobre a questão. Por outro lado, modernas mesmo são as armas que os EUA colocam à disposição de Uribe: são mais de US$ 5 bilhões, nessa segunda fase do Plano, grande parte para o maior exército da América latina – o colombiano.

Mas, não é só o jornalão espanhol que analisa o problema de forma tão parcial. Miriam Leitão, por exemplo, ao comentar a última reunião da Unasul – que Uribe boicotou – tentou justificar a atitude pusilânime do presidente colombiano. Começou por desvalorizar ao máximo o evento dizendo claramente que ele não serviu para nada e que os mandatários maiores da Região perderam seu tempo discutindo problemas ‘sem importância’, como o da instalação das bases. Pode?

A repórter da Globo ‘esquece’ de que a IV Frota norte-americana, cujo alcance chega ao Pré-Sal, foi reativada; que a Venezuela é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e que os EUA assassinaram, direta ou indiretamente, dois milhões de iraquianos em duas invasões para roubar o petróleo do Iraque. Portanto, é imperioso que a Venezuela – que tem um exército inferior ao da Colômbia – se arme para evitar massacres semelhantes. Da mesma forma o Brasil, pois o Pré-Sal já está provocando a cobiça do Tio Sam.

Uribe tenta, agora, jogar na ofensiva. Diz que vai participar da próxima reunião da Unasul na Argentina em 28/08/2009 e que não admite ser questionado sobre as bases. Se o for – diz –, exigirá que se coloque na pauta da reunião três itens: “tráfico ilegal de armas; corrida armamentista na Região e terrorismo”. Tudo de acordo com a cartilha do Departamento de Estado dos EUA.

El País não disse nada também sobre a seguinte questão: o objetivo do Plano Colômbia seria combater as Farc e o tráfico de drogas. O levantamento feito por uma entidade européia independente contraria totalmente as informações de que, em sua primeira fase, o Plano teria sido “um êxito” na questão do tráfico – como afirmam Uribe e o Departamento de Estado norte-americano. Tudo mentira!

Os objetivos, como sempre, são geopolíticos. E Uribe, de ‘poodle’ de Bush que era, continua sendo um eficiente ‘poodle’ do Império Americano.

*Doutor em Física Atômica e Molecular e vice-prefeito de S. Carlos.