CTB participa de coletiva com MST sobre repressão no RS
Fecosul e CTB se uniram ao MST, CUT, Cpers/Sindicato e Pastoral Social, em entrevista coletiva à imprensa, nesta terça-feira (01), em Porto Alegre, para denunciar a política de criminalização dos movimentos sociais exercida pelo governo do Rio Grande do Sul. Os dirigentes relataram os diversos enfrentamentos dos trabalhadores, do campo e da cidade, e a polícia militar do Estado desde 2005.
Publicado 01/09/2009 17:58 | Editado 04/03/2020 17:11

Passando por denúncias de tortura, espancamento, cacetadas, prisões, lesões, ameaças, mortes, até ações na Justiça. Os relatos iniciaram com a morte do sapateiro, Jair da Costa, assassinado em uma mobilização em setembro de 2005, em Sapiranga, na região Metropolitana de Porto Alegre, e finalizou com a morte do sem terra, Elton Brum da Silva, no último dia 21 de agosto em uma desocupação de terra em São Gabriel. Citando também as agressões sofridas pelos comerciários do RS em um ato contra a redução de salários e comissões, em Farroupilha, em 2007.
Os movimentos denunciam que estes acontecimentos fazem parte da política adotada pelo governo Yeda Crusius. Que ao assumir o cargo desmontou a secretaria da reforma agrária e reforçou a secretaria de segurança. Isto aliado ao Ministério Público que declarou que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) deveria ser extinto. E ainda, a promotoria da cidade de São Gabriel que elogiou a atuação da Brigada Militar na ação que resultou na morte do agricultor, como exemplar. Outra questão é que até o momento a Brigada Militar não divulgou o nome do policial que matou o sem terra pelas costas.
Nina Tonin, representante do MST, disse que o que está em disputa na fronteira oeste do Rio Grande do Sul é: plantar eucalipto ou plantar comida. “Ou é feita a reforma agrária e os agricultoras plantam comida ou as terras serão destinadas às multinacionais plantarem eucalipto e sustentarem as fábricas de celulose”, denunciou. Ela acrescentou que não há política de reforma agrária no Brasil. “No país a opção foi pelo agronegócio, o poder judiciário é contra as ocupações e desapropriações, o governo gaúcho tem um papel ainda mais ofensivo: se omite à reforma agrária e ataca os movimentos sociais”, resume.
Segundo Nina, no entender do MST a governadora Yeda deve declarar porque decidiu ocultar o nome do assassino do Elton. “Na hora da desocupação a nossa condição não permitiu ver o que aconteceu. A cavalaria corria no meio dos barracos, as bombas de gás moral eram lançadas, e as cacetadas pegando ao mesmo tempo”, conta. Antes desta ação, já havia acontecido o despejo da ocupação da Prefeitura de São Gabriel, onde 15 pessoas já tinham ficado feridas. A cidade estava em estado de sítio. Passávamos pelas barreiras policiais protegidos com as máscaras de proteção contra a gripe A, senão ia todo mundo preso. Até mesmo quem já está assentado e ia levar comida no acampamento”, relata a líder do MST.
“Esta morte do nosso companheiro revela os dois jeitos de tratar a agricultura. De um lado temos a Expointer (uma das maiores feiras agropecuárias da América Latina, que está acontecendo em Esteio/RS), que mostra a elite do campo, de outro lado discutimos mais uma morte de um integrante do MST”, compara. “Se mata e fica impune está autorizado a continuar matando”, finaliza Nina.
Para o presidente da Fecosul e da CTB/RS, Guiomar Vidor, é preciso exigir dos órgãos públicos a divulgação do nome de quem matou o companheiro Elton e a punição de todos os envolvidos, a começar pelos comandantes da operação. Ele também disse que a sociedade civil deve ser envolvida nestas questões. “Porque as mobilizações tanto dos trabalhadores da cidade como do campo, são em busca de melhores condições de vida para as pessoas e de uma sociedade mais justa”, declara o líder sindical.
Vidor também defendeu o fim dos tribunais militares. “É um tribunal onde os policiais são julgados por eles mesmos. Isto tem que acabar porque é um instrumento de defesa da corporação. Se fossem julgados pela justiça comum certamente seria muito diferente”, acredita o presidente da CTB e Fecosul.
Celso Woyciechowski, presidente da CUT/RS, disse que a morte do sem terra foi um crime social. “Aqui no Estado a luta por justiça social é tratada de forma truculenta e autoritária. E todas as questões que envolvem esta morte devem ser elucidadas”, manifestou.
Para a presidente do Cpers (Sindicato dos Professores), Rejane Oliveira, o fato do Estado e da Brigada Militar não divulgar o nome de quem matou o sem terra é mudar o foco da conjuntura. A dirigente faz uma referência ao processo em que a governadora é indiciada como ré em processo de corrupção.
A representante das pastorais sociais, Clarisse Dal Médico, defende que nenhum setor burguês ou governo pode desmerecer o direito de luta dos trabalhadores pela terra. “A ocupação é legítima porque as pessoas precisam de um lugar para viver. Não podemos esperar que a salvação venha depois da morte, precisamos buscar direito à vida”, declarou.
De Porto Alegre, Márcia Carvalho